quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Notas (2) sobre o território de Lafões

Lafões com a natureza a ser mãe do território NLafões, 4jan18 A terra que habitamos é esta e não outra. Esse é o seu melhor capital, porque insubstituível, porque impossível de ser deslocalizado. Esta vantagem ninguém no-la tira. A do capital móvel e volátil vem e vai, chega por boas marés, abandona-nos quando o mar está revolto. A nossa natureza, talhada para nós e para quem nos visita, ou para aqui vem e fica, fez o seu trabalho e que bom que ele é! Diferente de tudo quanto tenha sido feito noutro local, marca-nos e segue-nos por todo o lado. Por ser nossa esta paisagem e, sobretudo, por ser obra de um deus maior e criativo, amigo destas paragens, é com gosto que a temos como coisa e causa nossa. Encaixados entre um norte quase duriense e um sul meio mondeguino, neste meio termo, temos feito a nossa vida. A bacia hidrográfica do Rio Vouga, com os paralelos 40º 33’ e 40º 57’ norte e 7º33’ e 8º35’oeste, é uma de nossas grandes referências. Como assegura Cristina Maria Cordeiro de Carvalho Rodrigues ( “Termas: risco de inundação – 1960/2001, FLUC, 2009), somos filhos das formas de relevo mais elevadas com origem no Maciço Hespérico e das mais suaves filiadas na Orla Mesocenozóica Ocidental. Com uns pais e umas mães com nomes tão esquisitos, não é de estranhar-se que aqui vivam gentes tão diversas, o que é a nossa maior riqueza. É essa variedade natural que molda todos os nossos tempos, os passados, os presentes e os vindouros. Mas o nosso mestre maior, Aristides de Amorim Girão, é muito mais incisivo que nós na caracterização deste nosso território, dizendo nas suas “Antiguidades pré-históricas de Lafões, UC, 1921”: … “ Pois bem! Lafões fica em pleno coração da Beira Alta e constitui uma região encravada na bacia hidrográfica do Vouga, onde representa a zona mais acidentada, de variadíssimos aspectos, é certo, mas formando um todo homogéneo e correspondente portanto a uma verdadeira região natural. Por isso, este abençoado rincão, que já alguém chamou «a terra mais portuguesa de todo o Portugal», constitui para nós uma pequena pátria-mãe, numa afirmação bairrista que deve ser a pedra basilar de todo o patriotismo… “ (P.2). Com um clima (ver Cristina Rodrigues, 2009) que apresenta uma temperatura média anual, entre 1931 e 1960, tomando como referência a área territorial do Rio Vouga e, mais concretamente, as Termas de S. Pedro do Sul, que anda em redor dos 12.7º C e uma amplitude térmica anual de 12.3º, os mínimos encontram-se em plena Serra do Caramulo, com -7º, em Dezembro e Janeiro e uma humidade do ar de 84% na mesma zona serrana, subindo para os 90% em S. Pedro do Sul. Afirma-se nesse estudo que os meses mais chuvosos são os que medeiam entre Outubro e Abril, em que, por regra, ocorre 75% da precipitação anual, que anda pelos 1323/1387 mm. Com influências climáticas que nos chegam do Oceano Atlântico que atenuam o ar mais agreste das áreas montanhosas, estamos como que metidos numa estufa que nos confere um certo conforto a este nível. Nas entranhas da terra, na falha tectónica que parece vir de Chaves para Sul, havendo quem a localize entre Verin e Penacova, as Termas estão nela contidas, continuando pela Ribeira de Ribamá o seu percurso, dando origem à formação de altas temperaturas que nos fornecem um dos nossos bens mais preciosos: as águas quentes termais. Dizem os estudiosos dessas questões geológicas que estas vêm no seguimento das da citada “aqua flaviae”, das de Vidago e várias outras fontes do mesmo género. Sendo esta uma matéria para uma análise mais profunda, de modo a conhecermos melhor as nossas profundezas, estas referências já nos dão uma ideia do solo que pisamos, rico em granitos, xistos, grauvaques e quartzitos. Um bom e minucioso ponto de apoio para se estudar estas matérias tem no Professor Martim Portugal ( de Oliveira de Frades) o seu coordenador e foi editado, em 2003, pela Universidade de Coimbra, sob o título “Geologia de engenharia e os recursos geológicos”. Nesta vasta obra, em que participaram vários autores, são abordados aspectos que, pela sua profundidade, muito podem interessar quem pretenda ir mais a fundo nestas questões: desde as rochas ditas normais aos minérios (incluindo volfrâmio e até urânio), de tudo ali se vê um pouco. Quanto ao que diz respeito a este nosso território, é elemento de grande valor, aqui se deixando esta nota. Diga-se que Lafões tem nos seus conterrâneos, ambos da Universidade de Coimbra, os Professores Aristides Amorim Girão e, mais recentemente, Martim Portugal, um pilar científico que, pelo conhecimento destas paragens, muito valoriza as suas investigações Falando agora em mais pormenores da bacia hidrográfica do Rio Vouga, a 3ª maior no panorama nacional, temos como seus afluentes, na margem direita/norte, os Rios Caima, Mau, Arões, Teixeira, Varoso, Sul e Mel, isto da foz para a nascente e apenas confinado, em parte, ao território lafonenense; na margem esquerda, há os Rios Águeda, Marnel, Zela, Ribeira de Ribamá, Rio Troço e Ribeira de Brazela. Para cada um destes cursos de água correm muitos outros, pelo que esta é uma teia que não se fecha nestas indicações. Se nos debruçarmos sobre as suas respectivas bacias, verificaremos que a lista aumenta de uma forma considerável… (Continua) Carlos Rodrigues

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