quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
Às voltas por Pinho - S. Pedro do Sul
Pinho e Pinhosão na ordem do dia
Na nossa ronda pelas terras deste concelho de S. Pedro do Sul, até por julgarmos que o facto de aqui trazermos a freguesia de Pinho faz cada vez mais sentido por se voltar agora a falar de novo e com acrescida insistência na Barragem de Pinhosão, partimos então para essas paragens.
Quando a trovoada pede que se ergam as nossas preces a Santa Bárbara e os incêndios trágicos e devastadores que se abateram sobre nós na fatídica noite de 15 para 16 de Outubro a isso apelam, ao clamar-se por água, que a seca extrema e severa que vivemos faz pensar em soluções mais estáveis e seguras para o futuro, pensa-se logo em aproveitar o que temos andado a desperdiçar. O Rio Vouga pode trazer aquilo que falta e estas localidades, lá no fundo, no seu leito, têm soluções que devem vir a ser aproveitadas. Disso falaremos em próximos parágrafos.
Esta freguesia, que se estende pelos lugares de Amieiros, Carreira de Pinho, Igreja, Moinhos, Moldes, Mosteirinho, Passareira, Passos, Pinho, Pinhosão, Rendufe e Sobral, tem assim trunfos que não podem ser desperdiçados. A tão propalada Barragem é um deles. Aliás, com a sua população em declínio mais notório desde 2001 até 2011, tudo o que se faça para criar dinâmicas de desenvolvimento por estas zonas tem de ser agarrado com as duas mãos e com todas as forças que possamos ter. Essa é uma missão que cabe a cada um de nós, às autarquias, ao governo central, à União Europeia, porque esta morte agressiva e acentuada do nosso Interior não pode deixar ninguém a assobiar para o lado.
No citado ano de 2011, Pinho ficou, pela primeira, vez abaixo da fasquia de 1864, em que aqui existiam 837 habitantes. Neste último recenseamento do século XXI ficámos pelas 777 pessoas. Vejamos o quadro geral: 1864 – 837; 1878 – 852; 1890 – 873; 1900 – 867; 1911 – 886; 1920 – 977; 1930 – 1010; 1940 – 1028; 1950 – 1139; 1960 – 1065; 1970 – 978; 1981 – 1050; 1991 – 977; 2001 – 983 e 2011- 777. Os números falam e estes gritam, tanto como muitos outros. Para responder a estes veementes apelos, atira-se para cima das medidas tomadas mais uma série de comissões e grupos de trabalho, incluindo algumas delas com nomes pomposos todos eles cheios de intenções, mas, infelizmente, repete-se, muitas vezes, mais do mesmo. Precisamos de abanar tudo isto, dar murros na mesa e andar a sério em termos de alteração de práticas e políticas públicas. Mais um gabinete ou outro não resolve grande coisa. O cerne da questão passa sempre e a fundo por mudança de rumos e isso custa a entrar em cena.
Numas aldeias como estas, que até não estão muito longe da sede do concelho, S. Pedro do Sul, cidade, não nos podemos entregar ao fatalismo de vermos os nossos habitantes a fugirem para todo o lado e ficarmos mudos, quedos, chorosos à espera de milagres. É de acção que se carece, mas ao mais alto nível e já se parte com séculos de atraso. Com as suas riquezas naturais e culturais, Pinho oferece atractivos para aí se viver. O mal está noutros patamares. Com um património muito agradável, com a sua Igreja Matriz, em honra de S. João Baptista, com os São Gonçalo, Santo Amaro e Santa Eufêmia a intercederem por esta gente, com a Fonte dos Abados e da Capela para serem apreciadas e utilizadas, com os seus moinhos, o lagar de azeite, o Castro da Mata de Pinho e o recordado Convento de Pinhosão, muito há para ser visto e valorizado.
Num outro nível, também não faltam iniciativas actuais da sociedade civil, vendo-se por ali o Rancho Folclórico de Pinho e as Bailarinas do Sobral, o Grupo de Cantares desta aldeia, a velha e reconhecida Banda Musical Aliança Pinho/Vila Maior, o seu campo de futebol, o que denota participação popular e vontade de pôr a mexer as suas populações em diferentes actividades próprias de variados gostos e idades bem diferenciadas.
