terça-feira, 3 de junho de 2014

Um passeio por Arca e Varzielas

Arca e Varzielas, enclave, lindo enclave Em plena Serra do Caramulo, as freguesias de Arca e Varzielas combinam o lado agridoce próprio destas paragens com o apetite pela arte que seus obreiros tiveram quase sempre em linha de conta, desde a pré-história aos dias de hoje. Partindo de baixas altitudes para os pontos mais altos e indo de Adside (Campia-Vouzela) para cima, logo nos aparece a aldeia do Covelo, aninhada em redor de um marcante machoco de casas, que se espraia um pouco pela estrada fora e pela encosta acima, rumo ao Areal. Notando-se uma forte vocação agropecuária, os seus solos mostram-se bem dignos do uso que ainda lhes dão. Ricos, estão agora cobertos de erva verde e vivificante, depois de terem permitido encher os canastros de espigas. Encostadas umas às outras, as diversas courelas e vessadas fazem ver que ali há muitos proprietários e um minifúndio que não deixa dúvidas. Com o granito ali a aliar-se ao xisto, as suas casas tradicionais são assim filhas desses mesmos materiais. Uma ou outra, mais “ atrevida”, lá se destaca pelas cores garridas, mas o seu núcleo forte não desapareceu. Com um destino curto demais para as perspectivas com que foram erguidas, há obras que contrariam esta tendência. Deste modo, a escola do primeiro ciclo está encerrada e o posto do leite teve igual e triste sorte. São assim dois marcos negativos numa terra que respira o ar da serra e dele não sofre um efeito tão “duro”, porque o facto de se situar no fundo de um vale isso lhe concede: uma amenidade maior relativamente ao clima caramulano que impera na freguesia de Arca. A vizinha povoação do Areal, lá mais no alto, caracteriza-se também por uma certa tradição, não tão vincada, mas viu, em vez de perder valências, os últimos anos trazerem-lhe uma nova capela e uma associação também recente. Uma e outra, são parte da envolvente Arca, que, com praticamente uma só casa, dá nome à freguesia. Nesta, a terra maior e com mais peso é, sem sombra de dúvida, Paranho, que se encontra muito ligado à Póvoa. Integrada numa via estruturante, a ligar o Caramulo a Águeda, possui um comércio já com alguma dimensão para o patamar destas aldeias, mas o seu selo matricial é a sua imponente Anta, a par de outras manifestações de um rico património. Com uma vida social e recreativa que já viu melhores dias, a sua Associação por lá continua, mas o Parque Desportivo, esse, não parece em estar em bons lençóis assim como o Quartel da Secção de Bombeiros, logo ali ao lado de uma outra de suas jóias: o Carvalhedo da Gândara. Caminhando na direcção da vila do Caramulo, logo nos aparece Varzielas, que, em conjunto com Arca, fazem parte do mesmo “enclave” do concelho de Oliveira de Frades, já que não têm qualquer contacto físico territorial com a grande mancha municipal. Para se lá chegar, há que pisar terras de Vouzela, ou Tondela ou Àgueda. Se geograficamente essa é a realidade, a nível afectivo, o caso muda de figura, que, a esse propósito, é firme a ligação umbilical com a velha Ulveira. Varzielas, que dá de caras com o citado Caramulo, dá-se a conhecer a quem circula nessa mesma estrada, mas o núcleo mor da freguesia está lá mais para dentro, a meio caminho entre a Sede e a Bezerreira. Ai se encontra a Igreja, a o Complexo Escolar, Desportivo e Social, fazendo deste recanto um lugar acolhedor e com uma mais valia digna de nota: a produção de água engarrafada – as Àguas do Caramulo -, que dali sai para correr mundo. Com tamanha riqueza dentro de suas portas, Varzielas só não conseguiu obter um direito que lhe tem andado fugido: as suas águas não possuem, no registo comercial visível nas garrafas, esta origem e isso não tem qualquer explicação plausível, que seu a seu dono é filosofia que deve imperar. Mas que saem dali, isso ninguém pode deixar de reconhecer. Falar desta freguesia e esquecer a Bezerreira seria erro imperdoável. Aldeia de uma beleza agreste e de uma ruralidade a toda a prova, aquelas suas paisagens são de sonho, tanto como as casas que, lá bem no centro, resistiram à força de novos materiais e outras modas. No conjunto, é ponto turístico com lugar marcado em todos os roteiros. Tendo visto morrer a velha escola, ganhou, todavia, um bom sinal de modernidade: o Parque Eólico, que ali produz electricidade sem fim. Voltando à estrada principal, esta leva-nos ao Monteteso e assim nos despedimos deste circuito serrano do enclave de Arca e Varzielas, que bem merecem uma visita especial, nem que seja de passagem para o Museu do Caramulo, lá bem no cimo da Serra do mesmo nome e muito nossa também. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, há tempos…

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