domingo, 12 de agosto de 2018

Os nossos comboios estão a morrer de morte macaca...

Comboios em marcha atrás Desinvestimento leva ao retrocesso Numa época em que se procuram alternativas ao consumo de combustíveis fósseis, em que se pregam boas doutrinas quanto ao uso de energias renováveis, em que o combate às alterações climáticas está na ordem do dia, é com manifesta estranheza que estamos a presenciar o brutal declínio do investimento ferroviário em Portugal. Quando era necessário modernizar esse sector, electrificando-o em grande escala, o que tem acontecido vai precisamente no sentido inverso: encerram-se as linhas e ponto final. Ou cortam-se as circulações diárias. Com a qualidade a descer, a procura retrai-se e gera-se um efeito bola de neve: quanto menos passageiros, menos respostas se colocam para uso público. Daí até ao fecho do sistema, a demora é curtísima. Se os séculos XIX e XX apresentaram grandes sucessos, desde que, a 28 de Outubro de 1856, se fez a primeira ligação de Lisboa ao Carregado, desde 2000 para cá praticamente só se tem recuado, a ponto de Nuno Miguel Guedes Teixeira, em 2016, na sua dissertação “ Sistemas de Transportes Ferroviários”, ter dito que “ ... O desinvestimento, em contraciclo com o resto da Europa, foi algo marcante do século XXI”. Olhando para os primeiros anos do seculo XX, vem-nos logo à memória o esforço heróico desenvolvido pela nossa comunidade lafonense em Lisboa, que, em geral, se empenhou a fundo na reivindicação da passsagem da Linha do Vale do Vouga por todas as nosssas terras. Nasceu dessa sua luta, coroada de glória, a criação do Grémio Lafonense em 1911, hoje Casa de Lafões. Ao ter-se encerrado e desmantelado esta via, já em finais do século passado, foi uma enorme desfeita que se fez a essa nossa valente gente. Entretanto, todo o sistema começou a fraquejar e as linhas a caírem uma atrás da outra e sempre a penalizar o Interior. Se, nos anos 50, tínhamos 3750 quilómetros de vias e hoje andamos pelos 2630, a maioria dessas perdas afectou as ligações para as pequenas cidades e vilas do nosso Portugal. O mapa amputado da rede ferroviária mostra isso mesmo. O pouco que ainda se vai fazendo situa-se em redor dos grandes centros e na orla do litoral. Por exemplo, na Linha do Norte, que tem obras de Santa Engrácia, que nunca mais acabam, lançaram-se os comboios alfa e intercidades, a estenderem o seu serviço a caminho do Algarve, do Minho e da própria Beira Alta. Rápidos, agradáveis, cedo conquistaram a sua malha de passageiros. Agora, corta-se no ar condicionado, suprimem-se horários e circulações e as queixas surgem de todo o lado. Fala-se bastante na Ferrovia 2020, um programa de 2000 milhões de euros para investimentos futuros. O tempo anda e as obras desandam. Com o desinvestimento em manutenção do material circulante e das vias, o desfecho afigura-se-nos negro. E triste. Mas ainda temos esperança em dar a volta por cima. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 9 ago18

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