sexta-feira, 8 de junho de 2018

Uma utopia para salvar um território

A utopia deve fazer o seu caminho Em cada época, geralmente, tem havido várias utopias, isto é, em linhas muito gerais, a vontade de se vir a conseguir aquilo que, à primeira vista, parece ser impossível. Área do mundo do sonho, muitas destas visões ficam pelo caminho. Mas há as que singram e isso dá-nos um toque de esperança quando abordamos algumas delas, como esta, a do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, nosso Presidente da República, em que se defende que as desigualdades têm de ser reduzidas até 2023. E já não é sem tempo. Referindo-se, muito concretamente, às disparidades territoriais, mais vem ao encontro de um nosso velho desejo e, vamos lá, uma certa luta sem tréguas. Confessamos que, para mal de todos nós, sem grande êxito, aliás. Pondo o dedo na ferida dos Portugais desiguais, a nós, gente do Interior e das terras de baixa densidade, tem-nos cabido o Portugal dos Pequeninos, bem menor mesmo que aquele que Bissaya Barreto idealizou para a sua (e nossa) Coimbra. Postos à janela das serranias que nos rodeiam, vemos todos os comboios passar para o litoral e até o nosso, um dia, nas últimas décadas, nos levaram. Em movimento profundamente assimétrico e desnivelado, qualquer dia afundamo-nos todos e de vez. Qualquer índice que avaliemos, em matéria de desenvolvimento e distribuição de rendimentos, mostra sempre o nosso prato mais vazio, isto é, os níveis de vencimentos, de acesso aos serviços diversos, desde a saúde aos bens culturais, de benefícios vários, como transportes públicos, parcialmente pagos pelo Estado (quando se regateia o fim das portagens nas ex-SCUT), assim como outras regalias, deixam-nos quase sempre a perder. Ganhamos apenas em boa água e melhor ar. Mas faltam-nos outras riquezas que são a essência da vida dos novos tempos. É por estas carências que daqui saem carradas e carradas de gente que nunca mais volta, a não ser para umas visitas de cortesia aos seus familiares e às suas origens. Mas regressar, de vez, nunca mais. Por este e outros factos, esta vontade do Presidente Marcelo tem toda a razão de ser e é uma voz avalizada que não pode deixar de ser ouvida. Infelizmente, com tanta gente a pregar no deserto, talvez este alerta se venha também a perder. Para nossa desgraça e de nossos vindouros. Estes nossos queridos espaços tudo têm vindo a fazer para saírem da cepa torta: Oliveira de Frades lançou-se numa industrialização a todo o vapor, S. Pedro do Sul tem vindo a fazer da sua água quente uma mão-cheia de produtos de excelência, Vouzela, a partir de seu património, tem-no guindado às alturas, mas o certo é que custa a que se descole e isso pode-nos ser fatal. Logo, este grito do mais alto Magistrado da nação é mais do que necessário, é urgentíssimo ser seguido e cumprido. Propomos ao Professor Marcelo um desafio: que mude Belém por uns anos para o Interior a ver se isto dá a volta. E atrás dele que traga uma pléiade de serviços, daqueles que, como diz o nosso Movimento, tragam emprego, muito, bom e qualificado. É preciso dar murros na mesa, venham eles! NOTA – Vivendo no mundo de que vamos falar, arrepia-nos o facto de, no professorado, ter aparecido mais um Sindicato, salvo erro, o 23º . Se isto é falar a sério, vamos ali e já voltamos... Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, 7 jun 18

Sem comentários: