quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Misericórdia de Vouzela com mais de quinhentos anos...

Misericórdia de Vouzela das mais antigas do País Num tempo em que se fala de eventuais mudanças nos seus órgãos sociais, é nossa intenção registarmos, neste espaço, algo da longa história da Santa Casa da Misericórdia de Vouzela, praticamente uma das primeiras, a nível nacional, a ver a luz do dia, em 15 de Agosto de 1498, seguindo a iniciativa da Rainha D. Leonor. Na base de seus princípios e compromissos, esteve a necessidade de prestar cuidados aos enfermos, de enterrar os mortos que de tal apoio precisassem, de alimentar os presos, de distribuir pão e alimentos aos carenciados, de oferecer agasalhos e roupas, de receber, na roda, as crianças abandonadas, de proporcionar acompanhamento condigno aos condenados e outros actos caritativos vistos como pertinentes. Tendo em conta que este movimento de solidariedade começou em Lisboa e ao mais alto nível, o facto de Vouzela ter estado logo na primeira linha das instituições criadas atesta a importância social e política que esta terra então detinha. Para dar uma ideia dos seus pergaminhos, no ano de 2009, o nosso saudoso colega, Agostinho Torres, elaborou uma bem detalalhada monografia, que nos serve hoje de boa fonte para fazermos este curto trabalho. Sendo impossível e impraticável falarmos de tudo o que ali se escreveu, fazemos ressaltar apenas umas curtas notas. A primeira destas tem a ver com o Compromisso de 29 de Janeiro de 1647, documento em que se registam os fins essenciais da respectiva Misericórdia, de que são uma espécie de bíblia e constituição que presidem a todas as acções a desenvolver e decisões a tomar. Foi confirmado pelo Rei D. João IV, a que se seguiram os reis D. João V, em 1738, D. José (1768) e D. Maria I (1786), entre outros monarcas. Diz-se que o primeiro edifício onde se instalou a Misericórdia se situava na Rua Direita (Morais Carvalho, na actualidade), assim como o hospital inicial também aí teve o seu lugar de partida, a durar até ao ano de 1880, altura em que, para se alargar a velha ER 41/EN16, veio a ser demolido. Passou depois este serviço de saúde para o Largo de S. Sebastião, antes de se fixar na Quinta da Cavalaria, onde veio a ser inaugurado em 1894 na presença da Rainha D. Amélia e seus filhos. Foi este local cedido pela D. Vitória Adelaide de Seixas Loureiro de Barros, esposa do Comendador João Correia de Oliveira. Quanto ao hospital velho, veio a ser um albergue depois de 1899. É de salientar-se que, em 1873, tinha a Misericórdia nos seus quadros dois médicos, um enfermeiro, um barbeiro com funções meio cirúrgicas, um arquivista, um tratador de relógios, um cobrador de foros e outros “funcionários”. Entre os edifícios construídos, um deles foi o da Igreja da Misericórdia, com as obras a serem iniciadas em 1593, sendo nele executadas grandes trabalhos de remodelação em 1647 (ano do Compromisso) e em 1743. Entretanto, em 1639, o Bispo de Viseu, D. Dinis de Melo e Castro, doara 15000 reis a esta Misericórdia de Vouzela e igual quantia para Trancoso e Pinhel e ainda 8000 reis para Aguiar da Beira, Penalva e Fornos de Algodres. Com vários e destacados benfeitores ao longo da sua existência, importa citar alguns deles, tais como José Ribeiro Cardoso, D. Vitória Adelaide Seixas Loureiro e Barros, já referenciada, e Benjamim Rodrigues Costa. Uma palavra também é devida aos médicos Dr. Agostinho Fontes Pereira de Melo, Dr. José Rodrigues de Almeida Coutinho, Dr. António Simões, Dr. Miguel Lopes Ribeiro e Dr. Adelino Dias Arede. Tendo já abordada a questão das actuais instalações, devemos acentuar que sofreram grandes beneficiações em 1958, sendo Provedor o Dr. Guilherme Ferreira Coutinho. Por estes tempos, no dia 1 de Fevereiro de 1959, era inaugurado mais um novo Hospital, cuja adjudicação fora feita aos empreiteiros Guilherme José Joaquim Cosme e António Baptista da Silva, que vem a ser expropriado pelo Estado em Maio de 1976. No meio de toda a azáfama, em 1972, avança o Lar Nossa Senhora do Castelo, aparecendo, em 1976, o Jardim de Infância, a Creche e o ATL e, em 2002, a Clínica S. Frei Gil, já com o Provedor Eugénio Lopes da Silva Lobo, a iniciar as suas funções em Janeiro de 1980 onde ainda se mantém. Entretanto, surgem também o Centro de Dia, o Lar e outras valências. Com mais de quinhentos anos de uma intensa história, quanto fica por dizer! Deixamos aqui apenas, e tão só, uns ligeiros apontamentos de uma Instituição carregada de um ilustre passado, um bom presente e um futuro que se espera auspicioso. É isso que desejamos. Carlos Rodrigues, in “Noticias de Vouzela”, 7 Nov19

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