quarta-feira, 3 de maio de 2017

Uma terra com resina: Figueiredo de Alva

Nlafões13abr17 Pelos caminhos de Figueiredo de Alva Nestes passeios pelo concelho de S. Pedro do Sul, vamos hoje como que tocar mais uma fronteira, aquela que nos põe em contacto com Castro Daire, falando da freguesia de Figueiredo de Alva. Olhando para estes topónimos, há aqui uma certa relação de dependência, bem visível na designação da terra que nos serve de base a este trabalho. Não estamos perante nenhum dilema do ovo e da galinha, porque Alva aparece como ponto de partida essencial. Veremos, oportunamente, o que nos diz a história. Na estrada que da cidade nos leva a estas terras, as placas em que se refere a vizinha Castro Daire são por demais evidentes, pelo que não é difícil adivinhar-se uma ligação profunda entre estes espaços territoriais. Isto é: sendo vizinhos, são também filhos de um qualquer tronco comum. Para o comprovar, basta pensar que a Região de Lafões salta daqui para algumas localidades das vizinhanças já no outro município, como a definiu Amorim Girão. Nos seus 15,56 quilómetros quadrados, onde, segundo o Censos de 2011, viviam 816 pessoas, a densidade populacional reflecte a existência de um território de baixa densidade, com 52,4 hab/km2. Mas este facto não constitui qualquer excepção por estas paragens do interior. São mesmo a regra geral. No entanto, não são, nem podem ser, sinónimos de falta de vida, de movimento, de actividades diversas nos vários campos e patamares da economia a todos os níveis. Percorrendo povoação a povoação, logo à beira da estrada principal, no lado direito, no sentido de S. Pedro do Sul para Castro Daire, nos surge um símbolo emblemático de algo que, em tempos, foi marco de riqueza local e regional – a sua fábrica de resina. Sendo na actualidade uma espécie de relíquia arquitectónica, augura-se um futuro melhor dentro de algum tempo, tendo como base algumas recentes notícias em que se refere a vontade de a recuperar e pôr a funcionar, em sinal de revitalização de uma actividade que parece querer ressurgir por estes sítios. Oxalá que assim venha a acontecer, em breve e com garantida e longa sustentabilidade futura. Com base no potencial previsto pelo novo promotor deste projecto, os concelhos de S. Pedro do Sul e Castro Daire podem vir a dar10 mil toneladas por ano, quando, a nível nacional, na actualidade, se anda apenas pelas 6 mil. Por outro lado, as exportações podem atingir 90% do volume colhido e trabalhado em unidade fabril. Para melhor se compreender o valor deste recurso natural, apareceu, no ano de 2015, uma tese de mestrado da autoria de João Miguel Ramos Pereira, “ Estimativa do potencial produtivo de resina em pinheiro-bravo no concelho de Castro Daire, Universidade de Lisboa”, em que também se analisa esta freguesia de Figueiredo de Alva, em concreto, assim como uma parte de territórios do Sátão. As suas conclusões, para além de indicarem que, por aqui, esta actividade tem sido seguida, praticamente sem interrupção, pelo menos por um empresário, mesmo depois de a fábrica ter encerrado nos anos 90, fazem pressupor que há possíveis bons caminhos a percorrer, quanto ao aproveitamento da resina, também conhecida como pez ou breu cru. Logo, a aposta que está em cima da mesa parece ter boas pernas para andar. Recuando agora no tempo e olhando para outros temas, nos lugares da Igreja, Ucha de Lá e de Cá, Figueiredo de Alva, Vale da Nogueira, Cigana, Cruzeiro, Fermontelos, Ladreda e Laje, a evolução da população atingiu um pico em 1960, com 1328 habitantes, mas, desde então, tem vindo sempre a diminuir, bastante mais acentuadamente a partir de 1991 até 2011, tomando como base os respectivos Censos. Para se ter uma ideia mais precisa, vejamos o que tem acontecido, a este nível, desde 1864 em que tínhamos 848 residentes; em 1878 – 856; 1890 – 866; 1900 – 944; 1911 – 884; 1920 – 886; 1930 – 986; 1940 – 992; 1950 – 1065; 1960 – 1328; 1970 – 1052; 1981 – 1154; 1991 – 1117; 2001 – 1026 e 2011 – 816. Paróquia de S. Salvador, dizem ter sido terra, entre os séculos XIII a XIX, dos Morgados de Alvelhos, vindos de Ferreira de Aves, que, em Figueiredo de Alva, tiveram a Quinta do Paço. Em raciocínios diversos, chega a questionar-se alguma possível confusão com Figueiredo das Donas, mas essa tese da dúvida parece estar posta de parte, ou pelo menos isso se deduz da leitura de algumas genealogias. Paralelamente, em domínios senhoriais, as alusões às Torres da sede e de Ladreda indiciam uma importância medieval destes territórios, quer enquanto pertenceram ao município de Alva, quer a partir do momento em que dele se desvincularam. Indo no sentido inverso aos ponteiros do relógio, lá muito para trás, encontramos vestígios da pré-história em castros e outros testemunhos. Cultural e associativamente, assinalam-se o Rancho Folclórico de Figueiredo de Alva, o Grupo Folclórico Infantil e Juvenil as Flores de Fermontelos. Merece também uma menção especial a ADAFA – Associação dos Amigos de Figueiredo de Alva, a constituição da ZIF – Zona de Intervenção Florestal – administrada pela VerdeLafões, conjuntamente com as de Carvalhais e Bordonhos. Sabendo tirar partido das boas paisagens, o Percurso da Pedra das Bocas testemunha essas maravilhas, não esgotando, porém, esse capítulo, que se espalha por muitos outros locais. Modernamente, esta terra mostrou outra de suas facetas, a da criatividade, como se vê com o seu recente “ Bota a Sopa Fest”. Porque estamos em tempos de Quaresma, o “Amentar as Almas” desta freguesia é tradição que se não tem perdido, muito pelo contrário. Por isso, o passado e o presente estão por aqui bem vivos, entendendo nós que também o futuro está ganho, sendo que a recuperação da citada fábrica de resina isso mostra. Carlos Rodrigues

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