quinta-feira, 22 de junho de 2017

Depois do luto, repensar tudo....

Estes dias, depois da catástrofe de Pedrógão Grande e concelhos limítrofes, têm sido vividos sob uma intensa carga emocional, bem compreensível, aliás. Historiando tragédias recentes no nosso País, esta é das maiores e, em incêndios, talvez a mais dura e triste de sempre. Chorando os mortos, lamentando a dor de quem viu partir seus familiares e amigos, associando-nos à sua dor, desejando que os feridos venham a recuperar a sua saúde, importa agora que se avance para uma análise das condições que abriram as portas a estes dolorosos desfechos. A culpa tem raízes ancestrais e tem a ver com más e desastradas políticas públicas em planeamento e gestão do território, que têm agravado a falta de coesão territorial, levando massas e massas de gente do Interior para o Litoral sobretudo as duas grandes manchas urbanas de Lisboa e Porto, conduzindo ao despovoamento e envelhecimento de nossas aldeias, à perda do amanho das propriedades agrícolas, ao desordenamento florestal, ao crescimento exponencial de matos e ao crescimento da desertificação. Depois, certa tendência para monoculturas em arborização, primeiro, o pinheiro (e a zona onde estes acontecimentos mortíferos e devastadores designa-se mesmo, em termos de NUT III, Pinhal qualquer coisa), posteriormente, o eucalipto, não pode ser esquecida. Se não temos nada contra estas plantas, pensamos, no entanto, que elas progridem na medida inversa da forma como se encaram as políticas florestais e de planeamento:vistas as matas como pé de meia, carvalhos e outras espécies autóctones demoram décadas e décadas a gerarem receitas. No caso do eucalipto, por exemplo, numa dezena de anos, há um certo retorno garantido. Se este tema for encarado de frente, se houver vontade de, estruturalmente, se pensar na necessidade de termos um Interior a continuar a ser fonte de sustentabilidade territorial e ambiental, então, financiem-se os proprietários que queiram pôr os seus terrenos com índices de ocupação com raízes para o futuro. Se isso acontecer, o nosso País deixará de ser este inferno continuado em cada onda de calor que surja. Em políticas de defesa do Interior, que tudo seja pensado em bloco. Já não é apenas de floresta e de agricultura que se trata: é de uma VISÃO de conjunto que se precisa. Não se pode agir com fiscalidades iguais para situações tão diferentes. Nem pensar tudo como se todos vivessem na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Há gente que vive na Pena, em Adsamo, em Lameiro Longo, com monte por todo o lado e que tem o direito de viver em segurança. A Serra que tenho no meu horizonte, a do Ladário, no concelho de Oliveira de Frades, nos últimos tempos, ardeu toda em 2006 e em 2013. A do Caramulo foi palco de morte de Bombeiros e populares, com um intenso índice de destruição, no mesmo ano de 2013, em que a tragédia por aqui se espalhou. Águeda, bem perto de mim, assistiu ao falecimento de muito mais de uma dezena de pessoas, muitas delas Bombeiros, há uns anos. O mesmo aconteceu em Armamar e, mais longe no tempo e na distância, em Sintra. Este meu País arde demais. E nós, todos nós, temos assobiado demasiado para o lado. Mas tal atitude não pode continuar. Cada morte é um grito de alma que não nos pode deixar indiferentes. TEMOS DE SABER HONRAR QUEM MORREU CRIANDO CONDIÇÕES PARA QUE NUNCA MAIS VIVAMOS TANTA DOR! Olhar para o PAÍS com uma nova visão impõe-se. IMEDIATAMENTE.

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