No início deste trabalho, começámos por aludir, de uma forma muito particular, a Pinhosão. Não o fizemos por acaso. É que a Barragem que lhe anda associada volta, nestes dias, a ser muito falada entre as medidas que se preconizam para combater, por um lado, o duro problema da falta de água e, por outro lado, de, com ela, criar mais um decisivo pólo de desenvolvimento, o que pode vir a fazer toda a diferença. Um e outro destes aspectos são motivos mais do que suficientes para que se pegue neste tema e não mais se largue até ao momento em que ele possa reter as águas do Rio Vouga e delas fazer as morcelas de que tanto se precisa. O sangue está lá, no Rio, pronto a ser usado, assim o queiram os homens das decisões.
A Barragem de Pinhosão
Entre as várias comissões a que nos referimos atrás, aquela que trata do Acompanhamento dos Efeitos da Seca defendeu, ainda há bem pouco tempo, a necessidade de construção de novos pontos de retenção de água, em que se incluem as barragens e a de Pinhosão foi expressamente citada.
Aliás, nas mais variadas ocasiões, sempre ela foi falada, nomeadamente no Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico no ano de 2011, com uma potência prevista a instalar de 77 MW e uma produção anual, em Gwh, estimada em 106 unidades desse âmbito ( se a compararmos com Ribeiradio/Ermida, não lhe fica muito longe, quanto a valores em termos de aproveitamento, pelo que é um empreendimento de grande alcance). Entretanto, já antes, em 2008, fora lançada a concurso, tendo, porém, este ficado deserto. Previa-se um investimento a rondar números altamente divergentes, entre 100 e 170 milhões de euros, talvez tendo estado nesta oscilação e indefinição – estamos a especular – a razão para que não tenham aparecido interessados em levá-la por diante. Falava-se então numa área a inundar na ordem dos 250 hectares em território dos concelhos de S. Pedro do Sul e Viseu.
No meio disto tudo, surge aqui um dado novo que é o de se saber que, há poucos meses, uma série de municípios, com Viseu à cabeça, englobando ainda, na região de Lafões, S. Pedro do Sul e Vouzela, assinaram um documento e um projecto de intenções, visando construir um reservatório de água de vistas largas.
Deve pôr-se, neste momento, uma questão na mesa das hipóteses a considerar: são dois empreendimentos diferentes a terem cada um a sua vida, ou devem antes ser equacionados em conjunto, de modo a não se desperdiçarem energias e recursos que tanta falta nos fazem?
Sem estarmos na posse de dados que nos permitam analisá-los ao pormenor, temos uma vaga ideia que, antes de se dar um ou outro passo, ninguém deve avançar sem saber que estas duas ideias têm andado a serem faladas. Limitamo-nos a deixar estas considerações porque duas cabeças pensam mais que uma, por mais brilhante que ela seja.
Tendo Pinho um passado de séculos, trazendo-se, nestas alturas de seca e de tragédias, ao de cima a sua Barragem de Pinhosão, o seu futuro pode muito vir a ser valorizado com a sua construção. Mas, para que isso aconteça, não se pode andar no triste jogo do avança uma casa, recua duas, ou mesmo pára por aí. Já se viu que esse foi um caminho errado e que, agora, se retorna à casa de partida com outros dados e estes, os de hoje, não são nada agradáveis, que a falta de água pode-nos ser fatal.
Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, Novembro, 2017
sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
Um retrato populacional de S. Pedro do Sul em 1527
S. Pedro do Sul em números
Uma espécie de recenseamento com quatrocentos e noventa anos
Nesta nação com perto de mil anos de existência soberana (tirando aqueles sessenta anos de 1580 a 1640 em que Castela nos governou), várias foram, em tempos idos, as tentativas para se saber quantos habitantes viviam no espaço português. Até mais de meados do século XIX (1864), esse objectivo nunca foi conseguido. Salvou-se o trabalho feito em 1527, o célebre Numeramento do Reino, mas mesmo este foi muito incompleto e cheio de incertezas e dúvidas. Começa, desde logo, por falar apenas em fogos (moradas), deixando para a interpretação a contagem das pessoas. Para este efeito, usa-se um duplo multiplicador, o 4 ou o 5 e isso pode fazer toda a diferença.
Deste modo, há quatrocentos e noventa anos, produziu-se um estudo que, entre outros aspectos, teve, pelo menos, o condão de mostrar ligações administrativas e o nome de nossas terras, indicando ainda a referência aos tais fogos por lugar. Pegando neste documento, constata-se logo que, nessa época, os concelhos eram bem diferentes dos de hoje, sendo que eram muitos mais. Cruzamentos havia-os em abundância, se analisarmos povoação por povoação e verificarmos a que concelho pertenciam cada um desses povoados. Saiu-se de um lado para outro, ao mesmo tempo que muitas dessas divisões administrativas acabaram por cair, sobretudo no já citado século XIX.
