sexta-feira, 13 de abril de 2018

Recordar e homenagear quem de Lafões andou na 1ª Grande Guerra

Cem anos depois da batalha de La Lys A nossa sentida e merecida homenagem O dia 9 de Abril de 1918, no contexto da 1ª Grande Guerra, tornou-se uma das datas mais traumáticas na história nacional portuguesa. Em terras de França, as nossas tropas foram dizimadas pelas forças alemãs, numa proporção de efectivos e meios que pôs a nu as nossas debilidades a todos os níveis: menos homens, menos formação, menos equipamentos, menos programação fizeram toda a diferença. Salvou-se uma outra e inesquecível dimensão – a dignidade com que as nossas gentes se bateram lá longe, em trincheiras por eles cavadas, no meio de nada. Entre cerca de 7500 baixas, de 9 a 12 de Abril, mortos uns, feridos muitos outros, aprisionadas grande parte dos restantes, de todos eles só nos restam as memórias. Num grande trabalho de pesquisa, datado de 2016, o nosso conterrâneo de S. Pedro do Sul (SPS), António Ferreira Gomes, deixou-nos um valioso testemunho sobre quem por ali andou e ali deixou tudo, incluindo, em muitos casos, a própria vida, com a sua obra “ A Grande Guerra, 1914-1918, O legado de SPS, Editora Exclamação, Porto”. Evocando seu avô, José Ferreira, um desses combatentes, prestou-lhe pública homenagem com o estudo que acabámos de citar. Por alturas do 1º Centenário dessa catástrofe, talvez só comparável a Alcácer-Quibir, como acentuou, nestes últimos dias, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, pegámos neste livro e folheámo-lo uma vez mais, com emoção e gratidão. Dele partimos para estes apontamentos. Num conflito que, como ali se escreve, mobilizou cerca de 65 milhões de homens por todo o mundo, tendo deixado nos campos de batalha 8 a 9 milhões de mortos militares a que se juntam 6 milhões de civis, tendo havido ainda 21 milhões de feridos, em 106000 portugueses presentes nesta Guerra, 214 eram do concelho de S. Pedro do Sul. No devastador teatro das operações, que decorreram entre 28 de Julho de 1914 e 11 de Novembro de 1918, a batalha de La Lys, em território francês, tem para o nosso país um desastroso simbolismo. Nas 7500 baixas verificadas, contam-se, nesse dia 9 de Abril de 1918, do concelho de S. Pedro do Sul, 7 mortos directamente afectados pelos terríveis confrontos desse dia fatídico, fora outros que se foram perdendo ao longo dos tempos como consequência desse trágico acontecimento. Portugal partiu para esta Guerra metido entre emoções e posições altamente contraditórias, com opiniões francamente contra e outras a favor, unindo-as apenas um ponto: a necessidade de se honrarem as alianças com a Inglaterra, fortemente envolvida nesta contenda, estando do outro lado a Alemanha, que acabaria por vir a perder em toda a linha. Dizem as crónicas que, aquando das mobilizações de 1917, para as diversas frentes de combate partiram “telegrafistas sem saber ler e escrever, artilheiros desconhecedores do material” e muitos sem qualquer instrução de tiro. Por sua vez, Henrique Manuel Gomes da Cruz (2014), em “ Portugal na Grande Guerra: a construção do «mito» de La Lys na imprensa escrita entre 1918 e 1940, FCSH/UN de Lisboa” integra este contexto de deficiente preparação no facto de, em 1911, haver 4478078 habitantes iletrados, cerca de 75.1% da nossa população, num país rural, fracamente industrializado, sem hábitos de higiene e saúde, factos que levaram a que, nos contingentes diversos, tivessem seguido muitos militares já francamente doentes e enfraquecidos. Se, em Angola e Moçambique, logo desde o início se perderam imensas vidas, em La Lys foi o que se sabe. Culpados? Como afirmar isso? Nem a história ainda conseguiu responder a este enorme problema, apesar das muitas conjecturas que têm sido feitas ao longo destes cem anos. Quanto à região de Lafões, sabe-se que muitos foram os nossos conterrâneos dos concelhos de Oliveira de Frades, Vouzela e, como aqui se vê, de S. Pedro do Sul que deram o seu melhor pelas cores portuguesas, mormente a partir do 1º Batalhão de Infantaria do RI 14 (Viseu) que integrou nas suas