quarta-feira, 22 de agosto de 2018

As lições de Monchique a seguir a tantas outras, tristes e trágicas....

Monchique a arder e a espalhar brasas por todo o lado Durante uma semana o concelho de Monchique, tal como em 2003, foi varrido pelas chamas, apesar de, há bem pouco tempo, ter sido apontado, com pompa e circunstância, pelo Primeiro Ministro, António Costa, como um exemplo de excelência em operações de protecção e defesa da floresta. O pior é que, quando o lume arde a valer, todo o passado em lições parece ter sido pouco, ou mesmo nulo: face à força da natureza e do avanço do fogo, a impotência (talvez com alguma incompetência nos comandos) manda e contra isso nada há a fazer. Não nos querendo armar em peritos de nada, mas como observadores atentos e empenhadíssimos na defesa do papel dos nossos Bombeiros Voluntários, por sermos um deles sem farda (Oliveira de Frades) e, por isso, nada imparciais, muitas das mazelas que temos vindo a descobrir, nas altas esferas, é o desprezo a que têm votado os homens de cada uma de nossas terras e no conhecimento que delas têm. Com o poder a ter demasiadas componentes centralizadoras, algo tecnocratas, perde-se proximidade e, talvez por essa distância, o descontrole passa a ser a regra, quando devia não passar da excepção. Neste grande fogo do Algarve, o maior da Europa por estes dias, assistimos a atropelos na cadeia de comando que nada nos agradam: de um dia para outro, Faro foi atirado para o lado e Lisboa pôs-se ali a gerir aquele mar de chamas. Posteriormente, quando por lá passaram o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Primeiro-Ministro, António Costa, recebidos com poses militares, os Bombeiros foram postos de lado, atirados, barbaramente, para o caixote do lixo. E isto é INADMISSÌVEL. É mesmo. Com 27 mil hectares ardidos, em três concelhos, 50 casas destruídas, 41 feridos, 49 desalojados, felizmente não houve mortos a registar e esse é um facto que TEM de ser realçado. Sabendo tudo isto, como alguém que tem no seu sangue a força dos Bombeiros Voluntários, estes mesmos, deste gigantesco incêndio de Monchique retiramos algumas lições: a primeira é aquela que nos leva a não gostarmos nada de ver a nossa gente desviada de todo este processo; a segunda é que ainda temos muito a aprender e a concretizar em termos de correcto planeamento florestal; a terceira é que não podemos esquecer o efeito de ricochete que estes fenómenos causam, por exemplo, ao nosso turismo e à imagem que, negativa, podem construir e ampliar. Por último, a percepção de uma certa descordenação não abona nada a nosso favor. Nada mesmo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Agosto 2018

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