sábado, 31 de agosto de 2019

Morre-se mais nas estradas...

As estradas matam mais Ano de 2018 com mais 12% em mortos Andar nas estradas é sempre um risco, nalguns casos, infelizmente, fatal. Ano após ano, os acidentes continuam a matar centenas de pessoas, atingindo-se, em 2018, o número de 675 mortes, o que representa, segundo o “Público”, mais 12% do que em 2017. Apesar de todas a campanhas e da presença das forças de autoridade, nada consegue estancar esta mortal hemorragia. Sabe-se que há toda uma série de razões para que assim aconteça, desde o azar, no seu sentido mais geral, aos descuidos de toda a ordem e à condução, vezes demais, sem os necessários cuidados e precauções, ao álcool e ao uso de telemóveis e outras máquinas enquanto se conduz. Também as viaturas e as próprias vias têm aqui grandes culpas nestes trágicos desfechos. Nesta mistura explosiva de motivos diversos, o certo é que os acidentes se multiplicam todos os dias. Além das mortes, há ainda os muitos feridos e estropiados que são as outras vítimas de todo este negro quadro. Ao juntar-se a tudo isto aquilo que tem vindo a acontecer com os tractores, um outro flagelo, constata-se que as máquinas matam, sem apelo, nem agravo. Estando nas nossas mãos algo de cautelas e precauções, muito do que se vê, em desgraças, nas nossas estradas deve-se a factores estranhos a cada um de nós, havendo, por aí, muitos inocentes.que tombam sem culpa nenhuma. De acordo com a mesma fonte, 151 pessoas morreram por atropelamento, 250 por despiste e 274 por colisão, sendo ainda de relevar que 240 destes concidadãos encontraram a morte dentro das localidades, 57 nos auto-estradas e 146 em estradas nacionais, além de outros locais. Deduz-se destes números que os AE ainda são as vias mais seguras, apesar da velocidade com que se circula. Preocupante é o que sucede dentro das nossas terras, quando aí existem muito mais regras e onde se exige uma atenção maior. Mas, como o mal espreita em todo o lado, aqui ele vem de onde menos se espera, assim como, convenhamos, nas outras situações. Nada disto é impessoal: cada morto, cada ferido, cada incapacitado têm a sua família e as suas redes de amigos. A dor espalha-se, assim, para e por muitas direcções num largo cortejo de doridos sentimentos e de imensos prejuízos. Se fôssemos aqui encaixar os números dos acontecimentos deste género em Lafões, haveria, por certo, também muito a lamentar. Sem coordenadas geográficas, a morte bate a todas as portas, como aconteceu, ainda há dias, com o despiste de um jeep na zona de Covas do Rio e de uma moto em Viseu com um rapaz de Fataunços, tendo ambos encontrado a morte nesses locais. Chorando as vítimas, que a sorte nos ajude, que dela bem precisamos para circularmos nas nossas estradas. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, ago19

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Pedra da Broa com a melhor sardinha de Agosto

No sábado, dia 10, um enorme arrraial Sardinha de primeira na Pedra da Broa Depois de uns dias de boa chuva, o sábado, dia 10, trouxe-nos o sol e esse foi um ingrediente importante para o sucesso de mais esta sardinhada da Pedra da Broa, que atraiu um grande número de lafonenses, vindos de um lado e de outro, em busca desta iguaria especial e do espírito de amizade e de convívio que por ali se respira. Se lá lugares e ementas mágicas, este evento anual é um desses. Ninguém sabe porquê, mas ali a sardinha tem um sabor especial, inimitável, bem como os demais ingredientes que aparecem em cada mesa e muitas são elas neste dia. Assada em cima da hora, mercê do esforço de uma equipa de peritos especializada nessa tarefa, ainda chega a cada comensal a escaldar. Bem acompanhada por umas batatas a murro e uma salada apetitosa, faz as delícias de toda a malta. Entretanto, em gigantes panelas, cozinha-se o segundo prato, sempre uma surpresa, sendo que, nesta edição de 2019, constou de um bom rancho. Com as bebidas e as sobremesas a cargo de cada família, o convívio tem sempre todo o encanto desta e de outras eras. Num olhadela por alguns “Notícias de Vouzela”, encontram-se referências a este encontro desde os anos setenta e, talvez, da própria década de sessenta do século passado. Prova-se assim a sua longevidade e o seu enraizamento no calendário cultural de Lafões, bem como a sua carga identitária. Ano após ano, há presenças que nunca faltam. Infelizmente, há muita gente que não aparece, mas cuja memória não é esquecida. Neste sábado, por estar algo adoentado, sentiu-se muito a não comparência de um fiel seguidor da velha guarda, Carlos Alberto Silva. Nem ele, nem o seu característico veículo ali estiveram. Rápidas melhoras lhe desejamos. Pelo contrário, o Eng. Armínio Quintela sentou-se no meio de todos quantos ali marcaram presença, ele que foi um dos “pais”, com o saudoso Manuel Gomes, destas sardinhadas. Em 2020, no segundo sábado de Agosto, o convívio da Pedra da Broa vai voltar. Nessa altura, haverá um novo figurino na sua organização: teremos já uma nova Associação, agora em fase de constituição bastante adiantada. Mas a essência de tudo isto será um selo que nunca se perderá. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Ago19

