terça-feira, 28 de abril de 2015

Manhouce sempre com boa música...

Arte e música em Manhouce a rodos Em terra onde até as pedras sabem cantar e encantar e as pessoas nascem já com essa carga genética, ninguém se fica por esse dom natural, por se lhe dedicarem de alma e coração, que o trabalho, se não é tudo, tem, também nesta alta matéria cultural, uma boa dose de importância. Assim, em Manhouce, com tanta e tão boa tradição musical, há um novo projecto, ARS NOVA, que cresce, com gente muito jovem, a olhos vistos, com um Mestre de eleição, o Dr. Alexandrino Matos, um cidadão de Vouzela por opção própria e assumida. Para saber o que para ali se anda a fazer, para lá fomos num final de uma rica tarde de sol, por sinal, muito bem aproveitada. Em instalações cedidas pela Junta de Freguesia, à beira da nova e imponente Sede em construção, numa casa modesta, que alberga também o “Ditoso Saber – Associação Cultural”, encontramos quatro jovens meninas que, semanalmente, ali ensaiam as canções, ora em grupo, ora a solo, sempre com o fito de irem mais longe e mais alto no mundo da música. Com antecedentes a esse nível, o que delas sai tem algo de divinal, até porque se esmeram na aprendizagem e na participação activa neste seu projecto, que passa sempre pelos contributos de todas e do Maestro/Director quando é preciso tomar decisões. Com este sistema de partilha de responsabilidades e com os seus dotes pessoais, limados, apurados, puxados até ao céu, as mil maravilhas vêm a seguir. Por palavras, é impossível descrever o que se sente ao ouvi-las cantar. Mas imagina-se. Nesse fim de tarde de uma sexta-feira, dia treze, ali não houve azar, mas uma sorte de todo o tamanho. Vimos e ouvimos tudo, desde o arranjo da sala (que ainda cheira a uma espécie de cozinha improvisada em casa de ensaios) à colocação das pautas e ainda, sobretudo, à preparação de mais um dia de boa e poderosa formação. Afinadas as vozes, em exercícios eficazes, partiu-se para a prática activa, com as canções a desfilarem, tiradas de um vastíssimo reportório com umas seis a sete dezenas de músicas a levar aos concertos e às diversas participações. Feita a abertura com um trecho popular, a apresentação de “Acordai!” deixou-nos sem fôlego. E era apenas um ensaio, note-se. Para animarem este encontro, apareceram a Cíntia Silva Gomes, 16 anos, estudante em S. Pedro do Sul, a Susana Costa Alves, 19 anos, também estudante na Universidade de Aveiro, a Adriana Gomes, 20 anos, desempregada e a Ana Rita Sousa Trindade, 17 anos, estudante na Escola Profissional de Carvalhais, capitaneadas, como sempre, pelo Director Musical, António Alexandrino Matos. Com seis anos de prática musical, em geral, estas meninas fazem agora parte do já falado Grupo ARS NOVA, que nos remete, pensamos nós, para um rico universo de referências passadas, agora elevadas à categoria de uma nova arte, em homenagem ao “Ars Nova Musicae”, de Phillipe de Vitry, conceito surgido no ano de 1322, para dar uma ideia de outras mais latas roupagens para esta criação artística. Sem deixar de lado a riqueza local nos seus baixo, raso e riba, aqui parte-se também para outros voos, onde a erudição também faz parte do seu dia a dia. Com percursos constantes, em que se começa com a leitura, o assumir das peças, o amadurecimento para se chegar ao cântico, acompanhado pelo órgão ou à capela, a perfeição é o objectivo supremo. Tanto assim é que, em cerca de 10 ou 12 mil notas, se houver meia dúzia de falhas, já se pensa que correu “mal”. Por isto se vê quanto de exigência é sucessivamente posta sobre os ombros deste Ars Nova, que já tem vários apoios, mas merece muitos mais, alertando-nos esta gente para a necessidade de a CM de S. Pedro do Sul lhes vir a dar mais um pouco de atenção… Com muito saber passado de geração em geração, os três TTT, trabalho, talento e técnica não podem faltar. Temos então a receita óptima. Assim se passou nos concertos de Vouzela e Pereira de Bodiosa e não deixará de acontecer nos outros que estão em agenda ou em preparação. Porque trabalhamos com letras de computador, falta-nos aqui o colorido e o som inesquecível deste jovem e notável Grupo. Desta forma, fica um convite: procurem-se as suas actuações e não se perca uma delas, sequer. Vai valer a pena, de certeza. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2015

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