sexta-feira, 31 de agosto de 2018

81 anos em cima de um tractor por parte de João da Silva Reis, Vilharigues...

Em Vilharigues João do Tractor não mais perdeu o nome Com 81 anos de idade, João da Silva Reis nasceu em Vilharigues, Vouzela, e nesta aldeia tem passado quase todos os seus dias. A certa altura, a aquisição de uma máquina agrícola conseguiu mesmo mudar-lhe o nome, passando a ser conhecido por João do Tractor. Do rapaz que serviu à mesa mais de uma dezena de anos na hotelaria das Termas de S. Pedro do Sul, haveria de renascer o homem que, ao volante da sua viatura, revolveria a terra dos campos agrícolas da sua aldeia e das redondezas e faria milhares de viagens em transportes diversos, desde a madeira aos materiais de construção. Com oitenta e sete contos amealhados, comprou, aí pelos anos de 1972/73, um Fergusson 135. O pior é que, sem dinheiro para mais, aquela peça não lhe servia para quase nada. A salvação veio da sogra que lhe ofereceu uma centena de pinheiros para adquirir dois carroços. Este era, vê-se, um tempo em que a floresta era um bom mealheiro, a tábua de salvação para fazer frente a bolsos vazios. Sem ser o primeiro tractor da freguesia, que José Bica, em meados dos anos sessenta, já se lhe tinha antecipado (talvez a ser pioneiro destas andanças mesmo no concelho de Vouzela) com a compra de um também Fergusson 30, mas para seu uso exclusivo, apenas ao João da Silva Reis estava destinado que assim começasse a ser conhecido até aos nossos dias. Ao fazer do seu novo e útil brinquedo um instrumento de trabalho, cedo o pôs ao serviço da sua economia pessoal: desde então começou a lavrar os campos seus e de quem requisitava as suas funções, passando para o transporte de madeiras, pedras, aterros, materiais de construção e tudo quanto um tractor pudesse executar. Correndo montes e vales, andou por Ventosa, Covas, Fornelo do Monte, Póvoa dos Codeçais, Vila Chã do Monte, Queirã, Moçâmedes, Lourosa da Comenda, Serra da Arada, Carvalhais e por tantos outros lados. Noite e dia fundiam-se num só tempo, porque queria muito angariar umas massas para a casa em construção e para a sua vida em todas as suas vertentes. Uma longa carreira Fiel à marca com que se celebrizou nas suas novas actividades, há 26 anos trocou de tractor por um outro Fergusson, este 245, que é seu companheiro de praticamente todas as viagens, salvo as idas a Viseu ou outras cidades, pelas redondezas. Com charrua, grade, fresa, malhadeira de milho, arrancador de batatas, charrueco de abrir regos, ceifeira e outros equipamentos mecânicos, agora vai-se entretendo que os trabalhos para fora começaram a escassear há uns anos. Os subsídios europeus e a invasão de novas máquinas em quase todas as casas ditaram a sua nova sorte, uma espécie de chave para o descanso forçado. Do alto dos seus 81 anos e de uma vasta experiência sem um único acidente, ao falar daqueles que por agora vão acontecendo, atribui-os à velocidade e ao descontrolo, à falta de treino e cuidado. E disse-nos que os travões destas máquinas também não são muito de confiar. A caminhar para os cinquenta anos da sua nova profissão, depois da passagem pelas Termas e pela loja de Vilharigues, onde foi empregado comercial, ainda está para a curvas. Este nosso amigo João do Tractor é assim mesmo: unha e carne com o seu veículo de quatro rodas, é pau para toda a colher nestes serviços, mas, nestes dias, mais para seu uso próprio. Os anos de trabalho louco já lá vão. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Agosto, 2018

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