Um pais com território sem representantes na Assembleia da República

Um país onde o território conta pouco Para melhor compreendermos o título com que iniciamos este trabalho, basta dizermos que maior distrito em área territorial, Beja, com 10225 km2, 11.1%, em 92090 de todo o país, terá na Assembleia da República apenas 3 deputados, enquanto que o de Lisboa, com 2761 hm2, verá subir àquele órgão deliberativo 48 representantes. Com este quadro, logo se descobre que o espaço vale muito pouco, quase nada, nas contas a fazer nas próximas eleições legislativas. Vale, sobretudo, o número de pessoas, mesmo que estas se encontrem apertadas como sardinha em lata numa nesga de terreno. Em Beja, segundo uma das últimas previsões populacionais, viviam 158702 pessoas e em Lisboa, 2884984. É abismal a diferença. E assustadora. Num lado, cheira a deserto iminente; no outro, a uma amálgama de gente sem quase poder respirar. A Beja, em triste sina, podemos associar ainda Portalegre (2 representantes), Évora, Guarda, Bragança (3), Castelo Branco (4) e Vila Real (5). Viana do Castelo (6) vem a seguir, aparecendo, depois, Viseu (8), Santarém, Faro e Coimbra (9), Leiria (10). O peixe graúdo vem mesmo do litoral, como aqui demonstramos: Aveiro (16), Setúbal (18), Braga (19), e, lá no topo, Porto (40) e Lisboa (48). Numa outra perspectiva, só Lisboa e o Porto, enquanto distritos, ultrapassam a fasquia dos 2 milhões de habitantes, respectivamente, com 2884984 e 2397191 residentes. O salto, para baixo, é enorme: Braga com 924351, Setúbal (880765), Aveiro (814456), Faro (569714), Leiria (560484), Coimbra (541166), Santarém (454947), Viseu (378784), Viana do Castelo (252952), Vila Real (214490), Castelo Branco (196989), Évora (174490), Guarda (167359), Beja (158702), Bragança (140385) e Portalegre (120585). Entretanto, a Região Autónoma da Madeira (272706) e a RA dos Açores (249459) apresentam estes resultados, sendo que a Madeira tem apenas 801 km2. Os números são o que são. O pior é que eles falam de pessoas, pelo que todo o seu peso tem de nos fazer pensar. Já não se vive a duas velocidades. Estas são muitas e dolorosas. Há terras que quase já não têm voz nem se vislumbra quando isso possa voltar a acontecer. As eleições serão em Outubro. Em Agosto, o país está de férias e, neste momento, a contas com um enorme problema, o da possível falta de combustíveis. Os programas partidários já foram registados nos respectivos papéis. Não se vêem grandes linhas que nos mostrem grandes preocupações com esta candente questão do despovoamento, nem de um país a tombar para o mar. Lafões não foge a este registo negativo. Sempre a perder população, a sua alma escurece. Mas a vontade de vencer, essa, continua bem viva. Dos oito candidatos por Viseu, alguns dos possíveis representantes têm aqui o seu berço. Esperamos é que façam ver que existimos e temos força para irmos em frente. Se por possível e necessário, uns murros na mesa não serão nada descabidos. Que se mostre que territórios vazios são um desastre. As tabelas apresentadas mostram essa triste realidade. E é pena que assim seja. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Ago19

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Com a greve nos transportes de combustíveis, isto não anda bem....