Adaptando a grafia à actualidade, citemos aqui alguns exemplos, bastantes, acerca dos nossos antepassados que habitavam o território de S. Pedro do Sul, deste século XXI, nas suas divisões internas. Vejamo-las (1527), tendo em conta que, para se ter uma estimativa do número de residentes, se deve multiplicar, como dissemos, por 4 ou 5:
- Concelho de Sul – 156 (146?) moradores, assim distribuídos: Sul – 25; Oliveira – 14; Aveloso – 13; Adopisco – 4; Pisões – 9; Corpelha – 11; Amaral – 12; Lageosa e “Sea” – 11; Posmil – 7; Macieira – 12; Santa Maria – 17 e Póvoa de Fojães – 11.
- Corpo da Vila de S. Pedro – 48; Negrelos – 14; Figueiredo – 14; Real – 6; Real/Fermil – 5; Monsanto – 3; Comenda de Ansemil – 1; Outeiro da Comenda – 3; Arcozelo – 12; Casal da Ribeira – 1; Taboadelo – 4; Cotos – 4; Cotães – 5; Galifonge – 4; Ranhadinhos – 2; Ranhados – 2; Vila Nova – 3; Travanca – 8; Louredo – 4; Mondelos – 7; Sacados – 10; Pouves – 9; Novais – 5 e Outeiro – 2. NOTA – A actual freguesia de Figueiredo das Donas (Vouzela) estava integrada naquele espaço.
- Freguesia de Pinho – Moldes – 8; Pinhosão – 6; Igreja de Pinho – 3; Paços – 2; Pinho – 9; Sobral – 2; Pindelo – 10, Rio de Mel – 7, estes dois últimos povos, hoje, de Pindelo dos Milagres.
- Figueiredo de Alva – Figueiredo – 13; Fermontelos – 3; Igreja – 2.
- Santa Cruz – Sobrosa – 3; Burgetas – 3; Eiras – 8; Lourosa – 14; Landeira – 4; Vilarinho – 4; Salgueiro – 3; Bondança – 1; Gestosinho – 1; Gestoso – 3; Calçadas – 4; Manhos (?) – 3; Sequeiros – 2; Sernadinha – 4; Bordonhos – 1; Igreja de Bordonhos – 3; Lugar de Bordonhos – 17; Vilar – 3 e Figueirosa – 15. Engloba ainda a freguesia de Bordonhos.
- Carvalhais – Germinade – 6; Torre – 6; Casal de Rendo – 3; Lugar das Barbas – 2; Sá – 13; Mourel – 21; Ramalinho – 2; Ramarel – 8; Carvalhais – 15; Vados – 7; Igreja de Carvalhais – 1; Paços – 3; Reguengo – 7; Pendores – 6; Póvoa da Rada – 1; Póvoa do Coro – 1; P. de Roçados – 1; P. das Bouças – 1; P. da Marroca – 1; P. do Pisão – 2; Candal – 8; Póvoa das Leiras – 4; P. da Coelheira – 4; Goja . 11; Gyosim – 5; Nespereira – 30; Quinta do Contador – 1; Lugar de Doude – 6; Vila Meã – 9. Nesta área, há uma boa dose de misturas de freguesias, incluindo-se Candal e, eventualmente, outras mais.
- Várzea - Póvoa da Lameira – 1; Quinta de Drizes – 2; Lugar de Drizes – 6; Mais aí – 3; Adro e Carvalhal – 5; Quintela – 2; Lugar de Avocães – 2; Quinta de Canhões – 1; Cónega – 1; Vale das Eiras – 1; No lugar descrito da freguesia de Cavanhão (?) – 5; Mais aí – 1; Rebelo – 3.
Referem-se ainda várias quintas dispersas.
- S. Martinho das Moitas – Covalinhos(?) – 4; Sete Fontes – 4; Serrim(?) – 10; Nodar – 1; Ameixiosa – 10; Covas do Rio – 10; Pena – 6; Deilão – 5; Bordozedo – 2; Furguselos – 3; Covas – 11. Do concelho de Arouca, tínhamos – Regoufe – 9; Covelo – 8; Drave – 2; Palhais – 1; Póvoa da Légua – 1 e Palença – 1. Ali temos também Covas do Rio.
