quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Tópicos para a história da televisão em Oliveira de Frades

A televisão e Oliveira de Frades Em mais um aniversário assinalado pela Rádio Televisão Portuguesa, nascida em Março de 1957, queremos aqui trazer umas notas sofre esse notável facto que, em matéria de conhecimento e de lazer, veio mesmo mudar o mundo. E que razões nos levam a que associemos esta efeméride ao concelho de Oliveira de Frades? Poucas, mas significativas: é que o que hoje é uma banalidade e já não é sequer notícia sabermos que temos centenas de canais ao nosso dispôr, em 1957 não era nada assim. Por estranho que pareça, passados apenas (?) quase sessenta anos, nessa altura, a maior parte das terras deste município ficou de fora dessa nova conquista, por duas ordens de grandeza: em primeiro lugar, por falta de acesso à energia eléctrica e, em segundo, porque a marcha da cobertura pela nova Televisão foi muito lenta, demorando a chegar às diversas localidades. Fenómeno novo, em maravilha da técnica, tornou-se, desde logo, um bem escasso e mais um factor de negativa discriminação. Quem a tinha, estava em nítido avanço em relação com quem a ela não podia aceder. Lembramo-nos de ter sido com espanto que a espreitávamos nos poucos cafés que então a possuíam e a punham ao dispôr de seus clientes e ávidos mirones. Se a memória nos não trai, foi no saudoso Café Ideal, então da gestão e responsabilidade de Aureliano Gouveia, que assistimos, pela primeira vez, a um espectáculo de tourada com enorme abrir de olhos e alta curiosidade. Por pouco, não fugimos daquele mágico local, com medo de que o touro viesse ter connosco, por logo termos percebido que, a preto e branco, entre nós havia um vidro inquebrável e uma distância abismal. Em negócio do século, as casas comerciais, com destaque para os citados Cafés, enchiam-se muitas vezes para as pessoas verem TV, mais do que com o desejo de consunirem alguma coisa. Só que, fora alguns locais onde este “serviço” se pagava ( e sabemos que assim era, ainda que noutras terras, ou talvez também por aqui), atrás dessa espreitadela para o écran, lá vinham uns copos de vinho e uns acepipes quaisquer, o que resultava em lucro para os donos desses mesmos estabelecimentos comerciais. Com esta alta tecnologia a ser, durante décadas, repetimos, décadas, mais a excepção que a regra geral, vamos passar a ilustrar com dados algumas das localidades onde esse alto benefício só veio muito mais tarde. A luz em Oliveira de Frades Dez anos depois, em 1967, eis o panorama (parte), no concelho de Oliveira de Frades, em termos de fornecimento de energia eléctrica: este foi o tempo de nova iluminação pública na vila, quando presidia aos destinos da Câmara Municipal o Dr. António Lopes Ferreira, de Virela, que, aliás, por essa altura da vinda da TV, já tinha pedido a sua demissão; ao mesmo tempo, dava-se início aos trabalhos da electrificação em S. Vicente de Lafões, sendo que Postasneiros, Cajadães e ainda Vilarinho (Souto de Lafões) recebiam a comparticipação relativa à segunda fase desta obra e, em Abril, ali se viam já as linhas de alta tensão. Em Arcozelo das Maias, as queixas iam noutro sentido: falava-se na falta de luz ( e água) no edifício da Sede da Junta de Freguesia. Mas, em vários lugares de Ribeiradio e na freguesia de S. João da Serra, estava-se, depois de dois anos à espera de nova concessão, numa 2ªa fase; em Travanca, a dois passos da Vila, em S. João da Serra, Sejães e Reigoso era ainda apenas de projectos que se davam notícias. Com Dezembro a ser o mês de festa estrondosa em S. Vicente de Lafões, por ter podido acender as lâmpadas eléctricas e vir a ter a possibilidade de ver Televisão, ficariam ainda distantes tais benefícios em muitas outras localidades. Terras houve que só após o 25 de Abril, já com novos poderes locais, vieram a poder carregar no botão e verem acender-se, como que por milagre, as lâmpadas em cada casa e nas ruas. Em extensões para pontos mais distantes, tal aconteceu mesmo muito mais tarde. Para terminar, digamos que, nas Festas da Vila de 1976, a povoação de Travassós desfilou pelo arraial com lanternas a petróleo e tochas, porque de luz eléctrica nem o “cheiro” sentiam. Por tudo isto, aqui trouxemos este tema, em conversa que é como as cerejas. Recordando, melhor conhecemos as nossas origens e mais estimamos a nossa identidade e a dureza de outros tempos. Compará-los com a actualidade, é muito mais acentuada a diferença, imagine-se, que entre água e vinho. Isso é. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

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