sábado, 31 de agosto de 2019

Termas com um património de excelência recuperado: o balneário romano

A propósito da recente inauguração Balneário romano recuperado a despertar grande interesse Com 2000 anos de história, o Balneário Romano das Termas de S. Pedro do Sul ganhou, com as recentes obras de restauro e recuperação, uma nova vida. Sem servir já os fins a que se destinou e que permaneceram activos desde os tempos iniciais desse gigantesco império até ao final do século XIX, agora passa a ter outras funções: um repositório vivo de tantas e tão intensas memórias. Pensado e sonhado para tratamentos medicinais, desde logo foi dotado de tanques de águas quentes, sulfurosas, e frias, a mostrar quanta atenção suscitou desde as suas origens, vindo a beneficiar, além dos súbditos e cidadãos romanos, reis, rainhas, clero, nobreza e povo, com destaque para D. Afonso Henriques e D. Amélia, que vêem o seu nome estampado em duas das infraestruturas ali existentes. Perdido o seu uso termal, nos anos 30, foi escola primária e, por volta de setenta, passou a ser um café-bar, sucedendo-lhe uma espécie de armazém de barcos fluviais. Vizinho do turbulento Rio Vouga, das suas águas foi vítima, pelo menos, nas décadas mais próximas de nós, de duas fortes derrocadas mercê da força das cheias que ali se verificaram, uma delas em 1995, como relata A. Correia de Oliveira (Termas de S. Pedro do Sul- Palimage, Viseu, 2002). Antes de falarmos nas obras que levaram ao seu reerguer, anotemos alguns pormenores do seu rico e vasto passado que tantos estudos tem motivado. Se a história de Portugal, nas Caldas do Banho/Caldas de Lafões/Termas de S. Amélia/Termas de S. Pedro do Sul, escreveu algumas das suas boas páginas, como as da cura de D. Afonso Henriques em 1169 e da criação do Hospital Real pelo Rei D. Manuel I, aparecem, na literatura científica, várias notas de interesse. António Pires da Sylva, em 1696, legou-nos um grande contributo, assim como Joaquim Baptista de Sousa no ano de 1821, entre tantos outros. Para A. Nazaré Oliveira, estas instalações romanas tiveram, na sua génese, uma piscina descoberta com 20.5 metros de comprimento, 9 de largura e 1.5 de profundidade e, no interior, uma com 7.4 m/5.4/1.2 e ainda uma outra. Para estes efeitos, foram dotadas de adequados sistemas de canalizações, aproveitando a riqueza dos aquíferos que foram e são a razão de ser de todo esta estância termal, uma das maiores da Península Ibérica. No edifício em causa, referiam-se dois nomes das divindades de peso da antiga Roma, em lápides e placas que as homenageavam, mormente Júpiter e Mercúrio. Com origens no plano de obras do Imperador Augusto, veio, em tempos posteriores, a albergar uma gafaria e, nos anos de 1500, passou a ser, com D. Manuel I, o Hospital Real das Caldas de Lafões, em edifício implantado entre as citadas duas piscinas. Uma a uma, estas valências foram definhando e caindo com o peso dos anos, do uso e, talvez, à mistura com algum descuido, desleixo ou coisas do género. Além do mais, nada é eterno. Monumento nacional desde 1938, depois da queda, veio a vida nova. O que agora se recuperou Até se chegar ao dia da inauguração, muitos passos foram dados: aí pelos anos 50 (A. Nazaré de Oliveira), realizaram-se as primeiras escavações, por Bairrão Oleiro, uma obra da responsabilidade da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, seguindo-se-lhe os trabalhos de Helena Frade e José Beleza Moreira, em 1985. Em sucessivas marés de indecisões, o banho-maria foi a maior regra geral, não se atando, nem desatando, durante décadas. Acontece que, nos últimos tempos, a Direcção Regional de Cultura do Centro pôs mãos à obra e os trabalhos de valorização, conservação e reabilitação foram postos em marcha nesta jóia do nosso património regional e nacional, onde se investiram 1.6 milhões de euros, com 85% a cargo de fundos comunitários e os restantes 15% repartidos, em partes iguais, entre o governo e a autarquia sampedrense, integrando-se toda esta obra no Pacto para o desenvolvimento e coesão territorial da CIM Viseu Dão Lafões. Pretendeu-se, de acordo com “Construção Magazine”, seguir, quanto possível, a manutenção da estrutura romana, recuperando as dimensões originais e usando sistemas construtivos e materiais tradicionais, sempre que assim possa ser feito. Com um ou outro pormenor de uma traça bem diferente, o que é, por exemplo, notório nas colunas exteriores, há quem diga e defenda que isso aconteceu para vincar duas épocas distintas: a das construções antigas e os acrescentos modernos, o que, em tese, se defende e até aplaude. Com o público já a poder visitar o velho Balneário, mais de 1500 pessoas já por ali passaram. Falta, porém, uma peça essencial: o museu. Espera-se, agora, que ele não tarde em aparecer. Esse é o nosso desejo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, ago19

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