segunda-feira, 12 de maio de 2008

Fátima

É espantoso ver que os caminhos que nos conduzem a Fátima se encontram pejados de peregrinos, que para o Santuário se dirigem em busca de conforto, em cumprimento de promessas, em romagem de fé e esperança.
Num mundo onde abundam os motivos de preocupações, esta procura do aprofundamento espiritual é uma daquelas continuidades do nosso viver individual e colectivo que merece um estudo e uma atenção especiais, tanto pela sociologia, como pela própria teologia, esta com mais razão, claro está, decorrente da sua existência e do seu objecto de estudo no panorama das ciências.
Pelas estradas fora, por entre perigos e dores - que, este ano, já passaram pela tragédia dos acidentes, infelizmente - circula uma vontade firme e segura de chegar a Fátima, para aí entregar promessas e dificuldades, fracassos e êxitos, quer chova, quer faça sol. Se, na Idade Média, também os caminhos já apresentavam populações em diásporas de amargas vidas, o ambiente de festa e de ânsia de novidades era então uma outra dimensão, que se não pode desprezar.
Mas, hoje e agora, quando o mundo está todo praticamente nas nossas mãos, pelo que aqueles aspectos não têm a pertinência de outrora, compreender estes gestos revela-se difícil, à fria luz do conhecimento humano. Só a fé nos leva a entender estas caminhadas, estas peregrinações, este permanente salto para um outro mundo, que nem todos conseguem entender.
Vê-se que ele existe nas vias que cruzam o nosso mapa: quem nelas se entrega assim, acaba por nos dar a mostra que a religiosidade é intemporal e universal, ainda que valores e crenças sejam divergentes. Mas isso que importa? É na diferença, afinal, que todos somos iguais.
Fátima demonstra-o também.

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