quinta-feira, 21 de junho de 2018

Mais dados sobre a saúde em S. Pedro do Sul, século XIX...

De novo, a saúde em S. Pedro do Sul O tema da saúde nunca se esgota em matéria de análises e reflexões diversas, nem nos tempos idos, nem na actualidade. Dissemo-lo já que, durante milénios e mesmo nos tempos que mediaram entre a fundação de Portugal e o século XX, esta viveu uma marcha muito lenta quanto a tratamentos, meios e pessoal ao seu serviço. A ciência, enquanto tal, tardou a chegar a este sector e, quando apareceu, fê-lo timidamente e com muitas falhas, mas também não se podia exigir mais. Muito fizeram os pioneiros que agarraram no seu manancial de ensinamentos e progressos para os porem ao benefício das populações. Fazendo o que podiam, muito se lhes fica a dever. Quanto ao que a S. Pedro do Sul diz respeito, acrescentando, sobretudo, aos textos que para este jornal elaborámos mais alguns tópicos, temos vindo sempre a aprender. Com Manuel Barros Mouro fizemos uma marcha pela oferta e peripécias diversas ligadas ao velho Hospital de Nossa Senhora do Amparo; com António Nazaré de Oliveira vimos como evoluiu o Hospital Real das Caldas da Lafões e, já muito antes, com António Pires da Silva, andámos às voltas com a Cronologia Medicinal das Caldas de Alafoens, em linguagem, concretamente, do ano de 1696. Com estas fontes, escrevemos, em Dezembro de 2011, “ Um hospital que nasceu da oferta de António José de Almeida” e, por estes dias, a 7 de Junho de 2018, avançámos com “ A saúde em Lafões desde há séculos”, para além de, em trabalhos sobre as Termas e a Misericórdia de Santo António, ter havido notas várias sobre este mesmo ponto da nova vida social e assistencial. Hoje, porém, com base na sempre utilísima revista Beira Alta, vamos debruçar-nos especificamente sobre “ A influência da cultura positiva na arquitectura hospitalar: o Hospital de Nossa Senhora do Amparo de S. Pedro do Sul”, da autoria de Vera Magalhães, (Beira Alta, volume LXXIV, 2015, 1º semestre). Ao realçar que se começou a fazer uso dos “postulados higieno-sanitários e biomédicos e dos princípios da funcionalidade, racionalidade e classificação do doença”, onde começou a imperar a ciência, adianta que os planos e construções hospital vieram a reflectir essas novas exigências e normas. Vera Magalhães fala até em conceber estas instalações, a criar, como “máquinas de curar” ou “cabanas do higienista”. Aponta o médico António Augusto da Costa Simões como o grande obreiro destes recentes paradigmas que o engenheiro e militar Francisco de Figueiredo e Silva tentou aplicar à risca no projecto que concebeu para S. Pedro do Sul. Pegando-se na oferta de António José de Almeida (não confundir com o grande vulto da primeira República com o mesmo nome), antes, diversos locais foram estudados, tarefa de que se encarregaram, nos anos de 1882 e 1883, Manuel Lourenço Torres e Aureliano Pinto, por parte do Município. Vê-se assim que esta causa já era uma preocupação da Misericórdia e entidades locais. Analisadas as propostas da Cruzada, de Ansiães, da Negrosa, de dois locais distintos em Negrelos e na Quinta de Beirós e ainda da Cancela, o opção foi a de se privilegiar sítios fora dos aglomerados populacionais, para evitar possíveis e eventuais contaminações. Apesar dos estudos então feitos, em Abril de 1884, de acordo com esta nossa fonte, ainda não havia qualquer decisão tomada. Face a esse impasse, a Mesa da Misericórdia começou a pensar no Monte de S. Bernardo, mas também esse local não foi avante, incluindo-se ainda outras opiniões como aquelas que o jornal “ A Liberdade”, alguns tempos depois, em 6 Outubro de 1893, faria referências. Vieram também ao de cima a Quinta de Além da Fonte, nas Carvalhas, uns terrenos em Pouves,, mas tudo a ficar como que em águas de bacalhau, pois que, em Abril de 1887, nada surgira de concreto. Dois anos após, em 1889, olha-se então para o testamento de António José de Almeida, que falecera a três de Abril desse ano. Nesse documento se alude à “fundação e manutenção de um Hospital destinado ao tratamento de doentes, que terá a designação de Nossa Senhora do Amparo. Alega-se que este benemérito nascera em Nespereira Alta, que partira para o Brasil onde chegou em 1837, e que deveria exercer o ofício de barbeiro, o que contraria, ou completa, a nossa anterior informação de que seria médico dentista. Fica a correcção ou mais uma adenda para se aprofundar melhor este caso. Também Vera Magalhães nos diz que a opção para a construção do novo hospital recaiu sobre o Quinta da Negrosa de Cima. Com as obras a iniciarem-se em 1890, sob projecto do citado engenheiro Francisco de Oliveira e Silva, a empreitada foi entregue a José Pereira, de Santiago de Cassurrães, Mangualde, sendo Provedor da Irmandade José de Almeida Reis de Vasconcelos. Os trabalhos viriam a ficar concluídos em Fevereiro de 1898. Em conclusão, acrescenta esta autora que “ Pelo que atrás se expande, o edifício de S. Pedro do Sul integrava a moderna geração de hospitais tardo-oitocentistas, partilhando com estes características absolutamente fracturantes quanto ao modo de planificar e de administrar” (p. 97). Comparando os textos anteriores com este, constata-se que há neste uma série de novas informações e até alguns aspectos que podem colidir com algo que naqueles fora dito. É assim o mundo da investigação: nunca se pode dar nada por completo, nem por definitivo. Tanto melhor, porque da discussão nascerá a luz e é isso que pretendemos, acima de tudo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 21 Junho 2018

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