sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Ver as nossas terras a morrer....

Lafões em perigo de grande despovoamento - Tocam os sinos a rebate, agora já em carrilhões CR O ritmo de perda de população nos três concelhos de Lafões tem vindo a agravar-se de censos para censos. Quando tudo fazia crer que, neste novo milénio, essa hemorragia destas terras e de praticamente todo o Interior iria estancar, ou, no mínimo, a atenuar-se, eis que esse bom desejo cai por terra, em estrondo fenomenal. Se Oliveira de Frades, perdendo, ainda se segurou em certa medida, S. Pedro do Sul e Vouzela assistem a um despovoamento que ultrapassa tudo quanto seria imaginável e previsto, acontecendo nestes territórios um autêntico descalabro a esse respeito. Um olhar atencioso e preocupado pelos números oficiais, os respectivos Censos, mostra a gravidade desta situação. Vejamos o que nos dizem esses resultados: Oliveira de Frades: - 1981 – 10391 habitantes; 1991 – 10584; 2001 – 10584 (sic); 2011 – 10261; S. Pedro do Sul – 1981 – 21220; 1991 – 19985; 2001 – 19083; 2011 – 16851; Vouzela – 1981 – 13407; 1991 – 12477; 2001 – 11916; 2011 – 10540. Como se lê em linguagem ferroviária, pare-se, escute-se e olhe-se. Mas não fiquemos pela triste e ineficaz contemplação: se nada fizermos, daqui a uns tempos, será pior, muito pior mesmo. Este último mês de Janeiro, por exemplo, na freguesia de Campia fez o sino tocar a rebate, com 7 óbitos e nenhum nascimento. Por todo o lado, há, porém, um imenso carrilhão a lançar-nos preocupantes alertas. Se o saldo fisiológico (diferença entre os nascimentos e os mortos) é um dos factores da demografia, muitos outros dados e aspectos têm aqui uma palavra a dizer. Uma delas, tal como defendemos noutros centros de pensamento, tem a ver com as políticas públicas, a sua inexistência, a sua distorsão, os desvios feitos, a excessiva centralização e litoralização, que são causas maiores deste desastre em que nos encontramos. As migrações, as saídas em massa, este terrível êxodo rural da população em idade activa e fértil deixam tudo a perder. Comparando os nascimentos com os óbitos, a diferença é clara e gritante, olhando apenas para os anos que vão de 2010 a 2015/2016: NASCIMENTOS – Oliveira de Frades – 2010 – 66; 2011 – 81; 2012 – 72; 2013 – 77; 2014 – 56; 2015 – 52; 2016 – 57; S. Pedro do Sul – 2010 – 117; 2011 – 97; 2012 – 86; 2013 – 82; 2014 – 76; 2015 – 75; 2016 – 87; Vouzela – 2010 – 61; 2011 – 55; 2012 – 60; 2013 – 43; 2014 – 42; 2015 – 53; 2016 – 51 – “ Dados do Instituto de Registo e Notariado” No outro lado da balança, aqui apenas até ao ano de 2015, atendamos ao que se passa em termos de FALECIMENTOS – Oliveira de Frades – 2010 – 141; 2011 – 130; 2012 – 121; 2013 – 141; 2014 – 131; 2015 – 120; S. Pedro do Sul – 2010 – 231: 2011 – 263; 2012 – 262; 2013 – 258; 2014 – 256; 2015 – 253; Vouzela – 2010 – 87; 2011 – 85; 2012 – 84; 2013 – 73; 2014 – 78; 2015 – 79 – “Fonte – Sistema de Informação de Estatísticas da Justiça, Projecto HERMES, Direcção-Geral da Política da Justiça”. Estes dados falam por si. Analisando-os, pesam muito mais os números de quem morre do que de quem nasce. É neste desnível negativo que se escreve muito das páginas do despovoamento e desertificação (fenómenos distintos mas algo ligados entre si) a que assistimos e que se têm vindo a agravar de ano para ano. Outras leituras Pegando nas páginas da PORDATA, uma torrente vasta de informação geral e localizada sobre a nossa vida económica e social, vemos que em termos da Taxa Bruta de Natalidade, número de nascimentos por 1000 residentes (1 por 1000), a nível nacional, tínhamos, em 1981, um valor de 15.5 e na Região Centro, 14.6; em 2015, as descidas são assustadoras – 8.3 em Portugal, 7.1, na nossa Zona Centro. E o que se passa em cada um dos três concelhos de Lafões no mesmo período temporal? As diferenças são ainda muito mais notórias, como se pode comprovar – 1981/2015 – Oliveira de Frades – 16.3/6.1; S. Pedro do Sul – 16/5.2; Vouzela – 14.5/6.7. Sendo sabido e conhecido que o nosso País é dos que possui piores índices de natalidade, na União Europeia, e dado que a terceira idade, fruto do saudável aumento da esperança de vida, está em franca subida, a morte não deixa nunca de nos bater à porta vezes demais e quando menos o esperamos. Morre-se muito, nasce-se muito pouco, quase nada. Por isso, as nossas terras estão a ficar cada vez mais vazias e os campos em acelerada desertificação. Para inverter este quadro aflitivo, há que arregaçarmos as mãos e tudo fazermos para levar ao crescimento populacional dos nossos espaços territoriais, uma tarefa urgente que não nos pode passar ao lado. Ninguém pode ficar indiferente a esta hecatombe populacional. In “ Notícias de Vouzela”, 2017/02/02

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