- Baiões – Segadães – 4; Igreja - 1; Lágea – 3; Quinta dos Barões – 2; Outeiro – 2; Bargeta – 2 e Souto – 2
- Serrazes – Ferrreiros – 8; Dondanede – 2; Covelas – 11; Igreja – 6; Serrazes – 26; Freixo – 28 e Penso – 7
No território de S. Pedro do Sul, aparece ainda S. Miguel do Mato, agora a pertencer a Vouzela.
Importa dizer-se que a tradução da grafia de 1527 pode não ter sido aqui a mais correcta, pelo que cremos que há lugares já desaparecidos e outros que, nesta página, foram mal assinalados. Por estas falhas, pedimos desculpa aos nossos leitores. Querendo apenas fornecer pistas para um melhor conhecimento do chão que pisamos, esse foi o objectivo que nos motivou a fazer esta resenha. E ela foi pensada como mais uma pista e nunca como um dado absoluto.
Por estas informações se deduz que os nossos territórios, há quase 500 anos, já se encontravam povoados. Hoje, em 2017, talvez assim já não aconteça, apesar de todas as condições, infraestruturas e equipamentos que se foram alcançando. Afinal, que falta fazer-se para fixar as nossas gentes? Esta é uma magna questão que ainda não tem resposta conveniente, nem nada que se pareça com isso. Infelizmente.
Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Dezembro, 2017
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
Limpeza de matas a preocupar os pequenos agricultores
Vem aí a obrigação de limparem os seus terrenos
Agricultores com carga a mais em cima de seus ombros
Ao dedicarem-se àquilo que mais gostam, o amanho da terra para dela tirar parte do seu magro sustento, os nossos agricultores prestam, ainda, um autêntico serviço público, porque se deve a eles a suprema função de zelarem pela necessária biodiversidade e pela sustentabilidade ambiental.
Vergados ao peso dos anos, nestas funções quase só se vêem idosos de sachola na mão. Mas é esta gente que, tudo dando de si, tem alguns dos nossos campos ainda com vida, a reluzirem e a oferecer-nos aqueles produtos que ganham em sabor e qualidade a tudo quanto nos chegue por via da industrialização. Importa que se diga que o Estado, nós todos, não lhes dá a devida e necessária atenção.
Uma das provas de que assim acontece surgiu agora, depois dos trágicos incêndios, que levaram a muitos destes obreiros da terra grande parte de seus bens e haveres. Sabendo-se que, como complemento dos seus rendimentos, há quem tenha um ou outro aviário, uma coelheira, uma criação de animais, ou mesmo outro tipo de investimento, além da silvicultura, constata-se que, em matéria de apoios, este sector primário é visto como algo menor, se comparado com outras áreas, aquelas que podem ter acesso ao REPOR. Penaliza-se desta forma quem deveria ser olhado em pé de igualdade com todos os outros investidores. Mas não o é.
Quem olha para o nosso povo da terra?
Do alto do pedestal governativo, proclama-se, após esta discriminação negativa, que os detentores de matas as têm de limpar, com língua de palmo, sob pena de outros o fazerem por si, imputando os custos por via coerciva ou perto disso. Se entendemos que cada um deve zelar pelo que é seu e não colocar em perigo os bens de quem os rodeia, isto é, das comunidades em que se inserem, perguntamos, porém: onde vai esta gente buscar os rendimentos para executar essas tarefas, quando as matas nada lhes dão em troca? Onde estão as respostas, por exemplo, para valorizarem os matos roçados, as árvores queimadas e outros produtos florestais? Quem os recompensa pelo facto de, através do seu esforço, podermos ter melhor ar, mais água e os campos a serem factor de atracção turística como elementos valorizadores da paisagem? Quando é que o Estado dá o melhor dos exemplos, cuidando das suas matas?
Com esta carga de interrogações e dúvidas, a cada passo só se encontram desgraças nestas actividades agrícolas e afins. Se o fogo queima, se a seca não deixa desenvolver os rebentos, muitas das medidas tomadas em sede de poder governativo escaldam. Com tais quadros de vivências negativas, o desânimo não tardará a chegar e, nestas idades, isso é o pior que pode acontecer a quem da vida não tem recebido nada por aí além.
Salva-se uma ideia que agora se está a tentar lançar no terreno, o registo dos bens em termos modernos, para com esse inventário fazer ver o que é de cada um. Mas é pouco para quem tanto nos tem dado.