Combustíveis na berlinda É costume andarmos a fazer contas quanto ao abastecimento de gasóleo e gasolina devido à pressão dos preços, mais a subir que a descer, semana a semana. Desta vez, as preocupações são de outra ordem: falando-se numa eventual greve por tempo indeterminado, relativamente ao abastecimento dos postos, agora isto chia mais fino. Já não é apenas o preço (que até vai descer) que motiva a nossa atenção, mas as torneiras que podem ficar secas. Depois de dias e dias em acesas discussões, com todo o país preso na teia dos argumentos de parte a parte, prevê-se que segunda-feira, dia 12, os camiões venham a parar. À hora que escrevemos estas linhas, apenas se sabe que o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas e o Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias deliberaram, em plenário, “não dar nunca um passo atrás”, avançando mesmo com a greve. Do lado de lá da barricada, a ANTRAM – Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias – contesta esta posição, facto que tem vindo a acontecer desde que as partes (re)entraram em negociações, sem quaisquer resultados práticos. Recorde-se que, há meses, uma acção deste género quase colocou o país de tanga. Apoiando-se nesse duro evento, o Governo, desta vez, não quis entrar em cena apenas para apanhar os cacos, mas optou por intervir “a priori”, em termos de mediação. Sem ter obtido qualquer sucesso nessa sua estratégia, o último passo foi declarar o estado de emergência e determinar os serviços mínimos, em escalões que vão dos 50 aos 100 %. Também este desfecho não agradou aos motoristas, de maneira nenhuma. Cremos até que, pelo contrário, foi mais gasolina colocada em fogo que já lavrava com grande intensidade. Na dúvida e no receio, os portugueses agarraram-se ao velho costume do desenrasca e correram para os postos de combustíveis, atestando as viaturas e levando material de reserva em tudo o que aparecesse com cara de pote. Resultado: bem antes da greve, em muitos locais tudo desapareceu, no todo ou em parte. Deste modo, extrapolando, pensamos que, durante uns dias, a satisfação ditará a sua lei, porque barriga cheia raramente recebe mais comida. E agora: o que irá acontecer? Com tão drásticos serviços mínimos, praticamente totais em muitas situações, ninguém sabe como é que todo este imbróglio vai acabar. Também são muitas as incertezas nos chamados postos normais, aqueles que estão fora da Rede de Emergência, sendo que esta cobre pequenas partes do todo nacional. Com o facto de se estar perante um evento sem fim à vista, são mais que muitas as preocupações. Com a requisição civil em cima da mesa, com as forças policiais e militares a postos, com o Governo a mostrar uma forte posição musculada, isto não augura nada de bom. Sendo constitucional a greve, é voz corrente que nem todos os fins justificam os meios. É que há um país que pode parar ou entrar em colapso e isso tem de ser evitado a todo o custo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Ago19

