segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A minha República

Cidadão nascido a meio do século XX, na alma trago a República como suporte do regime em que vi a luz do mundo. Afastado quarenta anos da Monarquia, tenho dificuldade em abraçar este sistema como meu farol. Mas, sempre que os livros me foram ensinando e a escola me abriu os olhos - que eu sou daqueles que muito devo aos meus professores! - para a vida na sua plenitude, habituei-me a não queimar nada sem saber as razões de fundo... Dizer mal da Monarquia seria o corolário lógico do meu percurso de vida.

Não o faço, porém. O mal de um país ou de outro não se mede por esses padrões: há repúblicas com ditaduras de terror, monarquias com as mesmas linhas, contrastando com repúblicas de brilho resplandescente em matéria de respeito por tudo quanto seja direito e dever humano e monarquias que nada ficam atrás destas opções.

Não é por aí que se deve ir.

Há um elemento que aponto como marco essencial: o facto de, numa República, o sufrágio universal poder fazer de cada ser humano o supremo responsável pela sua nação, enquanto que, na monarquia, este lugar não sai das mãos de uma família instalada no topo da pirâmide, o que leva a que essa prerrogativa já esteja, de início, corrompida por um qualquer direito que, confesso, me não parece lógico, nem sustentado em qualquer base vista à escala da sociedade em que me encontro.
Quanto ao mais, democracia plena vejo-a em tanta monarquia e república do meu tempo que, só por aquele motivo, me coloco ao lado da minha República de 5 de Outubro de 191o. Felicito-me por poder saber que Lula da Silva, Barack Obama (etc.) subiram aos mais altos postos do Brasil e dos EUA, suportados por regimes republicanos, mas também Juan Carlos, de Espanha, não deixa de estar nos meus "favoritos", ele que é chefe de uma monarquia, por sinal restaurada já no último quartel do passado século vinte.
O marco diferenciador está num outro lado: o pensar e o agir dos homens de cada tempo mais do que o envelope que contém a folha do texto que subscrevem.
Neste momento, no meu país, quero felicitar o Centésimo Aniversário da MINHA República, que amanhã se comemora, ao iniciar o respectivo programa. Ponto final.
Mas tenho de confessar que todo este ar de festa se encontra envenenado pela guilhotina e pela arca frigorífica em que vive a sociedade portuguesa: com tantos cortes e congelamentos, nem a Sibéria poderia ser pior.
Esqueçamos isso, porém.
Daqui a pouco tempo, passam cem anos sobre o arranque da República. Bem haja, por isso!

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