quarta-feira, 15 de abril de 2015

Um olhar sobre Lafões

Lafões, os sinais de união e os desenlaces De vez em quando, é a partir de minudências que chegamos ao alto das montanhas. Aliás, estes cumes só se atingem à custa de pequenos, mas decididos, passos ou de algo de natureza semelhante. Mesmo em veículos motorizados, a grande velocidade não é a regra geral, nem por sombras. Posto isto, vamos deixar falar a voz das emoções, pondo, aquém e além, umas pitadas de razão. Ou seja, este texto é tudo menos ciência, por opção, sem tirar nem pôr. Há dias, num encontro que tem associado o Almoço da Amizade revi um dado que nem sempre é muito perceptível, que é o da união entre os três concelhos de Lafões, pondo em prática a identidade que o Professor Amorim Girão bem quis evidenciar. Ali estiveram os três Municípios com representações oficiais, tal como vem senho hábito nestas iniciativas, nascidas em Oliveira de Frades, mas a ganharem e a solidificarem um verdadeiro estatuto regional. Veio ainda a nossa Casa de Lafões, de Lisboa, que tanto teima em conseguir um verdadeiro esforço comum, mas que tantos insucessos, infelizmente, tem tido. Começa aqui um fatal desenlace, um pé atrás que se não compreende, nem se aceita de ânimo leve. Com esta embaixatriz na Capital, é, no mínimo, estranho que dela se não tire o devido partido e se perca, assim, um manancial de potencialidades que os nossos antepassados nos legaram a partir de 1911 e, hoje, deixamo-la numa espécie de triste abandono, sobrevivendo apenas ( e bem) pelo trabalho e carolice de seus corpos sociais. Dos municípios, digamo-lo, frontalmente, pouco recebe e muito mal aproveitada ela é. Um dia, criou-se a Feira de Lafões, um bom e sonoro êxito durante alguns anos. Morreu. Igual e dramático destino tiveram a Adega Cooperativa e a Cooperativa Agrícola de Lafões. Uma e outra foram marcos em seus sectores de actividade, uma e outra deixaram-se enredar em quezílias e problemas sem fim, que foram muito para além das questões económicas e sociais de então. Desamparadas, tombaram para sempre, assim se eclipsando duas de nossa bandeiras. Ficou-nos a Vitela, mas até esta parece não singrar, nem vincar a sua posição e a culpa não é destes queridos e saborosos animais, é toda nossa, dos homens e mulheres, nós, que por aqui andamos. Ao folhear o livro da nossa memória – sabendo que vamos ser traídos por muitas falhas, o que nos leva a um público pedido de desculpa – e ao registar alguns bons exemplos em que a designação de Lafões está presente, não sabendo se a alma o está, total e abertamente, sentimo-nos bem em vermos que há a AEL – Associação Empresarial de Lafões, a ASSOL – Associação de Solidariedade Social de Lafões, a VerdeLafões, a ADRL – Associação de Desenvolvimento Rural de Lafões, a Confraria dos Gastrónomos da Região de Lafões, etc., etc. Numa outra vertente, mais política, temos a CIM – Comunidade Intermunicipal Viseu Dão-LAFÔES, a ADDLAP – Associação de Desenvolvimento Dão LAFÕES e Alto Paiva, mas aqui com S. Pedro do Sul a estar apenas com cerca de metade de seu território que há uma parte ligada à ADRIMAG. Em matéria de recolha e tratamento de lixos, pertence-se à Associação de Municípios da Região do Planalto Beirão, com outra excepção – Oliveira de Frades faz a sua recolha, o que já não é uma ligação total, esta a ficar-se apenas por Vouzela e SPS. Internacionalmente, num Programa de Valorização de Rios, a organização Waterwaysnet, lá se associaram os três concelhos, havendo neles o selo desse factor identitário, no Cunhedo, Zela, Gaia, Vouga, Pisão e Cambarinho, num total de oito parceiros de cinco países, desde os anos 2000 e tal em diante. Curiosamente, também a natureza tem algumas divisões, sendo ela mesma um factor nem sempre tão sólido quanto desejaríamos. Vejamos: este nosso território é tocado por três distintas Bacias Hidrográficas, as dos Rios Vouga, Mondego e Douro. Mas há um facto indiscutível: o Vouga é poderoso traço de união e o bastão que nos segura a todos, porque a grande parte de nossas águas é nele que vão desaguar, ficando apenas franjas para os outros dois, Mondego e Douro. Com tantos sinais de união e alguns, bem menos, de desenlaces, está nas nossas mãos querermos e sabermos caminhar em conjunto. Vamos a isso, nas Escolas, na Saúde, nas vias de comunicação, na distribuição de serviços, no equilíbrio e no arrojo das decisões a tomar, porque a técnica dos vimes aqui se encaixa que nem uma luva. Pau a pau, partimos por todo o lado. Unidos, caia o Carmo e a Trindade, que nos manteremos, firmemente, de pé. E é assim que nos devemos sentir: unidos para sempre… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 9 de Abril, 2015

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