sábado, 4 de fevereiro de 2017

Fotógrafo lafonense de eleição, II

II - Homem Cardoso, um olhar de génio Muitas são as avenidas por onde se mete, no mundo da fotografia, o cidadão sampedrense, António Homem Cardoso. Deixadas as vielas e os caminhos de Negrelos, naquela ânsia de conquistar novos horizontes, a ida para Lisboa revelou-se um destino de sonho, feito de aventura, de trabalho e de uma procura constante de ir mais longe e mais além. Intrigado com este percurso que muito honra a sua terra, esta região de Lafões, sendo mesmo uma referência nacional, quis saber de que massa se “faz” um bom fotógrafo. Ao percorrer os recursos bibliográficos, encontrei este género de pistas: ter um olhar especialíssimo, diferente, dar azo à curiosidade, dotar-se de bom equipamento, enfronhar-se nos conhecimentos a fundo, percorrer as inovações constantes, absorvendo-as, fazer de cada lente um objecto obrigatório, estar no sítio certo à hora conveniente, etc. Tudo isto me pareceu muito, mas não me satisfez totalmente. Aquilo cheira-me a saber de livros e eu sei que, em Homem Cardoso, se isso não falta, uma outra dimensão absolutamente diferente tem de estar presente na sua vida. É ela: ser um génio da fotografia, ser e fazer o que os demais não alcançam, criando em cada trabalho uma obra pessoal e intransmissível. É esta a vertente que distingue este duplo h(H)omem, de género e de nome. Por isto mesmo, pôde escrever, em 2007, aquando da exposição “ 40 anos de olhar “. Disse e registou, sem meias medidas: “ Assinamos o amor que fazemos, porque exaltamos o que amamos “. Aí está um outro factor determinante: amar aquilo que temos como função e missão, sempre e intensamente, até ao limite do possível e, às vezes, quase a ultrapassar as próprias forças. António Homem Cardoso caldeia todas estas dimensões. Bebida a boa água da nossa terra, cada gota deu saborosos frutos. Fotografia a fotografia, em cada uma delas se vê arte e engenho, reconhecidas essas facetas marcantes pela Sociedade Nacional de Belas Artes, que apadrinhou a citada mostra de 2007. Os cerca de sessenta livros publicados, pessoalmente ou em parcerias, a sua passagem, como Director, pelas revistas “Foto” e Super Foto Prática” e como Editor de “Portugal Protocolo” deram-lhe estofo mais do que suficiente para, há curtos anos, ter encabeçado uma campanha de repúdio pelo facto de o Governo ter optado por fotógrafos estrangeiros para levarem por diante a divulgação intitulada West Coast Portugal, em que apareciam, estilizadas, algumas figuras nacionais, isto em 2008. Sem se opor a Nick Knight e a Steve Klein, os autores então escolhidos, fez saber que, num país que pretende valorizar o que é genuinamente seu, eram várias e ricas as respostas que poderiam ter sido encontradas sem partir para além-fronteiras. Pregando no deserto, ficaram pelo menos as suas palavras e o seu gesto de louvado descontentamento. Observador atento e perspicaz, duas outras qualidades de um fotógrafo a sério, as suas viagens pelo mundo têm sempre um requintado sabor, porque delas saem, de certeza, obras-primas em matéria de arte transmitida pela máquina com o coração de alguém que olha tudo de uma “outra” maneira. Qual? A de génio, repetimos, sem sombra de dúvida. Vários são os campos por onde se tem espalhado o seu arado: por exemplo, a gastronomia viu-o passar pela “Cozinha Tradicional Portuguesa”, com Lurdes Modesto e Augusto Cabrita; na viticultura, ofereceu-nos, com Virgílio Loureiro, a “Enciclopédia dos Vinhos de Portugal”; na doçaria, “Para a história da doçaria conventual portuguesa”, em conjunto com Alfredo Saramago; na sociologia religiosa, “O caminho do Tejo” integra-se na devoção a Nossa Senhora de Fátima, sem esquecer, numa outra dimensão, o “Caminho português para Santiago”; no património, o “Museu da arte e cultura da Covilhã” é um dos exemplos, mas o expoente maior está em “Tratado da grandeza dos jardins em Portugal”, em colaboração com Hélder Carita. Membro influente do Instituto Português de Fotografia, privou ainda de perto com Amália Rodrigues e muitos outros vultos da nossa cultura e história, quer na busca das melhores fotografias, de Presidentes a outras individualidades, quer como intercâmbio e enriquecimento mútuo e pessoal. A par de tudo isto, é ainda fotógrafo de moda, publicidade e editorial, tendo no mestre Augusto Cabrita uma de suas privilegiadas fontes e inspirações, sem, contudo, abdicar de colocar em cada trabalho a sua marca indelével. Para ser único, era inevitável que assim acontecesse. Republicana, uma espécie de ironia, convenhamos: o António Homem Cardoso, que tem na monarquia uma outra luz de seus olhos, lega para a posteridade uma instituição nascida num regime que a derrotou em 2010, já lá vão cem anos. Mas, para quem fotografou oficialmente Presidentes da República, isto só mostra o seu grande coração de democrata convicto. Celebrado a 19 de Agosto o Dia Mundial da Fotografia, mais estas referências se justificam neste jornal, por razões óbvias. Por outro lado, quando todo o mundo tem ao alcance de um pequeno toque este “admirável mundo novo “, nesta era digital, haver alguém que produz arte é sinal de um caminho que não está à mão de semear, antes se destina àqueles que têm nas suas entranhas o gosto pela subida ao Olimpo dos deuses, neste caso, o das fotografias. António Homem Cardoso está, por certo, lá em cima, por mérito e por dedicação empenhada. Para subir a tão alto patamar, talvez muito lhe tenha valido a Santa Verónica, sua Protectora e de seus colegas, mas foi ele que se fez a si próprio, claro está, apesar dessas possíveis “ajudas” e doutras. Se a sabedoria popular nos diz que “ Uma imagem vale mais que mil palavras “, cada fotografia de AHC ultrapassa qualquer dicionário, disso não temos dúvidas. É grande a consideração que aqui se tem pela figura e pela obra deste lafonense que tanto se tem destacado no campo das artes. Pessoalmente, sinto-me muito honrado por ter podido dar largas a estes humildes comentários e este “NL” também navega nesses mesmos sentimentos, posso afirmá-lo, convictamente. Afinal, António Homem Cardoso merece tudo isto e muito mais. A sua pegada fotográfica ficará cravada em chão que a não pode esquecer, a começar pela imprensa da sua terra, como facilmente se compreende. É por isso que aqui estampámos este nosso trabalho e com muito gosto o fizemos. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 2010

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