Os preparativos para a República no distrito de Viseu

O distrito de Viseu em meados do século XIX e a implantação da República Num momento decisivo da nossa História em que se derrota um regime, a Monarquia, e se lança Portugal na aventura da República, que tem no dia 5 de Outubro de 1910 o seu marco importante, o distrito de Viseu, na sua sede, ostentava já sinais de descontentamento com a velha ordem e mostrava ansiar por outros rumos. Os pontos da discórdia apresentavam-se, entre outras iniciativas, na criação do Centro Liberal (1865), Sociedade Civlilizadora e Assembleia Viseense (1855), Associação de Classe dos Empregados do Comércio/Centro de Instrução e Recreio José Dionísio, nos jornais Idêa Nova (1882), Democracia da Beira (1882), na Nova Luta e Intransigente (1894), no A Mocidade Republicana (1904), em A Beira – a Voz do Centro Republicano (1906) e em vários outros movimentos e instituições. Inseriam-se ainda nestas ondas reformistas a criação da Escola do Magistério Primário (1897), a Escola Industrial e Comercial (1898), a Escola Prática de Agricultura (1887) e ainda o Asilo Visesense da Infância Desvalida (1874), a Sopa Económica (1881) e o Círculo Católico de Operários/Instituto Liberal de Instrução e Recreio. Num claro sinal de decadência monárquica, que haveria de sofrer um dos seus mais rudes golpes com o assassinato do Rei D. Carlos e seu filho, o Príncipe herdeiro, Luís Filipe, no ano de 1908, também por estas nossas zonas despontavam indícios de descontentamento, agitação e tomadas de posição de um lado e outro da barricada. A imprensa febril dessa época disso nos dá abundantes sinais e Norberto Gomes da Costa (Edições Nodar) bons contributos deu a esta causa do conhecimento. Com mais ou menos duração, vejamos as publicações que, entretanto, surgiram em Lafões: no concelho de OLIVEIRA DE FRADES – O Lafões, 1892/1910/1930; Mocidade de Lafões, 1914; O Azorrague, 1914; Ecos de Lafões, 1916; O Lafonense, 1935; em S. PEDRO DO SUL – também O Lafonense, 1891/1925/1928, isto para indicar as respectivas entradas em cena desse órgão de comunicação social; o Jornal de Lafões, 1904/1913; A Defesa, 1926; A Comarca, 1898; O Vouga, 1898/1912; O Progresso, 1903; Voz da Beira, 1911; Ecos do Vouga, 1913; O Innonimado, 1905; a Democracia de Lafões, 1925; em VOUZELA – Aurora do Vouga, 1887; a Democracia, a anteceder a sua edição em S. Pedro do Sul, 1895; O Beirão, 1915; a Revista de Lafões, 1896/1926; O Presente, 1898; O Echo de Lafões, 1898; Aurora de Lafões, 1904; O Vouzelense, 1907/1929; Correio de Lafões, 1915; Notícias de Vouzela, 1935. No meio destes fontes noticiosas e opinativas, outras foram aparecendo, algumas delas apenas em cópias distribuídas de uma forma menos profissional. Com objectivos claros e bem demarcados, sem esconder os seus reais propósitos, cada um destes jornais ou revistas logo diziam ao que vinham, sem disfarces e, por vezes, mesmo em linguagem duríssima. Nos vários arquivos municipais, com destaque, para esta edição do Notícia de Lafões, para o concelho de Oliveira de Frades, dá-se nota que, por Decreto de 15 de Fevereiro de 1908, a Comissão que “está gerindo os negócios deste município” continuará em funções, mas na qualidade de Comissão Administrativa, isto na sequência do regicídio desse mesmo mês, acabando por ser dissolvida em Março. Em 30 de Novembro de 1908, seriam eleitos para a vereação Serafim Luís Fernandes da Silvam Custódio Pereira de Carvalho, Manuel Ferreira Martins, Bernardino Homem da Rocha e Manuel Tavares da Costa Ribeiro. No ano de 1917, o orçamento municipal de Oliveira de Frades destinava verbas para apoios a desvalidos, a pobres, a internamentos, tratamentos e medicamentos, a escolas, incluindo-se, aqui, 10$00 para iluminação dos cursos nocturnos. Olhando agora para uma visão geral da nação, no plano educativo, em 1910, o país apresentava uma taxa de analfabetismo de 76.1%, com 702 freguesias em 3918 sem escolas, sendo que, em 1926, quando se dá uma nova revolução, que haveria de conduzir à formação do Estado Novo, sobretudo a partir de 1933, ainda se encontravam 345 dessas freguesias nas condições do início da República. Desta forma, em 1926, entram em acção 400 missões móveis para alfabetização de adultos, situação herdada já de 1901 e, muito em especial, das Escolas Móveis, 1913, com o Decreto nº 194, de 29 de Outubro. Quando, dentro de pouco tempo, se entra, mais uma vez, num período eleitoral, sem que quaisquer destes dados e conhecimentos relatados nos parágrafos anteriores devam servir de exemplo, não deixa de ser sintomático quanto, há perto de dois séculos, com o forte advento da imprensa, as causas diversas tenham sido palco de acesas discussões. Esta é uma das lições que se deve tirar, em vez de passarmos o tempo com questões laterais e pouco substantivas, como tantas vezes, na actualidade, vem acontecendo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Ago19

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Vinhos em Lafões a cantarem desde há séculos...