hostes 27 oficiais, 58 sargentos e 1149 cabos e praças, tendo saído de Lisboa a 23 de Março de 1917. Depois do início da batalha de La Lys, às 4 horas e 10 minutos do dia 9 de Abril de 1918, muita dessa gente não mais regressou. Muitos desses militares talvez repousem eternamente no Cemitério de Richebourg. A nossa sentida homenagem aos nossos Heróis. Recordar estes e todos aqueles que lutaram pela Pátria em qualquer tempo e em qualquer lugar ( é importante que isto assim se diga) é um dever e um sinal de gratidão que jamais podemos esquecer. Bem o fizeram o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o PM António Costa e o Presidente francês Emmanuel Macron. Cem anos depois, aqui fica também esta nossa humilde evocação. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, 12 de Abril de 2018 NOTA – Depois de enviado este trabalho, anexamos agora mais uns dados sobre os militares de Lafões que participaram nesse conflito, alguns deles tendo como destino a passagem por campos de concentração e trabalhos forçados, outros com destinos diversos que a triste vida lhes reservou. Felizmente que, no meio de tanta desgraça, ainda houve quem tivesse conseguido sobreviver praticamente até aos nossos dias. No nosso caso pessoal, tivemos o prazer de contactar ainda com Abílio Nunes Gonçalves, da Sobreira – Reigoso, corneteiro, do RI 14, e que foi regedor naquela freguesia durante muitos anos. Quanto aos que foram apanhados nas malhas do exército inimigo, como prisioneiros, temos boa informação em “ Maria José Oliveira – Prisioneiros portugueses da primeira Guerra Mundial, Frente Europeia, 1917/1918, Edições Saída de Emergência, Porto Salvo, 2017”, fonte de que nos servimos para estas notas. Assim nos fala: “... Entre 1917 e 1918, mais de 7000 militares do CEP estiveram presos em 81 campos de internamento e trabalhos forçados. Nos dois teatros de guerra, em África e na Europa, contaram-se 13645 presos e desaparecidos” (p.15). Sabe-se ainda que o 1º contingente do citado CEP embarcou em Alcântara para Brest (França) em 26 de Janeiro de 2017. Numa lista de 111 prisioneiros mortos, Maria José Oliveira cita expressamente, quanto à nossa região de Lafões, os nomes de Adelino Almeida – Fataunços, Adelino Tavares Ribeiro da Costa – Arcozelo das Maias, António Lourenço Alves – Paços de Vilharigues, Artur Francisco Grilo – S. Pedro do Sul e Diamantino de Oliveira – Oliveira de Frades. Entretanto, por meio de outras fontes, sobretudo ligadas ao Arquivo Histórico Militar, podemos ficar a saber, ainda que com eventuais falhas, quem combateu neste enorme conflito mundial. Eis algumas referências, em oficiais – Concelho de Oliveira de Frades: Zeferino Martins da Silva Borges, Luís de Portugal da Fonseca e Melo, Manuel Lopes Ferreira; S. Pedro do Sul – Manuel de Vasconcelos, Manuel Correia de Figueiredo, Manuel de Almeida Oliveira e António Marques da Costa; Vouzela – Francisco Correia de Figueiredo, Francisco Fernandes Aidos, José Martins Lopes Ribeiro, Abel Figueiral, Paulo Emílo Alberto de Figueiredo Garcia, João da Silva (Genealogia FB). Entre muitas outras centenas de sargentos e praças, citemos ainda os nomes de Abílio Nunes Gonçalves, António Lopes Ferreira, António Oliveira Fontes, Joaquim Dias Pereira Ramos e Manuel Fernandes da Costa (Id). Em localidades, apenas tendo em conta o município de Oliveira de Frades, há referências explícitas a Nespereira, Sobreira, Vila Chã, Santiaguinho, Porcelhe, Casal Bom, Destriz, Cajadães, S. Vicente, Prova, Oliveira de Frades, Quintela, Covelo, Entráguas, Vilarinho, Cadavais, Areal, Ribeiradio, Várzea, Parada, Arcozelo das Maias, Souto Maior, Pinheiro de Lafões, Bezerreira, Travassós, Várzea, Paranho, Destriz, Sequeirô, Souto de Lafões, Candemil, Conlela, Ponte, etc. Em suma, em cada uma de nossas terras, talvez possamos dizer que alguém daí natural ou residente passou por tão duras agruras. No momento em que se comemoram cem anos do fim dessa mortífera 1ª Grande Guerra, curvemo-nos perante sua memória, em homenagem e gratidão .

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