quarta-feira, 24 de maio de 2017

Depois da proposta de saída do Procedimento por Déficit Excessivo, uma pequena janela por onde pode entrar melhor ar, recordo palavras referentes a 2012, um tempo de tantas agruras...s

2012 quase a fugir, 2013 a chegar Já não falta uma semana para nos despedirmos do ano de 2012 que, convenhamos, não nos deixou muitas saudades. Em trezentos e sessenta e seis dias, poucos foram aqueles que puderam ser colocados no pedestal da glória e muitos descambaram mesmo para o precipício de onde dificilmente se irá sair: com dores por todo o lado do nosso corpo social, algumas delas podem ser fatais para o futuro. Se nada for feito em contrário, a irreversibilidade de várias das medidas tomadas, ou que estão em curso, será uma realidade. Neste campo, temos a morte de muitas de nossas freguesias, que uma dolorosa e muito comprida votação, no passado dia 21, veio a consumar. Dos Tribunais, pouco ou nada se sabe, mas as perspectivas não são as melhores. Das Finanças, agora já se fala na “obrigação” de encerrar cerca de cinquenta por cento das Repartições, pelo que é prematuro estar-se a fazer qualquer prognóstico sobre aquelas que deixam de ter portas abertas e as que vão continuar em serviço. Por entre os escombros de um país em sofrimento, o que mais nos dói é o facto de sabermos ( e sentirmos) que se está a atingir até o que de mais sagrado devemos ter: a esperança nos dias de amanhã. Cada hora que passa, adensa-se a incerteza, mina-se a confiança, destrói-se a vontade de encarar, com optimismo e alegria, o tempo que nos resta e isso é dramático. Estando a olhar para o Orçamento de 2013, que entrará em acção a 1 de Janeiro, nele descobrimos linhas e números que nos afligem. A todos. Pouca gente escapa à sua agressividade financeira e económica, em cada grupo social. Um a um, em classes agrupadas ou individualmente, praticamente todos os sectores da nossa sociedade terão razões de queixa. Este é um documento que, não contentando ninguém, foi aprovado porque tinha que ser. Disseram os seus apoiantes, no Parlamento, escrevendo-o, que o votavam como um mal menor. Isto é grave. Por não ser objecto do entusiasmo de qualquer pessoa, nem de seus autores, nele se consagra o pior dos nossos destinos: ter de sofrer, quase até aos limites do possível, para o aguentar. Por esta razão, é o povo português, no seu conjunto, considerado herói e personagem nacional sem grandes contestações. Por saber encarar, ainda que com muito custo, aquilo que lhe impõem como uma fatalidade, que se deve a um estado da nação que assim não pode continuar por muito mais tempo, toda a imprensa destaca a coragem e o estoicismo de nossas gentes. Aqui não há povo anónimo. Aqui há pessoas, identificadas uma a uma, até mais de 10 milhões, que arcam com o enorme peso destes monumentais sacrifícios, porque assim tem de ser. Resignados, aceitamos este destino. Com uma pitada de esperança, separada, por uma linha ténue, do desânimo absoluto, neste ano de 2012, ainda apenas se vê que as nossas vidas não vão melhorar, por mais que nos queiram dizer o contrário. Aguarda-se, no entanto, que o próximo ano de 2013 seja um pouco diferente, mas até essa luz, pequenina e trémula, nos ameaçam tirar. Se isso acontecer, a escuridão nunca é boa conselheira e o pior pode acontecer. Crentes, por cá continuamos e não queremos agir como Depardieu que, em França, rasgou a sua nacionalidade e foi de abalada até à Bélgica, para escapar, ali também, à imensa carga fiscal que o irá atingir no ano que vem. Nós, aqui e sempre aqui, vamos resistir. Por mais que nos doa o futuro, este é o nosso dever: continuar a honrar esta nossa terra que, um dia, se lembrará de nos fazer readquirir o sorriso que nos têm roubado em cada programa, em cada lei, em cada medida tomada. Ainda não perdemos, de todo, essa ponta de esperança. Mas está por muito pouco. Fortes, lembramo-nos dos nossos antepassados e neles vamos colher a coragem para continuarmos este colossal desafio de continuarmos Portugal. Com Pessoa, a nossa pátria é esta. Com Camões, a nossa gesta é sempre obra inacabada e cada um de nós tem uma parte dela a fazer. Com Mendes Pinto, reconhecemos as nossas fraquezas, mas fazemos delas a ponte para esse dia de amanhã. Com o povo português que somos, assim vamos viver 2013 e por aí adiante. Escusado será dizer que é no povo que vemos a solução para os tempos incertos que temos pela frente. No povo e em Deus. Nos homens que nos (des)governam, confiamos muito pouco. E é triste dizê-lo. Perigoso mesmo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, há anos…

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