terça-feira, 7 de abril de 2015

Antelas, a maravilha da pintura rupestre europeia

Pelas nossas terras - Anta pintada de Antelas, uma referência muito especial Nos últimos tempos, sob esta designação genérica de “Pelas nossas terras”, temos andado a tentar divulgar, com mais ou menos sucesso, alguns aspectos tidos como relevantes em cada freguesia, vistas estas de uma forma geral e genérica. Entendemos, porém, que, para falar deste sepulcro-templo, como o definiu o Professor Domingos Cruz, da Universidade de Coimbra, que tantos trabalhos de escavações e investigação tem desenvolvido acerca deste monumento, tínhamos de ser mais selectivos e mais incisivos, dedicando à Anta Pintada de Antelas este espaço, todo ele e é sempre pouco para retratar tamanha jóia da nossa pré-história. Guardada a sete chaves, em cuidado extremo, que se deve à clara consciência que está ali um tesouro fenomenal ( e as palavras são para ser usadas sempre que tal se justifique, como acontece neste caso), o acesso a esta Anta depende de contactos prévios com a Câmara Municipal de Oliveira de Frades. Desenganem-se, porém, os predadores destes locais em busca de metais preciosos: ali não há nada que preste, a esse nível. Nada. Mas a arte existente, única, intransmissível, antiquíssima e de um valor sem preço, essa, merece ser estimada, preservada e valorizada em tudo quanto for meio de divulgação patrimonial e turístico. Anta de Antelas, temos uma e uma apenas. Monumento nacional tardio, o que se justifica por só recentemente, em finais do século passado, depois de uma primeira abordagem, nos anos cinquenta, se ter confirmado a sua importância, está assim classificada desde o ano de 1990, através do Decreto 29/90, de 17 de Julho, com uma pequena correção em 1993, em que se alude à freguesia de Pinheiro de Lafões, onde se situa, ponto que ficara omisso e mal definido no documento inicial. Referenciada, mas não muito profundamente, pelo nosso conterrâneo de Fataunços, Professor Aristides Amorim Girão, em 1921, foram seus grandes divulgadores, anos mais tarde, década de cinquenta, os arqueólogos Luís de Albuquerque e Castro, Octávio Reinaldo da Veiga Ferreira e Abel Viana, que procederam a escavações e à recolha de parte de seu espólio. Colocados perante a evidência de um tão imponente monumento com um enorme fulgor em pinturas e figuras e perante ameaças de a natureza estragar as tintas e os traços, passado algum tempo optaram por cobrir, de novo, toda a câmara, corredor e mamoa, componentes deste tido de construções megalíticas. Nos anos noventa, voltam-se para este local as atenções do Município, pedindo a colaboração de entidades científicas credenciadas, em que, na altura, sobressaiu a Universidade de Coimbra, através do Professor Domingos Cruz. Com uma vasta publicação, até a servir para sua Tese de Doutoramento, pode referir-se, por exemplo, o Boletim Municipal de Oliveira de Frades, nº 86, de 1996, a par de muitos outros trabalhos. Nesse contributo, designou-a então como “ Um sepulcro-templo do Neolítico final”. Conclui-se aquilo que se sabia: este é um monumento funerário, datado dos anos que vão entre 3625 e 3140 a.C, em modelo avançado quanto a este tipo de operações de contagem do tempo (feita a nível internacional em dois locais distintos), contando com oito esteios, todos decorados no interior da câmara, parte central, e alguns mais nos corredores, em que proliferam pinturas e gravuras de significado difuso, nas cores a ocre vermelho e preto. Dali saíram para o Museu dos Serviços Geológicos de Lisboa vários objectos do seu espólio, alguns deles representados, em réplica, no Museu Municipal de Oliveira de Frades. Anta ou dólmen – esta, uma versão francesa, generalizada no século XIX – é para Marc Devignes a Lascaux do megalitismo e a catedral da pintura rupestre peninsular e europeia, pela riqueza, nitidez e extensão, com significado lógico e contínuo, de sua arte. Com uma expansão artística e científica de nível mundial (e não é demais enfatizar esta sua importância, porque reconhecidamente real), a Anta Pintada de Antelas tem lugar primordial no nosso património. Só que, por vezes, não se dá por isso e é pena… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2 Abril, 2015

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