Por fim, registem-se os protestos que estão a surgir, em reclamações diversas quanto aos prazos das candidaturas, uma a terminar hoje mesmo, dia 30, e outra a prolongar-se até ao dia 15 de Dezembro. Se no REPOR a respectiva documentação pode ser apresentada dentro de um ano, porquê tanta pressa a recair sobre a agricultura? Até este pormenor evidencia a pouca atenção que se dá a esta nossa gente, ainda que se diga que é para acelerar as compensações devidas. Seja por isso, mas permita-se adiar a entrega da papelada final, fazendo-se os acertos nessa altura.
Como todo o investimento perdido precisa de ser ajudado e reerguer, seja-se justo na repartição das verbas em causa e não se criem programas de primeira e de segunda, cabendo estes aos nossos povos que trabalham, com tanto carinho e sacrifício, as suas propriedades. Pense-se bem nesta gente.
Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, parcialmente, Novembro, 2017
domingo, 26 de novembro de 2017
Apoios à recuperação de empresas com dois pesos diferentes: o sector agropecuário mais penalizado
APOIOS À RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS EM DEBATE
Ana Abrunhosa trouxe a Oliveira de Frades informação e emoção
A sessão promovida pela Câmara Municipal (CM) de Oliveira de Frades, realizada no passado dia 18, no salão nobre, encheu este espaço com a presença de muitos empresários com um trágico ponto em comum, pois todos eles foram vítimas da fúria descontrolada das chamas destruidoras dos dias 15 e 16 de Outubro. Vieram com uma finalidade: ouvir a Presidente da CCDRC, Ana Abrunhosa, que se fez acompanhar de técnicos dessa Instituição e ainda do IAPMEI.
Ao receber estas entidades, o Presidente da CM, Paulo Ferreira, mostrou-se esperançado, até por estar perante uma sala cheia, de que o concelho vai reerquer-se e voltar a ser o que era. Foi isso que desejou, forte e vincadamente.
Por sua vez, Ana Abrunhosa disse, com emoção, que ali via “rostos que já conheço, um claro sinal de que não desistiram, que mostram resiliência e vontade em recuperarem aquilo que tanto lhes custou perderem”. E esse, acrescentou, é o melhor dos sinais que lhe foi dado observar.
Quanto à “ordem de trabahos”, no cerne das informações prestadas, encontrava-se a legislação inerente ao programa REPOR – Sistema de Apoio à Reposição da Competitividade e Capacidades Produtivas – que resulta do Decreto-Lei nº 135-B/2017, de 3 de Novembro. Explicado ao pormenor por Luís Duarte, com ele se pretende pôr em marcha a recuperação das empresas, de modo a que, o mais rapidamente possível, possam retomar as suas actividades, criando riqueza e desenvolvimento, ao mesmo tempo que se recuperam os tão importantes postos de trabalho. São mesmo estas as duas vertentes que se pretendem atingir com esta legislação.
Pena é que nela se não possam englobar as empresas ligadas ao sector da agropecuária e da avicultura (tão presente neste concelho e tão dramaticamente atingido), facto que ali não passou em claro, gerando mesmo algum desconforto como ficou patente, quer pela vinda de vários responsáveis desse sector, quer pelos comentários que foram fazendo. Foi-lhes dito que os auxílios que vão ter são objecto de outros mecanismos legislativos, mas as percentagens a virem ao de cima são menores, a partir de certos montantes do que aquelas que se consagram para outras áreas de negócio.
Ficou ali, porém, uma certeza: até ao dia 30 deste mês, um prazo demasiado curto e a merecer ser revisto, têm de ser entregues as candidaturas relativas aos pequenos agricultores, até um montante de 5000 euros, quando antes se falava em 1053. Aquelas do sector primário que dizem respeito aos empresários com CAE têm de dar entrada até 15 de Dezembro.
Voltando ao que ali foi mais falado, o citado REPOR visa reconstituir o tecido empresarial e não ampliações, ainda que se preconize a possiblidade de uma maior e melhor modernidade, porque os tempos e a evolução não param e esta pode ser uma oportunidade para a mudança necessária. Instalações, maquinaria e equipamentos, bem como a obrigatória garantia de que, no mínimo, serão mantidos 85% dos postos de trabalho, são os aspectos a contemplar.
