quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Tradições religiosas em Campia - Vouzela

S. Miguel em Campia com festa rija Ao encerrar-se o mês de Setembro de cada ano, a freguesia de Campia veste o fato domingueiro, o melhor de todos eles, para vir para a rua festejar o seu Padroeiro, S. Miguel Arcanjo. Estabelecida esta data como feriado local, que sem o ser o é sempre, são vários dias de animação e de religiosidade a que ninguém, por aqui, fica indiferente. O calendário assim determina, a tradição faz permanecer vivo e revivificado este costume que o povo desta terra admira e venera. Por ser localidade importante no contexto concelhio, Campia não se contentou com um Santo qualquer, tendo escolhido um Arcanjo, o santo dos santos. É tão forte a crença em S. Miguel que várias doutrinas religiosas, tais como a judaica, a cristã e a islâmica, lhe prestam uma enorme atenção e todas o estimam nas suas crenças. Porém, a santidade fica apenas para os cristãos. Visto como líder designado por Deus para combater as forças do mal, associa-se, no imaginário e na estatuária, ao poder de esmagar o diabo, representado também pela serpente, tal como se pode ver na fachada da Igreja Paroquial de Campia, em local bem notório e bem ao alcance da vista de todos quantos ali vão ou por ali passam. Tido como Príncipe dos Exércitos, a sua função principal é estar ao serviço do bem do Povo, tudo fazendo para o defender e salvar. Na idade média, era patrono da respectiva cavalaria, havendo santuários a si dedicados desde o século IV, o que prova a longevidade do culto que lhe é tributado ao longo dos tempos. Rezam as crónicas que nem sequer chegou a ser canonizado, até porque já eram frequentes as referências a seu respeito no Antigo Testamento, isto é, muito antes de Cristo e, por isso, anteriores ao próprio cristianismo e á Igreja de Roma. Deste modo, tais cerimónias e designação papal não se aplicaram a S. Miguel. Na sua pessoa, aparece ligado ao bem-estar dos doentes, à protecção dos crentes na hora da morte, intercedendo pela sua entrada nos céus da felicidade eterna, pelo que, nestas múltiplas facetas, se torna mesmo o santo dos santos, para estas gentes da paróquia em festa e para tantas outras espalhadas por esse mundo fora. Se dissemos que é seguido em religiões diversas, as monoteístas, as igrejas católica, anglicana e luterana festejam-no a 29 de Setembro, sendo que noutras latitudes há datas diferentes. Neste mesmo dia, assinalam-se também as devoções a S. Gabriel e S. Rafael. Dada a sua importância e a fama de seus feitos, raramente se ficam por um dia apenas os seus festejos. Neste ano de 2016, como se nota pelo programa em causa, a tradição mantém-se, fruto do trabalho e dedicação dos Mordomos que têm como sua responsabilidade honrar e glorificar o seu Padroeiro, uma vez por ano. Por este ser tempo de colheitas, ao falar-se de S. Miguel, na cultura popular, a operação de cortar o milho e fazer as vindimas anda frequentemente associada ao fazer o S. Miguel agrícola. Este é mais um pormenor que aqui registamos. Com várias orações a seu respeito, terminamos com parte de uma delas: “ ... São Miguel, São Miguel, São Miguel/Aonde quer que eu vá/ Eu sou o seu amor, que me protege aqui e agora... “. Festa religiosa e popular, na união entre o sagrado e o profano, em Campia estes são dias de muita animação. Esta gente de trabalho bem merece estes “intervalos” na sua labuta. E a devoção ao seu Padroeiro dá-lhe ainda mais força para o ano que aí vem. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2016

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