sábado, 16 de novembro de 2019

Amorim Girão e o seu valioso contributo para a história de Lafões

Em tempos de jornadas arqueológicas, emerge a figura de Amorim Girão Por estes dias, em Vouzela e Lafões, muito se vai falando de pré-história e dos tempos posteriores nas respectivas “Jornadas Arqueológicas”, com uma grande variedade de temas e abordagens. Importa que se diga que nestas terras nasceu um enorme vulto da geografia e das coisas da antiguidade que lhes dedicou toda a sua vida. Falamos, como é óbvio, do Professor Aristides de Amorim Girão, que em Fataunços nasceu no ano de 1895, para vir a morrer num outro espaço que também muito amou, Coimbra, a 7 de Abril de 1960. Foi duma ímpar grandeza o seu legado de investigador meticuloso e de professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, de que chegou, por duas vezes, a ser seu Director. Olhando para a sua obra e sua maneira de ser, um de seus discípulos e continuador, Professor J.M. Pereira de Oliveira, assim escteveu, um dia: “ Dos belos mas confinados horizontes da sua querida região de Lafões e do sobrado paterno de Fataunços (...) teria trazido o «provincianismo» dos seus alcances e a esperteza dos seus atrevimentos. Mas daí trouxe principalmente a franqueza que lhe dava o aparente tom de rude, a honradez que o marcava de aparente avareza, a convicção reflectida que fazia a sua aparente teimosia, enfim, a sua crença, que lhe dava o aparente cunho de ingénuo... “ ( In Cadernos de Geografia, 13/1994). Assim sendo, entre aparências e a realidade iria uma distância enorme. Em toda a sua pessoa, se escondia, dizemos nós, a força de quem fez da ciência o seu múnus principal. Tivemos a sorte de, tendo as suas origens em Lafões, ter erguido este território aos altos patamares dos estudos que realizou e muitos foram eles, nomeadamente as “Antiguidades Pré-Histórica de Lafões”, 1921, a “Bacia do Vouga”, 1922, que foi a sua tese de doutoramento, e “ Viseu – Estudo de uma aglomeração urbana”, 1925. No meio de milhares de referências nacionais e internacionais, trazemos aqui ainda uma nota do Professor Fernandes Martins, também seu directo discípulo, que não poupu nos elogios, afirmando o seguinte: “ Geógrafo de alto mérito, professor entuasiasta e trabalhador infatigável, escondia, sob a aparência um pouco austera e rude, um coração generoso e uma dedicação ao alcance de todos”, seguindo os mesmos Cadernos. Uma vida em cheio Se as questões locais lhe serviam para dar largas ao seu gosto pela azáfama dos trabalhos de campos, percorrendo Portugal de lés-a-lés, não se quedou por aí. Quis ir e foi muito mais longe e mais além. Escreveu as “Lições de Geografia Física... Geografia Humana... Geografia de Portugal, Atlas de Portugal, os Compêndios de Geografia, Condições Geográficas e Históricas de Autonomia Política em Portugal, a par dos contributos para o Desenvolvimento dos Estudos Geográfcos em Portugal. Devem-se-lhe ainda as bases da Divisão Administrativa do Continente em Províncias, a partir dos estudos que efectuou, nos anos trinta do século XX. Elemento preponderante da Sociedade de Geografia a que aderiu em 1937, foi ainda bom conhecedor dos vários intervenientes políticos no nosso país. Entendendo que a geografia e a arqueologia devem ser analisadas e vistas à escala da Península Ibérica, estabeleceu adequada correspondência com cientistas espanhóis, muito especialmente com Gonzalo Reparaz Ruiz, como se nota na obra editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, em coordenação de Fernanda Gravidão, Lúcio Cunha, Paula Santana e Norberto Santos. Esclareceu que, a seu ver, as antas não eram apenas sepulturas mas também lugares de culto e de homenagem aos nossos antepassados do período neolítico. Terminamos o muito que sobre Amorim Girão há a dizer, com as suas próprias palavras. Disse então: “ ... O que os poderes públicos não fizeram, supriu-o a forte iniciativa particular que obreiros dedicados assim puseram em prática... O Centro, e particularmente a Beira Alta, tem sido votado a este respeito ao mais execrável esquecimento... “ Por útimo, aludiu às muitas carências científicas existentes na sua época, em que diz haver apenas registo de duas centenas de antas em todo o país. Sem Internet, os seus feitos, concretizados palmo a palmo, foram ainda mais relevantes. Sensível, deixou agradecimentos, nestes destaques: “... O nosso bom tio e padrinho, Dr. António de Almeida, e o professor primário José Manuel da Silva (pela sua) constante companhia” Na abertura das suas “Antiguidades Pré-Históricas de Lafões” descreve, em pormenor, as razões e as peripécias que o levaram a lançar esta obra no meio de “... dois copos de óptimo Falerno”, indicando ainda muitas outras pessoas que lhe deram a mão e o incentivaram a prosseguir. Pelo que fez, pelas pesquisas e registos que nos deixou, Amorim Girão jamais pode ser esquecido. A pré-história e a geografia, sobretudo estas duas áreas do saber, muito lhe ficaram a dever... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 14 Nov 19

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