No decorrer da explanação desse mesmo documento, viram-se os montantes a serem objecto de elegibilidade que têm como ponto de referência o valor dos prejuízos até certos patamares, sendo as percentagens de apoio função dessas avaliações. Requerem-se a certificação PME e o registo no Balcão 2020, operações que decorrem no IAPMEI, havendo uma delegação em Viseu. Exigem-se ainda o preenchimento de vários impressos, a demonstração de várias situações, os documentos das seguradoras e outros, tudo isto a ter de ser entregue até Outubro de 2018, mais ou menos um ano.
Com a CCDRC a mostrar toda a sua disponibilidade para ajudar, um a um, todos os interessados, também a AEL e a AIRV podem colaborar neste urgente tarefa de reconstrução de nosso tecido empresarial.
Com o debate que se seguiu, viram-se nos olhos de Ana Abrunhosa e de Pedro Pinhão umas atrevidas lágrimas, quando a Presidente da CCDRC declarou que viu na TOSCCA um dos maiores exemplos de coragem em força de vontade em trabalhar e ir em frente. Aliás, esta tónica sentiu-se ali em toda a plateia que compareceu para mostrar que é isso mesmo que pretendem os empresários deste concelho de Oliveira de Frades. Boa sorte!
Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Novembro 2017
domingo, 19 de novembro de 2017
Poder de compra por concelho: pelo andar da carruagem, isto pode mesmo descarrilar...
Dados do Instituto Nacional de Estatística
PODER DE COMPRA POR CONCELHO A MOSTRAR DURAS DESIGUALDADES
O Interior perde sempre em todos os tabuleiros do desenvolvimento. Os recentes Indicadores per Capita (2015) atestam esta fria realidade
De dois em dois anos, o Instituto Nacional de Estatística (INE) publica uma série de dados que reflectem a saúde financeira e económica de cada concelho. Para esse efeito, analisa 16 varíáveis que permitem que venha a tirar algumas conclusões finais. Designado “Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio”, referente a cada um dos anos em análise, neste nosso trabalho vamos, a partir desses preciosos contributos, tentar fazer um retrato fiel de nossas terras.
Com a credibilidade que o INE tem vindo a firmar ao longo dos tempos, com a fiabilidade dos números em questão, aqui não há especulações, mas uma ida ao terreno para verificar o que se passa. Só depois dessa operação minuciosa é que se colocam no papel as ideias finais. Logo, as comparações que se podem vir a fazer têm um bom lastro de veracidade e não oferecem grandes dúvidas.
Olhando para os 308 municípios, são gritantes as disparidades e a divisão do país em perigosos escalões de desigualdades que nunca mais se conseguem estancar. Com células diversas e com pesos diferentes em cada região, notam-se já nestas valores que se distanciam uns dos outros, de acordo com características de cada um desses concelhos. Mas a balança desiquilibra-se totalmente quando se vêem os indicadores dos grandes centros, sobretudo Lisboa, e os do Interior. A este propósito, os valores com que deparamos são mesmo chocantes. Quando se fala numa desproporção de três a quatro vezes menos em muitas das nossas comunidades vistas à luz da capital, temos de constatar que algo vai muito mal em termos de políticas públicas e decisões conexas.
Os dados
Agora, em 2017, saíram os dados referentes ao ano de 2015. Nota-se a mesma linha divisória entre dois mundos, que, desde 2009 (ponto de partida para estas linhas de análise), se tem vindo a manter, ainda que com pequenas oscilações. Entre os vários pontos apresentados pelo INE, cingimo-nos àquele que nos parece mais significativo e de leitura mais fácil, que é dos Indicadores per Capita. Em geral, acima da média nacional só 33 em 308 concelhos é que atingem essa bitola e 147 apresentam valores inferiores a 75 pontos, o que é altamente lesivo da coesão nacional que se pretende alcançar.
Numa curva descendente, que tem o seu cume na Área Metropolitana de Lisboa com 124, 7 pontos, seguem-se, por esta ordem, o Algarve com 95,2; Norte – 92,1; Alentejo – 91; Centro – 88, 8; RAM (Madeira) – 86, 9; RAA (Açores) – 86, 9. A uma escala mais detalhada, temos, cá para baixo, o Alto Tâmega com 69,9; Viseu Dão Lafões, 80, 3 e Ave – 84, 5.
Agora, de modo a englobarmos as nossas terras, atendamos a estes dados (2015): Oliveira de Frades – 80, 54; S. Pedro do Sul – 68, 28; Vouzela – 64, 47; Tondela – 74, 07; Penalva do Castelo – 58, 59; Viseu – 95, 93 e Lisboa – 214, 54.
