sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A desconfiança nas ofertas para as vítimas dos incêndios, em Pedrógão...

Incêndios, dádivas, dúvidas e revolta Temos por norma acreditar sempre na bondade dos homens e das instituições. Se, quanto àqueles, ainda podemos ter algumas desconfiançazitas (?), no que a estas diz respeito, valha-nos Deus, Nosso Senhor, nada a temer. Recordamos os trágicos acontecimentos de Pedrógão Grande de Junho de 2017 e a imensidão de dor e destruição que por ali aconteceu. Quando se lançou aquela fantástica e fenomenal recolha de dádivas e apoios, recordamos sempre as palavras que dirigimos a muitos amigos, no sentido de os estimularmos a participarem nessa campanha. Veio Outubro e fomos nós a precisar dessas boas vontades, que as calamidades não escolhem nem local nem raças, nem cores, nem credos. Por aquilo que, agora, descobrimos, na comunicação social, falhámos redondamente. Devemos, por isto pedir desculpa, a quem induzimos em erro. Foi com uma dor profunda no nosso coração que viemos a saber que, em Pedrógão, muita coisa falhou e trafulhices, assim mesmo, apareceram um pouco por todo o lado, mesmo em quem jamais imaginávamos tais comportamentos. Impossível, mas dizem que aconteceu. Inacreditável! O nosso dinheiro, as verbas do Estado não podem servir estes fins hediondos. Quando nos dispomos a abrir os cordões à bolsa é com a melhor das intenções que o fazemos, nunca para sermos cúmplices em jogadas de mau gosto e de aldrabices pegadas. Assim, tudo se perde, mesmo a confiança e esta é a derrota maior. As desgraças nunca podem ser a tábua de salvação para oportunismos doentios e expedientes perversos para dar cabo de fundos comuns. Se, acima de tudo, têm coberturas ao mais alto nível (ainda que municipal), está tudo estragado. Quando tal sucede, há que agir em termos judiciais e cíveis até às últimas consequências. Sem quaisquer espírito judicialista, longe disso, há situações que bradam aos céus e esta, a de Pedrógão, é uma delas. Quando a revolta se apodera destes casos, tanto pior. Estranhamos mesmo que, da parte de quem se diz que, estando por dentro do sistema e se fala em que tem alegadas culpas no cartório, não venha a agir em conformidade. Os cargos implicam responsabilidade e dignidade. Perdidas estas premissas, pouco mais há a fazer que não um profundo pedido de desculpas públicas e um adeus às funções até então desempenhadas. Isto é o mínimo que se exige numa sociedade e numa democracia sãs. Não podemos é deixar que a desconfiança total mine a nossa sociedade de alto a baixo e que a solidariedade seja posta de lado. Uma nódoa, por mais negra que seja, tem de se conseguir limpar. E esta tristeza de Pedrógão em malbaratar o dinheiro de todos nós não pode nem ficar impune nem levar a que a desistência em colaborar com quem, na realidade, precise do nosso apoio, se venha a impôr! Com a vergonha estampada no rosto por mais estas tropelias, acreditamos, apesar disso, nas virtudes de cada um de nós. E só assim descobrimos que o futuro comum seja cada vez melhor.... Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, Agosto, 2018

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