Vinhos em Lafões, altos e baixos Entre os produtos com fama existentes na região de Lafões, o vinho é um deles, mas já viveu dias e épocas de muito maior prosperidade. No século passado, quase em todo ele, era frequente ver a circular pelas nossas estradas carradas e carradas de “americano” ou “morangueiro” rumo a Lisboa, por exemplo. Liquido proibido, mas muito cobiçado, como se podia comprovar nas muitas tascas e tabernas que na capital existiam, como a do Largo do Mastro, era um dos pilares do sustento de muitas de nossas famílias, a par das vitelas, da resina e de alguns (poucos) cereais. Legalmente, outras castas faziam o seu caminho, ora em modo de produção pessoalizada, ora por via, depois de 1949, da Adega Cooperativa de Lafões (ACL), com sede em S. Pedro do Sul, mas a abranger uma vasta área territorial. Num trabalho do ano de 1986, “ Vinhos verdes de Lafões – Esquema de estudo (proposta), falava-se numa área de 1600 hectares de vinha, sendo 1440 em forma de enforcado, sendo bem notadas as castas brancas – arinto, cerceal, esgana-cão, fernão pires, rabo de ovelha, dona branca, tamares, alva e borrado de mosca; quanto a tintas, citavam-se – amaral, tourigo, jaen, tinta francesa, verdelho, loureiro e tinta espadeiro. Com uma mão de obra, por essa altura, no sector primário, na ordem dos 60% em perto de 11500 explorações agrícolas, já se tinha assistido ao aparecimento de várias organizações oficiais que operavam os vinhos lafonenses, desde os grémios da lavoura à citada ACL. No início dos anos 40, nasceram os Grémios da Lavoura de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul, terra esta que chegou a ser sede da Delegação da Junta Nacional do Vinho, sendo que, por escritura de 23 de Outubro de 1949 e com alvará de Novembro desse mesmo ano, acabaria por ali ser criada a ACL. No entanto, nem tudo foram rosas no campo da nossa viticultura, apesar de esta infraestrutura associativa ter logrado subir bem alto, para terminar as suas funções e carreira já em pleno século XXI. Um dos grandes entraves que viriam minar o entusiasmo por esta actividade foi a criação, em 1965, de uma taxa por litro de vinho de $40, ou de $20, conforme as situações. Colocados perante este peso, houve manifestações de agricultores, sobretudo em Vouzela e Oliveira de Frades, em forte e frontal oposição às legislações vigentes. Em Paços de Vilharigues, em 1971, foi posta a circular uma exposição em que era manifesto o descontentamento vivido. Com grande relevância económica, também o era em termos paisagísticos, como se pode ler no “Guia – Dicionários Regionais, da Companhia dos Caminhos de Ferro do Vale do Vouga, 1933”, em que se evidenciam as suas características ímpares, desta forma: “ No fundo do vale, são os milharais viçosos e a vinha abraçada às árvores...”. Reportando-se a Oliveira de Frades, acrescentava-se : “... Toda a sua paisagem se assemelha muito à do Minho – pelos relvedos e pelas videiras de enforcado, que nos produzem o apreciadíssimo vinho amaral, típico da região... “. Com o definhamento da agricultura e com o abandono dos campos em massa, também a vinha ficou a perder. Despontam agora, em boa e criativa modernidade, alguns (poucos) produtores que começam a afirmar o seu nome e a conquistar mercados. Que o êxito os acompanhe e a perseverança nunca desapareça, em favor de um bom vinho, claro está. Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, 1ago19

Interior a perder habitantes e representatividade. Viseu com menos um deputado

Ao olharmos para a documentação que sustenta as novas eleições legislativas, logo nos saltou para cima das nossas preocupações o facto de, entre dois distritos que perderam um deputado em favor dos grandes centros, um deles ter sido o de Viseu. Com nove lugares em disputa desde há muitos anos, em Outubro de 2019, esta tabela, com tudo o que de mau representa, cai para oito. Em igual descida, temos também a Guarda, a tombar de 4 para 3 na respectiva lista de candidatos ao Parlamento. Ao invés, Lisboa e Porto aumentam mais um representante cada um, respectivamente. Poderemos ser levados a pensar que, mais voz, menos voz, tanto faz. Quem dita o rumo das votações são as elites dirigentes políticas, as célebres organizações partidárias (que, há que reafirmá-lo, são os pilares da democracia!...) e, se assim é, que fazem lá os 230 deputados eleitos nestes actos populares, pergunta-se. Sendo essa uma discussão que faz algum sentido, a tónica tem de ser outra: o povo - todos nós - tem de lutar pelos seus reais representantes, caso contrário isto é tudo uma espécie de farsa. Feitas estas considerações, dói-nos imenso ver os nossos territórios ao abandono e sem ninguém que os defenda. Um a um, vão saindo os seus habitantes e, por tabela, até o número de deputados demonstra uma desigualdade assustadora. Agora, Viseu e Guarda, irmãos na vizinhança e na desgraça, foram atingidos por este tsunami. Calam-nos as vozes, abafam-nos o futuro. Num exercício quase aritmético, vejamos o que está a acontecer: em 15791 km2, temos 141 representantes a eleger, em Setúbal (18), Aveiro (16), Lisboa(48), Braga(19) e Porto (40). Por outro lado, em 16290 km2, apenas preenchidos por Beja (3) e Portalegre (2) subirão as escadas da Assembleia da República apenas cinco eleitos. Isto é gritante. Isto é um desastre nacional. Com tantas dúvidas na cabeça, propomos mesmo: que se criem círculos eleitorais nas grandes áreas metropolitanas com os habitantes idos de todos os lados e de mais algum. Talvez assim a nossa voz se faça ouvir, ponto a ponto. Como assim não acontece, perde representatividade Portugal e o país esfarela-se cada vez mais: uns levam a farinha, outros ficam com os restos das espigas. Cristo, isto assim não vale!.... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 8 de Agosto de 2019