terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Infelizmente, mensagens de ontem e de hoje...

Tecido económico da região de Lafões mudou tudo Um novo ambiente se respira na nossa zona desde que a economia nos trouxe alterações de fundo: em ciclos e em reboadas diversas, o panorama agrícola virou-se de alto a baixo, primeiro endogenamente, até como resultado de uma pirâmide etária que lhe não era favorável, depois porque a CEE, agora União Europeia, veio impor regras e limitações que, vistas à distância de mais de duas décadas, também não foram a melhor solução, mas fizeram grossa razia nesse sector. Por fim, uma crescente industrialização sentenciou uma nova fase, não a perca total dos trabalhos no campo, mas este a converter-se em esquema complementar, como função e como fonte de rendimento. Num olhar para trás, para as últimas dezenas de anos do século e milénio anterior, descobre-se facilmente uma nova ordem económica e social nestas nossas terras. Com a agricultura em segundo plano, ganharam a dianteira, numa primeira viragem, a avicultura essencialmente, seguindo-se-lhe a indústria no seu sentido mais lato, ou mais específico. Com a vinda do antigo IP5, actual A25, isto alterou-se como que da noite para o dia, sobretudo no concelho de Oliveira de Frades e várias franjas de Vouzela e S. Pedro do Sul. Ultrapassando o turismo, como elo estrutural que também deveria ser, a indústria arrancou ao solo uma percentagem altíssima de mão-de-obra. Por volta de 1980, o sector primário, a agropecuária, cifrava-se em cerca de 70% das funções desempenhadas pela população activa, ou mesmo mais. Despontavam alguns serviços, para apoiarem a citada avicultura, sendo a Cooperativa Agrícola de Lafões, a Uniávila e um punhado de outras empresas um vivo exemplo desta tese, mas pouco mais se ia daí para diante. Com um comércio que nunca foi pujante, com um incipiente turismo, excepto, como é óbvio, as Termas de S. Pedro do Sul, eram escassas as saídas profissionais, sendo a emigração dos anos sessenta e a fuga para os grandes centros o corolário desse quadro apagado em que por aqui se vivia. Com a “vinda” da indústria, tudo se inverteu e, hoje, esse mesmo sector primário é praticamente residual. Já agora, importa dizer-se que, para agravar o panorama pré-industrial, até a resinagem se perdeu, assim como a venda de vinho americano – uma razoável fonte de receita clandestina ainda há décadas – e o gado também se escapou, mercê, talvez, da falta de feiras (quem se não lembra dos Carvalhos e outros comerciantes do sector a carregarem comboios e camiões de bovinos em dias de feira de Oliveira, ou da feira dos 8, ou dos 20?...), factores que se tornaram fonte de empobrecimento de nossas gentes rurais. Felizmente, para o tecido social e económico em que nos suportamos, que hoje podemos falar em 150 maiores empresas (PME) nos três concelhos, cinquenta por cada um. Isso é um prazer como notícia e um alento como ponte para o futuro. Mas não nos sossega, de todo. Com as dificuldades que se abatem sobre todos nós, com a Banca a cortar no crédito de uma forma abrupta e perigosa, com a crise que congela, ou atrasa o consumo, não são risonhos os tempos que para aí vêm. Apesar destas graves constatações, é consolador verificarmos a pujança que estas páginas retratam e nelas se fala apenas de PME – Pequenas e Médias Empresas, sendo que este nosso território tem algumas das maiores e mais destacadas firmas, a uma outra escala superior, que marcam pontos positivos dentro e fora de portas, em muitas áreas de topo e de ponta. Se essa é conversa para outro serão, em termos de PME, não trepando ao céu, podemos declarar que vamos indo no bom caminho, assim a austeridade violenta que se vive não lhes venha cortar as pernas. Se isso acontecer, então tudo vai por água abaixo e reanimar a nossa débil economia será tarefa de meter medo. Esperemos que assim não aconteça. Como não nos queremos alongar muito nestes comentários, terminamos com estas considerações: com um bem haja a quem ainda tem o arrojo de investir, criando riqueza e emprego no meio de tantas adversidades; com um pedido às entidades que têm responsabilidades nestes sectores no sentido de não deixarem esmorecer o ânimo que por aqui se vai notando. E com uma saudação calorosa e carinhosa a todas as micro-empresas que são forte pilar do nosso dia a dia e que não constam desta tabela, onde também se não nota a presença de milhares e milhares de “empresários” de sempre, os nossos agricultores, que, como gestores tantas vezes de parcos recursos, fizeram maravilhas em suas casas, sustentando famílias e tendo o campo a sorrir de vida e produção. Finalmente: que se olhe, de vez e em força, para as PME e as não deixemos morrer na avalanche assustadora de grandes superfícies e marcas brancas que, sendo boas para os consumidores, são a ruína deste tecido económico e social. Em nome ainda da economia social, um outro bem haja a esta gente que inscreve nas suas condutas o pilar da solidariedade que tão útil é a quem mais precisa. Carlos Rodrigues, Janeiro, 2012, in “Notícias de Vouzela”

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