Para uma melhor comparação em sede de evolução deste Indicador per Capita, vejamos o que tem vindo a acontecer desde 2009, deste modo:
– Oliveira de Frades, 2009 – 76, 13; 2011 – 79, 47; 2013 – 83, 58 e 2013 – 80, 54 e 2015 – 80, 54
- S. Pedro do Sul, 2009 – 58, 40; 2011 – 63, 87; 2013 – 69, 53 e 2015 – 68, 28
- Vouzela, 2009 – 57, 33; 2011 – 60, 99; 2013 – 65, 77 e 2015 – 64, 47
- Viseu, 2009 – 93, 67; 2011 – 96, 11; 2013 – 96, 61 e 2015 – 95, 93
- Viseu Dão Lafões, 2009 – 72, 53; 2011 – 78, 05; 2013 – 81, 59 e 2015 – 80, 34
- Lisboa, 2009 – 232, 54; 2011 – 216, 88; 2013 – 207, 91; 2015 – 214, 54
Numa leitura rápida destes números, é salutar verificar-se que há uma tendência, ainda que ligeira, para uma subida em cada intervalo de dois anos, salvo entre 2013 e 2015, em que se desceu em todas estas unidades territoriais. Lisboa, como sempre, é um caso à parte: sem sair do topo, foi diminuindo um pouco de 2009 para 2013, mas daqui para 2015, contrariando o que aconteceu nos demais locais estudados, acabou por trepar quando os demais tombaram um bocadinho. Até neste pormenor, o Interior fica a perder. Em geral, leva uma triste abada, que tem de pôr toda a gente a pensar. E agir rapidamente e em força antes que o país caia nas profundezas do Atlântico tão desnivelado ele se encontra.
Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Novembro, 2017
sábado, 18 de novembro de 2017
Orçamento de Estado, uma reflexão e umas sugestões
As nossas opções do plano
Num tempo em que os deputados discutem, na Assembleia da República, o local proprio para o debate das ideias e dos projectos para o nosso País, referentes ao ano que se aproxima, 2019, as respectivas Grandes Opções do Plano e o Orçamento, há duas linhas de força que gostaríamos de ver ser aplicadas nos territórios que habitamos: como aspecto prioritário e urgente, depois das tragédias dos incêndios, a recuperação dos espaços perdidos e desfeitos, que as vidas das pessoas que nos deixaram já as não podemos voltar a ter connosco; em segundo lugar, cremos que deve merecer uma atenção especial o campo das comunicações ferroviárias e rodoviárias.
É óbvia a primeira destas observações. Se Pedrógão já deve ter feito reflectir naqueles documentos estas candentes questões, o facto de os fogos que assolaram grande parte da zona Centro terem ocorrido já depois de concluídos estes instrumentos de planeamento, é natural que venham a ser integrados nesta fase da discussão na especialidade. Concordando que a necessidade de se controlarem as contas públicas deve ser ponto assente, a vida das pessoas tem de estar acima dessas questões. Quando tanto se perdeu, é sabido que terão de ser grandes as despesas a fazer para dar a estes espaços de baixa densidade aquilo a quem têm direito, bem como a possibilidade de verem, de novo, as florestas a caminharem para aquilo que devem ser, locais de uma natureza sustentada, e de refazermos as casas, os estabelecimentos empresariais, as instalações agropecuárias, os campos agrícolas, as vinhas, os pomares, para que a vida continue a fazer sentido e o emprego ressurja.
Se estes aspectos não forem encarados de frente naquela sede do poder legislativo, atrás de um desastre, outros, infelizmente, estarão na forja. Em Lisboa, tem de olhar-se para o Interior com outra postura política, isto é, não se podem adiar as reformas que importa levar a cabo para não se regredir ainda mais em termos de coesão nacional, acentuando as desigualdades que já tanto nos atrofiam.
Com as diversas bancadas e terem representantes, em geral, de cada um de nossos territórios, esta é a hora de mostrarem que ali estão para nos defenderem. Caso contrário, enegrecem o cargo e a função que ocupam. Dito isto, como seria bom que se pensasse noutro modelo eleitoral, com deputados de proximidade e não apenas com gente que aparece um pouco por arrasto em listas com grande pendor centralista! Sendo esta uma conversa para outra altura, agora ficamos à espera de boas notícias em favor das terras que habitamos e que tão desprezadas têm andado, desde há séculos.
