quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Notas sobre o território de Lafões

Lafões e o seu território 1 – As primeiras impressões Ao pretendermos trazer para o “Notícias de Lafões” alguns contributos para se alinhavar uma espécie de História de Lafões, para além das muitas notas que aqui temos vindo a publicar, avançamos agora para esse novo patamar: dar a conhecer a terra que habitamos de uma forma mais organizada e sistemática. Se a área social que privilegiamos tem as pessoas no seu centro, nada do que tenham feito aconteceu no vazio. Teve um espaço onde se desenrolou toda a vida das nossas comunidades ao longo de milénios. Aliás, três componentes são essenciais nesta ciência: os territórios, o tempo e o homem. Num primeiro ponto, iremos então tratar de falar da geografia que nos serve de suporte, para caracterizarmos as condições naturais em que nos movemos e que tanta influência têm nas nossas vidas. Muito embora possam ter existido algumas modificações ao longo de milénios, em virtude de alterações climáticas e outros fenómenos naturais, em geral, as linhas mestras mantêm um padrão comum que nos marca e identifica a terra que pisamos. Não há como que fugir a esses desígnios, a começar pela situação no espaço. Desta forma, a zona de Lafões, que tem sido definida e defendida na sua identidade, sobretudo a partir dos inícios do século XX, por um de nossos ilustres conterrâneos, de Fataunços – Vouzela, o professor e investigador Aristides de Amorim Girão, que, além do mais, trabalhava na sua área científica, a da geografia, tem nos seus contornos e limites fronteiriços dois poderosos limites, o Maciço da Gralheira, a norte, e a Serra do Caramulo, a sul. É entre estas duas realidades que se desenrolam todas as vertentes que caracterizam a nossa orografia, hidrografia, solos, declives e, em suma, todo o nossos territórios nos seus aspectos físicos. Melhor do que as nossas palavras, as de Amorim Girão fazem aqui todo o sentido, quando nos dizem que “… Em pleno coração da Beira-Alta, uma unidade bem característica toda ela incluída na Bacia do Vouga, nos aparece agora: é a sub-região de Lafões, constituída pelos concelhos de S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades e ainda por algumas freguesias dos concelhos de Castro Daire (Alva a Mamouros) e de Viseu (Ribafeita, Bodiosa, Campo, Lordosa e Calde)… No aspecto geográfico, Lafões pode dizer-se uma verdadeira bacia cortada de Este a Oeste pelo curso do Vouga (…) Ao norte, fecham a bacia os elevados contrafortes do maciço montanhoso da Gralheira representados pelas chamadas Serra de S. Macário, Serra da Arada e Serra de Manhouce… Ao sul, dispõe-se, no prolongamento dos braços da cruz, a Serra do Caramulo, caindo bruscamente sobre o vale de Besteiros e inclinando-se suavemente para o Vale do Vouga… “ (citação colhida em Nabais, Rodrigues e Martinho – Oliveira de Frades, edição da Câmara Municipal, 1991, p. 19). Alimentando a ideia de que esta é uma “verdadeira região natural”, com base no mesmo autor vouzelense, Glória Carvalho, Teresa Tavares e Francisco da Cunha Marques, em “ Vouzela, a terra, os homens e a alma, edição da Câmara Municipal, 2001” acrescentam ainda mais uns pontos, nomeadamente o facto da constatação de que “… Os factores do clima são, sem dúvida, os maiores e os mais sistemáticos contribuintes na formação das paisagens. Tudo o que o homem não controla ainda, fá-lo o clima: declives de montanhas, gargantas mais ou menos apertadas, regime dos rios, tipologia da fauna e da flora, a agricultura e o modo de vida dos homens… “ ( p. 18). É este o contexto territorial em que se desenrola tudo quanto tem acontecido em Lafões, durante milénios, em sucessivas vagas de alterações diversas e evolução das tecnologias, desde as suas formas mais elementares e duradouras às actuais modificações que, por vezes, se mantêm por muito pouco tempo, porque a velocidade dos acontecimentos destas eras modernas andam a uma velocidade tal que se não compadece com as pachorrentas técnicas de outrora que se mantinham, séculos a fio, sem alterações de vulto. Neste curso médio do Vouga se encontra Lafões, a nossa terra comum. Entalados entre as influências do Oceano Atlântico que temos por perto e as forças montanhosas que nos limitam a norte e a sul, somos, nas nossas vidas, um misto dessas duplas e contraditórias influências. Com o clima adoçado pelo mar e tornado agreste pelas serranias, não sofremos, em regra, os seus pontos extremos. Com o granito como marca dura do nosso carácter, temos também no xisto mais macio uma parte da nossa própria formação. A par das águas geladas, frias e apetitosas, encontramo-nos numa falha tectónica que nos oferece uma boa alternativa das nossas maiores riquezas naturais: a importância de termos neste nosso espaço, a jorrar continuamente e de uma forma praticamente inalterável, a força das outras águas, as termais, que são uma outra parte inquestionável da nossa identidade territorial, é uma mais-valia que jamais poderemos desprezar. (Continua… ) Carlos Rodrigues , in Noticias de Lafões, 20 dez 2017

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