quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Interior: ontem povoava-se, hoje despovoa-se....

Altos e baixos em termos de população Com base em recenseamentos, hoje sabemos ao certo, de dez em dez anos, quantas pessoas habitam uma região, um país e, de certa forma, praticamente todo o mundo. Mas nem sempre foi assim. Aliás, os censos, no sentido moderno, remontam a meados do século XIX, sendo que, antes dessa época, eram estabelecidas estimativas e assim se faziam as contagens, com mais ou menos aproximação. Usando como unidade de medida o fogo (casa), entendia-se, de acordo com uns autores, aplicar o multiplicador 4 ou, com outros, o 5. Foi o que aconteceu, por exemplo, com as Inquirições de 1258 que apontavam para estes números por região, com base em Teresa Ferreira Rodrigues ( In “História da população portuguesa, CEPESE, Edições Afrontamento, 2009”): - Entre Lima/Minho – 44100 pessoas; Entre Douro e Lima – 120000; Diocese do Porto – 32250; Lamego – 43680; VISEU – 64350; Coimbra – 44500; Guarda – 49000; Trás-os-Montes – 61600; Estremadura – 164400; Alentejo – 72000. Como regra, vivia-se em pequenos aglomerados populacionais, dizendo-se, a certa altura, que a Beira era a província mais rica, sendo o povoamento mais denso no Minho, Vale do Douro e Beira Alta. Acrescentava-se que o litoral sofreu importantes progressos a partir do século XIII, o que se foi acentuando – e agora de que maneira! – pelos tempos fora até à actualidade, com todos os quadros invertidos. Entretanto, verificou-se que o crescimento urbano foi superior ao rural, em regra geral. Olhando para aqueles números e, integrando-se Lafões na diocese de Viseu e na província da Beira Alta, constata-se que estes territórios faziam parte das zonas de maior povoamento. O que aconteceu, então, para dar cabo dessa tendência, esvaziando-se sucessivamente a ponto de hoje ser o que é: um espaço de baixa densidade, em vias de despovoamento acelerado e, em muitos casos, com muitas aldeias sem ninguém? Não encontramos explicações para além das políticas públicas seguidas ao longo dos tempos, na Monarquia até 1910 e daí para cá em plena República, já lá vão mais de cem anos. É de notar-se que “.... No reinado de D. Sancho I ocupam-se áreas nas províncias das Beiras e de Trás-os-Montes até então quase desertas”. Actualmente, escorraçam-se as pessoas para os grandes centros. Em tempos posteriores a esse Rei, com os seus sucessores muito continuou a ser feito em favor do povoamento das nossas terras, com medidas de fundo, como a Feira de Vouzela, no ano de 1307, a construção do Hospital Real nas Caldas do Banho, com D. Manuel I, entre outras motivações de fixação e atracção populacionais. Um dos factores que, nesses séculos passados, condicionava muito a vida das pessoas, levando a grandes oscilações no número de habitantes, era o das más colheitas, num tempo em que os produtos agrícolas eram determinantes para a própria sobrevivência das comunidades diversas. Só no século XIV foram contabilizadas as dos anos de 1309, 1324, 1326 a 1329, 1331 a 1333, 1336, 1339, 1344, 1346, 1347 e a enorme e devastadora peste negra de 1348, com a sua chegada a Lisboa, depois de Messina em Setembro de 1347. São impressonantes as perdas de vidas, na ordem dos 20 milhões de pessoas na Europa. Tendo em conta que, então, se estava muito longe dos valores actuais em população, a percentagem de mortos apresentou-se como uma catástrofe de dimensões incalculáveis. Infelizmente, as pestes não se ficaram por 1348, pelo que outras se anotam: 1361/1362, 1369, 1375, 1379/1383, 1400/1401, 1420, 1433/34, 1438/39, 1457/58, 1481/1485, 1490/92. Sem grandes cuidados de saúde e de higiene, é facilmente percebido o impacto destas epidemias e os problemas que colocava às diversas povoações e seus responsáveis. Hoje, felizmente, temos andado livres dessas tragédias, mas há uma que não nos deixa de preocupar: as más decisões políticas que nos dizimam, pela fuga dos campos, as nossas populações. E contra essas tardam a aparecer os remédios eficazes. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 21 Nov 19

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