quinta-feira, 29 de junho de 2017

Depois da tragédia, calem-se as vozes da discórdia, unam-se os corações da união, da fraternidade e da reconstrução...

Meus Amigos Depois da tragédia, cautela com as palavras e com propostas em cima do joelho Ainda com a dor e o luto estampados nos nossos rostos e cravados no coração, recordamos novamente as vítimas do terrível incêndio de Pedrógão Grande e concelhos adjacentes, para aqui trazermos mais uma curta reflexão. Num país que arde todos os anos, consumindo vidas e bens, muitos têm sido os discursos feitos e variada a legislação aprovada. A quente, fala-se muito, a frio, não se age convenientemente. É, porém, fora do tempo em que os corações choram que estes assuntos devem ser devidamente tratados. Ou seja: é nas fases da necessária prevenção (quase esquecida) que tudo deve ser tratado e planeado. Assim, correr para o Parlamento, à pressa, para fazer mais umas leis não nos parece um correcto caminho a seguir. Muito menos o é o facto de os políticos se atirarem uns aos outros em acesa luta partidária, quando a culpa é nacional. É nossa. Exceptuando o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, praticamente não há responsáveis que tenham sido sábios nas suas palavras. Todos (?) disseram aquilo que não deviam, procurando imputar culpas a terceiros, sendo que, numa tragédia que tem anos e décadas de antecedentes, não há inocentes. O mal vem todo de políticas, como temos vindo a acentuar, que se esqueceram de cuidar do Interior, onde resistem os heróis que nele querem viver contra tudo, incluindo as agruras de um clima que se agravam, e contra todos, sobretudo aqueles que, por uma ou outra forma, tiveram e têm poder de planeamento e controle territorial. Todos falharam. Com as matas a crescerem praticamente sem controle, não nos venham agora tomar como causadores de todos estes infernos anuais os pobres minifundiários florestais. Era o que faltava! Se lhes pagam uma côdea pelas madeiras que produzem e se os não recompensam pela biomassa e positivos contributos ambientais que geram, se lhes não oferecem dignidade económica e social na exploração de seus montes, tudo o que fazem para aqui permanerem deveria ter um custo a pagar-lhes. Nunca um preço a exigir-se-lhes. Nesta categoria de heróicos resistentes estão muitos de nossos assinantes e leitores que aqui habitam. Por outro lado, quem partiu fê-lo porque foram negadas a si e a seus antepassados tudo aquilo de que necessitavam, como sustento e qualidade de vida. Assim, espantaram-se os nossos pais, retirou-se a esperança de melhores dias aos filhos e estas terras fica(ra)m sem quase ninguém. Lafões, com mais de três mil pessoas perdidas entre 2001 e 2011, é o espelho triste de uma realidade actual. E o êxodo de muitos mais milhares e milhares de concidadãos nossos que daqui partiram de 1950 para cá é a prova de que estas mazelas vêm de longe. Por isso, temos incêndios a mais e verde criativo a menos. Pior do que tudo isto, as mortes é que mais nos doem. Sem remédio, sem apelo, infelizmente. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela” online, 29 de Junho de 2017

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