quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Os preparativos para a República no distrito de Viseu

O distrito de Viseu em meados do século XIX e a implantação da República Num momento decisivo da nossa História em que se derrota um regime, a Monarquia, e se lança Portugal na aventura da República, que tem no dia 5 de Outubro de 1910 o seu marco importante, o distrito de Viseu, na sua sede, ostentava já sinais de descontentamento com a velha ordem e mostrava ansiar por outros rumos. Os pontos da discórdia apresentavam-se, entre outras iniciativas, na criação do Centro Liberal (1865), Sociedade Civlilizadora e Assembleia Viseense (1855), Associação de Classe dos Empregados do Comércio/Centro de Instrução e Recreio José Dionísio, nos jornais Idêa Nova (1882), Democracia da Beira (1882), na Nova Luta e Intransigente (1894), no A Mocidade Republicana (1904), em A Beira – a Voz do Centro Republicano (1906) e em vários outros movimentos e instituições. Inseriam-se ainda nestas ondas reformistas a criação da Escola do Magistério Primário (1897), a Escola Industrial e Comercial (1898), a Escola Prática de Agricultura (1887) e ainda o Asilo Visesense da Infância Desvalida (1874), a Sopa Económica (1881) e o Círculo Católico de Operários/Instituto Liberal de Instrução e Recreio. Num claro sinal de decadência monárquica, que haveria de sofrer um dos seus mais rudes golpes com o assassinato do Rei D. Carlos e seu filho, o Príncipe herdeiro, Luís Filipe, no ano de 1908, também por estas nossas zonas despontavam indícios de descontentamento, agitação e tomadas de posição de um lado e outro da barricada. A imprensa febril dessa época disso nos dá abundantes sinais e Norberto Gomes da Costa (Edições Nodar) bons contributos deu a esta causa do conhecimento. Com mais ou menos duração, vejamos as publicações que, entretanto, surgiram em Lafões: no concelho de OLIVEIRA DE FRADES – O Lafões, 1892/1910/1930; Mocidade de Lafões, 1914; O Azorrague, 1914; Ecos de Lafões, 1916; O Lafonense, 1935; em S. PEDRO DO SUL – também O Lafonense, 1891/1925/1928, isto para indicar as respectivas entradas em cena desse órgão de comunicação social; o Jornal de Lafões, 1904/1913; A Defesa, 1926; A Comarca, 1898; O Vouga, 1898/1912; O Progresso, 1903; Voz da Beira, 1911; Ecos do Vouga, 1913; O Innonimado, 1905; a Democracia de Lafões, 1925; em VOUZELA – Aurora do Vouga, 1887; a Democracia, a anteceder a sua edição em S. Pedro do Sul, 1895; O Beirão, 1915; a Revista de Lafões, 1896/1926; O Presente, 1898; O Echo de Lafões, 1898; Aurora de Lafões, 1904; O Vouzelense, 1907/1929; Correio de Lafões, 1915; Notícias de Vouzela, 1935. No meio destes fontes noticiosas e opinativas, outras foram aparecendo, algumas delas apenas em cópias distribuídas de uma forma menos profissional. Com objectivos claros e bem demarcados, sem esconder os seus reais propósitos, cada um destes jornais ou revistas logo diziam ao que vinham, sem disfarces e, por vezes, mesmo em linguagem duríssima. Nos vários arquivos municipais, com destaque, para esta edição do Notícia de Lafões, para o concelho de Oliveira de Frades, dá-se nota que, por Decreto de 15 de Fevereiro de 1908, a Comissão que “está gerindo os negócios deste município” continuará em funções, mas na qualidade de Comissão Administrativa, isto na sequência do regicídio desse mesmo mês, acabando por ser dissolvida em Março. Em 30 de Novembro de 1908, seriam eleitos para a vereação Serafim Luís Fernandes da Silvam Custódio Pereira de Carvalho, Manuel Ferreira Martins, Bernardino Homem da Rocha e Manuel Tavares da Costa Ribeiro. No ano de 1917, o orçamento municipal de Oliveira de Frades destinava verbas para apoios a desvalidos, a pobres, a internamentos, tratamentos e medicamentos, a escolas, incluindo-se, aqui, 10$00 para iluminação dos cursos nocturnos. Olhando agora para uma visão geral da nação, no plano educativo, em 1910, o país apresentava uma taxa de analfabetismo de 76.1%, com 702 freguesias em 3918 sem escolas, sendo que, em 1926, quando se dá uma nova revolução, que haveria de conduzir à formação do Estado Novo, sobretudo a partir de 1933, ainda se encontravam 345 dessas freguesias nas condições do início da República. Desta forma, em 1926, entram em acção 400 missões móveis para alfabetização de adultos, situação herdada já de 1901 e, muito em especial, das Escolas Móveis, 1913, com o Decreto nº 194, de 29 de Outubro. Quando, dentro de pouco tempo, se entra, mais uma vez, num período eleitoral, sem que quaisquer destes dados e conhecimentos relatados nos parágrafos anteriores devam servir de exemplo, não deixa de ser sintomático quanto, há perto de dois séculos, com o forte advento da imprensa, as causas diversas tenham sido palco de acesas discussões. Esta é uma das lições que se deve tirar, em vez de passarmos o tempo com questões laterais e pouco substantivas, como tantas vezes, na actualidade, vem acontecendo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Ago19

Sem comentários: