sexta-feira, 6 de julho de 2018

Reis e rainhas em Lafões

Monarcas em Lafões a começar por D. Afonso Henriques A história desta nossa região é rica em visitas, estadias e tomadas de posição por parte de muitos dos nossos reis e rainhas ao longo dos séculos. Território a motivar bons interesses, a dar vultos de relevo para a construção da nossa sociedade, recebia por um lado, dava pelo outro: aqui vinham os responsáveis pela monarquia, a esta fornecíamos gente de peso. Sem irmos mais atrás, muito embora haja referências a fazer ao Conde D. Henrique e sua mulher, a rainha D. Teresa, desde logo, a Lafões se dirige o nosso primeiro Rei, D. Afonso Henriques, não uma, mas várias vezes. Estão documentados vários contactos, um deles em 1152, quando concede ao Banho o seu primeiro foral. Antes, porém, declara o Cónego José Simões Pedro ( in “ A Trapa – Monografia histórica da antiga povoação e couto real do Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões, 1990”) que o citado Conde D. Henrique estivera nestas nossas terras em contacto com João Cirita, tido como um dos fundadores do Mosteiro em causa, ele que “recuperara a velha ermidinha já quase em ruínas” (p. 18). Em jeito de conclusão, refere mesmo que o próprio D. Afonso Henriques também por ali passara, mas não deixa grande margem de manobra documental. É de notar-se que, ao conceder ao Mosteiro de S. Cristóvão os Coutos da Trapa (1161), Valadares e Paçô, não se deve estranhar, assim, que por estes sítios tenha andado ainda antes das suas estadias no Banho. Sem grandes dúvidas, tal como assegura António Nazaré de Oliveira, sabe-se que nas Caldas do Banho esteve, em 1152, o rei D. Afonso Henriques, aliás, por alturas da concessão do respectivo Foral, como já dissemos. Estando muito ligado a Coimbra, a então capital do Reino, nem eram muito complicadas as vindas a estes territórios. Há ainda um outro dado a reter: a presença no seu círculo e cúria de fidalgos lafonenses como o pai do S. Frei Gil, alcaide daquela cidade, entre outras individualidades, nomeadamente D. João Peculiar (também muito ligado à fundação do nosso Mosteiro), arcebispo de Braga e uma das traves mestras da suas ligações internacionais. Se esta foi uma viagem anotada nos anais da história, mais famosa ficou, porém, a que fez (e aqui permaneceu por uns meses) no ano de 1169, após o desastre de Badajoz. De Setembro a Novembro desse ano, em Lafões lavrou importantes documentos, entre os quais se destacam: - Escritura de doação de terras em Fafe. - Carta de entrega de bens à Ordem do Templo. - Doação feita à Sé de Zamora. - Carta de Couto passada à Sé de Coimbra de metade da vila de Midões. - Uma outra carta de confirmação da doação do Couto de Oliveira de Frades a Santa Cruz de Coimbra. Adianta António Nazaré de Oliveira que com o Rei, em 1169, também estiveram nesta nossa região os seus filhos D. Sancho, seu herdeiro da coroa, e D. Teresa. Ao assinarem a tal carta, assinala-se ainda a presença nesse acto de Sancho Nunes, Governador de Lafões, do Alcaide Cerveira, fundador da Albergaria de Reigoso em 1195, de Suarez Fernandes, Juíz de Lafões, e de Mendo Pedro, arcediago e presbítero de S. Pedro do Sul. Além desta aludida presença de D. Sancho, enquanto filho do nosso primeiro Rei, tendo em conta que o testamento deste segundo monarca se encontra na Sé de Viseu, de acordo com Alexandre Herculano, na sua “História de Portugal, IV, Livro III, 1185-1211, Ulmeiro, Lisboa, 1983”, não é de se pôr de lado suas novas e possíveis vindas as estes sítios lafonenses, sobretudo depois da saga vivida a sul, no Alentejo e no Algarve. Está escrito que, em 1198, andaria por Trás-os-Montes, o que não invalida, antes consolida, estas nossas suposições. A nossa boa fonte, com uma poderosa marca de S. Pedro do Sul, aponta também a permanência por alguns tempos e talvez várias vezes, dos reis D. Dinis (ver Carta da Feira de Vouzela, 1307), de D. João I, de D. Duarte (Foral de Lafões, de 1436), de D. Pedro, do Infante D. Henrique e de D. Manuel I (Forais novos do Banho e de Lafões), sem esquecer, já em finais do século XIX, 1894 e 1895, a Rainha D. Amélia e seus filhos, D. Luís Filipe e D. Manuel, o nosso último Rei. Numa mais detalhada pesquisa, sobretudo pelos diversos itinerários reais, estamos certos que muito mais informação se poderá colher. Ficam, para já, estes breves apontamentos como aperitivo para outros estudos mais aprofundados. NOTA – Neste campo, tal como publicámos há tempos, não deve esquecer-se que em Moçâmedes e Bordonhos viveu o Rei Ramiro, de Viseu e de Leão, muito antes da nossa própria nacionalidade... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Julho, 2018

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