No segundo ponto, queremos falar essencialmente de dois empreendimentos que julgamos de interesse crucial para o nosso futuro: a via ferroviária entre Aveiro e Salamanca, passando por Viseu, e a ligação desta cidade a Coimbra por auto-estrada.
Por último, que não se deixem morrer as esperanças em melhor saúde, melhor justiça, melhor redistribuição social, melhor educação, melhor apoio aos idosos e crianças, melhor solidariedade em geral, enfim, tudo bastante melhor do que tem estado.
Quando já falta pouco para acabar o quadro Portugal 2020, numa altura em que a própria União Europeia pede inteligência em solicitarmos apoios para fazer face às recentes calamidade, muito há a fazer, mas é para isso que existe o Governo, que tem de ver a vida das pessoas como um valor sem preço, maior que tudo, mesmo do que, e sobretudo, o tão falado déficit. Número é número, pessoa é pessoa e isto faz toda a diferença.
Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Novembro, 2017
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
Depois da tragédia, venha a acção...
No rescaldo dos incêndios
Da nossa memória não se varreu o terror destrutivo do dia quinze de Outubro e dessa noite fatídica. Nem desaparecerá, porque aquilo ultrapassou tudo quanto se possa imaginar. Com a culpa a espalhar-se por uma série de factores, soube-nos bem sentir boas palavras de conforto, ver uma enorme mobilização da solidariedade activa, dentro e fora de fronteiras, pois as nossas comunidades, como a do Luxemburgo, entre outras, uniram-se na angariação de fundos, mas, agora, é preciso mesmo passar para acções concretas, umas imediatas, outras mais pensadas para serem bem postas em prática.
Achamos certo que, em apoios, se parta, primeiro, da aplicação dos seguros se os houver. Numa outra fase e talvez seja a grande maioria dos afectados por esta tragédia, pior estão aquelas pessoas que, perdendo tudo, ou uma grande parte de seus haveres, não têm qualquer qualquer contrato a esse nível. Tomando como base uma tabela referente a Vouzela, ainda que parcial, por estar incompleta, em 67 casos, 58 deles não estão cobertos por qualquer sistema de garantia, havendo nestes, inclusivamente, valores a rondarem um milhão de euros e muitos com várias dezenas de milhares de euros de perdas reais. Ora, aqui tem de entrar uma correcta afectação das verbas obtidas ou constantes de apoios oficiais, nacionais ou europeus. Sá assim se passa, efectivamente, em concreto, para além do “alento” que, sendo bom, é pouco demais para tanta necessidade.
Há um sector das nossas comunidades que merece uma atenção muito especial, o das crianças e jovens, sobretudo aqueles que viveram em contacto com a força do fogo e seus nefastos efeitos. Há aqui um imenso trabalho de acompanhamento a fazer em termos de apoios psicológicos e outros, passo a passo.
No entanto, cada um à sua medida, todos os nossos povos têm de ser estimulados a seguirem em frente, evocando quem, infelizmente, nos deixou e confortando quem ficou. São difíceis estes próximos tempos, talvez por vários meses ou anos. Mas não podemos é ficar parados. A coragem tem de ser a nossa companheira de todos os dias.
Passos dados e a dar
Com as medidas recentemente tomadas em Conselho de Ministros, deram-se alguns passos positivos. Mas os tristes exemplos de Pedrógão em demoras e em desconhecimento do paradeiro de muitos fundos obtidos não são bons conselheiros. É preciso ser-se ágil, eficaz, justo e humano no apoio aos familiares das vítimas mortais, nas ajudas aos feridos, na compensação pelos bens destruídos, quaisquer que eles sejam. Congratulamo-nos com o facto de alguns programas, como aqueles que se ligam à recuperação de empresas, já estarem em bom andamento. E os outros quando aparecem?
Quanto a medidas de fundo, como o reordenamento florestal e a necessidade de alterar todas as políticas referentes aos estímulos para o desenvolvimento das zonas rurais, esse é um quadro que tem de ser bem pensado e melhor desenhado. A pressa não é amiga de boas decisões.
No imediato, no campo ambiental, é urgente travar-se a erosão dos solos e a contaminação das águas e solos freáticos. Outro aspecto que muito nos preocupa é o facto de, à beira das estradas e caminhos, haver problemas com ribanceiras, com árvores queimadas e altamente fragilizadas que, em fase de Inverno a sério, são um perigo constante.
É ciclópica a montanha de tarefas que temos pela frente. Mas têm de ser encaradas firmemente, a breve prazo, e em força. Não há tempo a perder.
Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Novembro, 2017
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