segunda-feira, 26 de junho de 2017

A morte e a destruição nos incêndios de 2013 e 2017, uma tragédia continuada. Até quando?...

Incêndios, pavor, destruição e morte A nossa região de Lafões tem estado no meio de um mar de chamas, quer do lado da Serra do Caramulo, primeiro, quer, mais tarde, a partir de domingo, também da Serra do Ladário. Tudo arde. O pior, no meio desta desgraça imensa, é que também temos a lamentar perdas de vidas humanas, como a voluntariosa Bombeira Rita Pereira, de Alcabideche-Cascais, que tombou no concelho de Tondela, e ainda vários feridos, alguns em estado grave, como o nosso conterrâneo, Presidente da Junta de Freguesia de Queirã, Prof. Joaquim Mendes. A quem nos deixou, servindo, que descanse em paz e o nosso enorme bem haja. A quem sofre, que a dor e os ferimentos passem depressa e a recuperação seja breve! Andando pelas nossas estradas, na tarde de domingo, o que verificámos, no terreno, deixou-nos profundamente preocupados: desde o IP5, depois do nó de Joana Martins, no sentido Aveiro-Viseu, eram quilómetros de serras queimadas, ou ainda em chamas. A caminho do Caramulo, o fumo e as labaredas falavam por si. Os Bombeiros, sempre eles, corriam de um lado para o outro, ou mantinham-se activamente combativos e vigilantes. Cruzámo-nos com um carro de Mem Martins, outro dos Bombeiros Velhos, de Aveiro, isto para só citarmos algumas das Associações que por ali andavam. Nos céus, eram os helicópteros que descarregavam água em cada dois ou três minutos. Entretanto, olhando para baixo, para a zona de Queirã, o negrume das matas queimadas logo nos fazia pensar no acidente que ali houvera, há poucos dias. Na Serra do Caramulo, uma imagem com que deparávamos sempre, num visto sem ser visto, era a de uma jovem sorridente, que, vinda de Cascais, interrompeu o seu destino a combater o fogo. Triste sina a sua! A par dessa imensa, inesquecível perda de uma Vida, a nossa mente fugia também para os vários acidentes que se sucediam em cada dia. Neste cenário de horror e terror, tudo perdemos. Por cima de Caparrosa, lá no alto, reinavam as labaredas e, percebendo pelo que íamos ouvindo, estavam em perigo as povoações de Carvalhal da Mulher, Caselho, Silvares, depois de Fornelo do Monte, de Póvoa dos Codeçais, de Adsamo terem passado, dias antes, por igual e perigosa situação. No alto de Alcofra, o mesmo cenário de pavor, neste caso, já passado. Enfim, palmo a palmo, a Serra do Caramulo foi perdendo fulgor, sendo palco de momentos de uma imensa dor florestal e, mais do que isso, humana. Em dia de Festa de Santa Margarida, que, naqueles mesmos momentos, decorria na vila do Caramulo, a dois passos das chamas, evocava-se, nas rádios, o incêndio do Chiado de há vinte e cinco anos, também dia vinte e cinco de Agosto. Assim, de uma só vez, eram duas imagens que nos martelavam na cabeça: a actual, cheia de temores, e a anterior, carregada de história e também das emoções de então, recordando nós aquelas imagens, vistas a preto e branco na Praia da Torreira. Mas, em tempo de memórias, a do dia 24, sábado, quando Rita Pereira, em Alcabideche, ia a enterrar, aparecia-nos sempre em frente: era o imenso Cortejo Fúnebre, eram as sirenes nacionais, em uníssono, a tocarem nos Quartéis de Bombeiros, eram o sino daquela Igreja em grito de dor, vendo esta Jovem a dizer-nos, tragicamente, adeus. Vivendo estas várias carradas de acontecimentos, ao vivo, uma outra logo vinha, fortíssima, ter connosco: as chamas da nossa Serra do Ladário, que vistas do alto de Varzielas, faziam pressupor o pior, como de facto se veio a verificar. As chamas chegaram ao Ladário, sete anos depois Com a recordação negra do ano de 2006, em que morreu, num outro grande fogo, António Tavares, de Reigoso, eis que, em 2013, volta de novo a tragédia: a Serra do Ladário ardia, uma vez mais… Naquele domingo, chegados a casa, da varanda, podíamos ter uma ideia aterradora do que se estava a passar, quando o lume teimava em não parar. A noite caiu e as ameaças ficaram. Se na Serra do Caramulo andaram centenas e centenas de Bombeiros, à do Ladário, após o fogo ter começado a deflagrar no Feitalinho-Arcozelo das Maias, segundo informação da Protecção Civil, chegavam eles em força e capacidade de entrega a essa sua duríssima e nobre missão, na ordem também das várias centenas. Antes, pelas 14.38 h do dia 25, domingo, era convocado o Grupo de Reforço para Combate a Incêndios Florestais (GRIFO 1), de Lisboa, tal a intensidade do incêndio que já então se fazia sentir. Veio a manhã e o panorama, infelizmente, não se alterou. Com o Posto de Comando junto às Bombas de Paredes de Gravo, ali, em ambiente de coordenação das operações, não eram boas as notícias que recebiam do terreno, devido ao ímpeto desse incêndio. Cerca das oito horas, ou ainda antes, entraram em acção os helicópteros, dois, e, um tanto mais tarde, os aviões. De acordo com o site da ANPC, às 7 horas e 45 minutos, foram accionados os aviões franceses, dois igualmente, do ramo dos bombardeiros operacionais, que, passado algum tempo, estavam a operar, como pudemos testemunhar, ao vivo. No solo, o comunicado da citada ANPC, às 7.25 h, anunciava a presença de 387 Bombeiros e outro pessoal, e 114 veículos oficiais. Entretanto, pelas 8.30 h, da mesma fonte ficávamos a saber que ali estavam 378 pessoas operacionais, 105 viaturas terrestres e dois helicópteros, a que se juntaram os citados aviões. Na sua marcha destruidora, o fogo caminhava, galopante, para o concelho de Sever do Vouga, por estas alturas, apesar dos esforços que estavam a ser feitos. Em complemento, nos últimos quinze dias, têm sido mobilizados perto de 5500 Bombeiros por dia, a fim de combater as centenas de incêndios que vão deflagrando, havendo, só no domingo, dia 25, mais de 360 focos de fogos, em que intervieram 7454 unidades de pessoal em 2018 veículos e, às seis da madrugada, viam-se 900 Bombeiros, para uma dezena de operações, em 238 viaturas. Aparecia, pela sua ausência, um bom sinal: não havia referências à Serra do Caramulo, uma prova de que ali fora extinto o incêndio que por lá andou desde quarta-feira. Nestes dias de pavor, destruição e morte, as nossas Serras passaram, de novo, a ficar sem vida. Com a culpa a ter muitas e várias raízes, sem esquecer que há gente e interesses no meio desta vaga assassina, uma delas tem nome: falta prevenção à altura e conveniente limpeza de matas. E o Estado, infelizmente, não dá o melhor dos exemplos. Nem por sombras. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2013 NOTA – Algum tempo depois de este texto ter sido escrito, Joaquim Mendes acabaria por falecer no combate a um incêndio na freguesia de que era Presidente de JF – Queirã, no concelho de Vouzela. Eterna saudade. Entretanto, nos dias seguintes à trágica morte de sua Colega, outros Bombeiros viriam também a dar suas vidas, pelo que o balanço final deste incêndio se agravou dramaticamente. Ontem, 2013, e hoje, 2017, catástrofes e mortes não nos têm deixado. Penosamente. Até quando? Até quando? Até quando?

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