terça-feira, 21 de abril de 2015

Destriz, agora também minha freguesia...

Pelas nossas terras - Destriz com um pé na água e a alma no ar Com o Rio Alfusqueiro a cortar em dois bocados a freguesia de Destriz, sendo que os lugares da Ribança, Caselho e Silvares estão na sua margem esquerda, opondo-se-lhes, em posição geográfica, Destriz, Carregal, Pisco e Benfeitas, é natural que estas águas, lá em baixo, sejam marca registada desta terra. Acontece que, bem no cimo, nas Benfeitas, a Nossa Senhora da Conceição, em ermida antiga, e o Miradouro de Santa Maria, nesta mesma localidade, apelam a que se olhe para o Alto, em sinal de humildade e de sentida prece. Já os povos de outrora teriam pensado em algo de arte espiritual, quando gravaram, nas Pedras das Ferraduras Pintadas e dos Cantinhos, nos limites deste mesmo lugar, as suas perenes mensagens. É assim Destriz, caldeando a “cratera” em que se situa a sede desta circunscrição administrativa, outrora sozinha, agora em partilha com Reigoso, com as alturas e cumes da Serra do Ladário/Talhadas. Desta variedade, sai a sua riqueza, em agricultura, em avicultura e produção florestal. Pegando naquilo que a natureza dá, as suas gentes aperfeiçoaram esses mesmos dons da natureza e arranjaram outros. Falam por si a recente e próspera mecanização avícola, como relataram, há dias, os nossos Correspondentes e como, em 2010, agarrando num simples exemplo de técnica e de saber, criado por António Fernandes Martins, se veio a mecanizar um canastro de 1000 alqueires de milho, uma engenhoca que mereceu honras de destaque no Boletim da Regionalização Regional da Agricultura e Pescas do Centro (nº12, Março 2010). Por falarmos em pescas, célebres, saborosas e apetitosas são as trutas desta zona, que nos habituámos a conhecer, muito na companhia do saudoso Padre Manuel Ferreira Diogo, o herói da ligação, por ponte, entre as margens do citado Rio, hoje aprazível Praia Fluvial, no Verão, e carregado de fanfarronice bem molhada em cada Inverno que passa. Nas páginas deste nosso NV, que o Zé de Lafões (P.e MFDiogo) tanto enriqueceu com seus escritos, lamentos e críticas, esta (meia) Ponte deve-lhe muito, quase tudo. Sugerimos que esta, ou outra que lhe venha a suceder, passe a ostentar, em toponímia, seu nome para sempre. Encravado entre os distritos de Viseu, de que é um dos extremos, e o de Aveiro, perto das Benfeitas e do Pisco, há sinais evidentes e claros da velha Estrada Romana, assim como se registam, em placas, nesta última localidade, os benefícios da EN 333, que haveria de pôr em contacto capaz Oliveira de Frades com Talhadas do Vouga, imagine-se, apenas em meados dos anos sessenta do século passado. Mais temporões foram os Romanos, como se viu, e eles bem sabiam o que faziam, já há cerca de dois mil anos. Terra de muitos encantos, a religiosidade tem aqui um ponto de destaque com a Igreja Paroquial a parecer um eremitério, por estar fora do tecido urbano, com a magnífica Capela das Benfeitas e suas preciosas pinturas, a Capela de Santo António, na Ribança, as Capelas velha e nova de Nossa Senhora da Nazaré, no Carregal, a que se lhe associa a bonita lenda da Pedra do Ar, o já citado Monumento em honra de Santa Maria, Benfeitas, são prova dessa mesma dimensão social. Em património, logo sobressaem as Pedras das Ferraduras Pintadas e dos Cantinhos, nas Benfeitas, as Estelas Funerárias no Adro da Igreja, que mostra ainda uma pequenina imagem, em nicho no seu exterior, que bem merece uma atenção especial, os troços da via romana e respectivos marcos miliários (Museu Municipal), aparecendo, como sinal de novidade bem recente, o Museu Etnográfico, Destriz, e o Centro Social e Cívico, Carregal, assim como o Centro Cultural também nas Benfeitas, em obras. Tendo pertencido aos extintos concelhos de Lafões e de S. João do Monte e até à freguesia de Campia, Destriz integra actualmente o município de Oliveira de Frades, mas o que lhe começa de faltar é gente, como vemos nestes números: ano de 1911 – 459 habitantes; 1940 – 506; 1960 – 518; 1981 – 520; 1991 – 480; 2001 – 397; 2011 – 347. Para reflexão. Sinalizando-se Destriz na obra “ O amor em armas, José Marques Vidal, Oficina do Livro, 2009”, em que se fala, em versão romanceada da segunda invasão francesa, a fama desta terra anda por muito lado e com absoluta razão, quer por força de seu rico passado, quer pelo presente. Unida a Reigoso, o futuro passa pela imaginação e criatividade da massa humana que por aqui se mantém. Boa sorte!... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 9 de Abril de 2015

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