quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Um professor de Lafões com grande obra - António Figueirinhas

Um vouzelense e um lafonense em destaque António Figueirinhas um defensor da educação Nasceu no concelho de Vouzela, em 1865, António Simões Figueirinhas (AF), que se haveria de destacar no mundo da educação e das livrarias. Oriundo de uma família de lavradores abastados da freguesia de Cambra, frequentou o Seminário de Viseu, aí tendo concluído o curso de Teologia, mas nunca exerceu o sacerdócio. Preferiu antes enveredar pelo mundo da educação e sobretudo pelo exercício do ensino primário. Iniciou suas funções em Oliveira de Frades, onde, dando largas a sua veia empreendedora, fundou o Colégio Viriato, em 1888, transferindo-o para a cidade de Viseu em 1894/1895. Com a curiosidade a ser-nos despertada pelo contacto com nosso arquivo, onde encontrámos a revista LER, nº 49, último trimestre de 2000, e dado o nosso interesse por estas questões locais e, mais do que isso pedagógicas, logo nos pusemos a caminho para descobrir mais pormenores deste nosso arrojado conterrâneo. Surgiu-nos, de rompante, um trabalho de Luís Carlos Barreiras, do ano de 2011, em que AF é descrito como “empresário da educação”. Para sustentar a sua tese, fala-nos no proprietário, editor e director de “ O meu jornal”, que se publicou no Porto entre 1915 e 1917. Ao ver que “ Figueirinhas é um dos representantes da geração que tentou mudar os rumos da educação em Portugal”, atribui-lhe uma série de facetas, em escrita, que passam pela sua participação nas edições de o Arqquivo Nacional, Boletim Pedagógico, Educação, A escola primária, O Hermínio, A Instrução, Português Popular, Revista dos Liceus e A Tribuna. A par desta intensa actividade, fundou a “ Casa Editora (e Livraria) A. Figueirinhas”, mais tarde a ser conhecida como “Empresa (e Livraria) da Educação Nacional”. Passando a publicidade, todo o universo Figueirinhas, fundado em 1895, com a respectiva livraria, em matéria de publicações e outros materiais, mormente um monumental dicionário, tem na sua génese este nosso arrojado empresário. Beirão a residir na cidade do Porto, jamais esquece as suas raízes. Aqui e uma vez mais em Oliveira de Frades, ajuda a lançar o jornal “ O Lafões”, na companhia do Dr. Celestino Henriques Correia Severino, tendo ainda dado o seu contributo ao “ O Porto”, sem nunca esquecer o (seu) “ O meu jornal”, onde, para além de outros temas, defendia o seu império no campo da educação. Dele se escreveu (Ler, 2000): “... Professor, pedagogo, editor, tradutor e escritor, jornalista, é este homem culto, de formação católica, preocupado com as questões ligadas à formação do carácter dos indivíduos, o fundador da «Figueirinhas». Dele diz Mário, o neto que lhe tomou o nome e o negócio: « O meu avô era um idealista como editor, de maneira que editou muito, mas também teve grandes prejuízos, como foi o caso do José Agostinho»” Homem aberto à cultura nacional e internacional do seu tempo, avançou para edições no Brasil, em França (aqui, foi significativa a sua “Biblioteca das Famílias”). Um ano, em 1929, desloca-se mesmo ao nosso país irmão. Ali visita instituições do Rio de Janeiro e de S. Paulo, entre outros locais, como nos narra Aires Antunes Diniz, numa curta publicação intitulada “ A década de 20 no Brasil: uma visão portuguesa da educação brasileira”. Visto como homem de negócios, fazendo gala da sua formação cristã e do seu vincado conservadorismo, no entanto, ali aparece com visíveis preocupações pedagógicas, analisando a ortografia, a pureza da língua, a pronúncia das palavras, olhando sempre para a forma como funcionam as instituições educativas naquele lado do Atlântico. A determinada altura profere uma frase arrasadora e lapidar, porque a seu ver: “ O mal da educação resulta da existência de ministros... “. Entretanto, tece rasgados elogios ao sucesso dos portugueses por aquelas bandas. Da sua vertente empreendedora nos dá uma visão alargada Luís Carlos Barreiras, já citado, nos “Anais do XXVI Simpósio Nacional de História, ANPUH, S.Paulo, Julho de 2011”. Fala aí no editor, no proprietário de uma tipografia e de uma livraria, de uma fábrica de móveis escolares, de um internato feminino ( o Colégio Santa Isabel), de um prolixo autor de várias obras, do docente de diversas áreas, incluindo as línguas francesa, inglesa e alemã, sobretudo no Colégio de Santa Marta, para além de passar por vários liceus e escolas primárias, sendo um acérrimo defensor destes profissionais, a ponto de se envolver na criação da Liga Nacional do Professorado Primário, em 1907. Por entre muitas outras publicações, atribuem-se-lhe estes livros: - 1901 (Contos para as Crianças), 1915 (Geografia: Resumo para Escolas Normais e Liceus; Livro de Leitura para a 1ª Classe; Manuscritos), 1916 (O livro da Festa da Árvore; Almanaque Figueirinhas: para Professores e Amigos da Instrução; Moral e Educação Cívica: 2ª, 3ª e 4ª Classes do Ensino Primário Elementar), 1917 (Curso Abreviado de Literatura; A, B, C do Estilo e da Composição), 1918 (Verdades como Punhos – Aos Professores), 1920 (Gramática Francesa; Gramática Inglesa), 1922 (História Pátria; A Civilidade – Para Crianças e Jovens), 1923 (Gramática Portuguesa), 1929 (Impressões sobre a Instrução no Rio de Janeiro e São Paulo), 1930 (O Último Concurso de Livros Primários), 1931 (Carta Aberta ao Exmo. Sr. Ministro da Instrução), 1935 (Aritmética: Para Todas as Classes, Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 11 Aprovada Oficialmente), 1937 (Ciências Naturais: 4ª classe), 1938 (Geometria: 3ª e 4ª classes), 1948 (Guia de Desenho), 1950 (Como se Aprende a Ler; Tabuada das Escolas); e, sem data de edição especificada (A Nossa Instrução Primária e o Senhor Dr. Alfredo Magalhães: Breve Crítica ao Desgraçado Ensino Público). Com tanta obra, por cá e por lá, por um e outro lado do mundo, para perpetuar a sua herança teve a sorte de os seus familiares lhe terem continuado parte de suas múltiplas actividades, nomeadamente a do citado império editorial. Falta agora um outro aspecto: que estas nossas terras lhe reconheçam o nome e façam qualquer coisa para o vincar nas nossas memórias. Vale a pena esse esforço cultural. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 18/01/18

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