quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Vinhos em Lafões a cantarem desde há séculos...

Vinhos em Lafões, altos e baixos Entre os produtos com fama existentes na região de Lafões, o vinho é um deles, mas já viveu dias e épocas de muito maior prosperidade. No século passado, quase em todo ele, era frequente ver a circular pelas nossas estradas carradas e carradas de “americano” ou “morangueiro” rumo a Lisboa, por exemplo. Liquido proibido, mas muito cobiçado, como se podia comprovar nas muitas tascas e tabernas que na capital existiam, como a do Largo do Mastro, era um dos pilares do sustento de muitas de nossas famílias, a par das vitelas, da resina e de alguns (poucos) cereais. Legalmente, outras castas faziam o seu caminho, ora em modo de produção pessoalizada, ora por via, depois de 1949, da Adega Cooperativa de Lafões (ACL), com sede em S. Pedro do Sul, mas a abranger uma vasta área territorial. Num trabalho do ano de 1986, “ Vinhos verdes de Lafões – Esquema de estudo (proposta), falava-se numa área de 1600 hectares de vinha, sendo 1440 em forma de enforcado, sendo bem notadas as castas brancas – arinto, cerceal, esgana-cão, fernão pires, rabo de ovelha, dona branca, tamares, alva e borrado de mosca; quanto a tintas, citavam-se – amaral, tourigo, jaen, tinta francesa, verdelho, loureiro e tinta espadeiro. Com uma mão de obra, por essa altura, no sector primário, na ordem dos 60% em perto de 11500 explorações agrícolas, já se tinha assistido ao aparecimento de várias organizações oficiais que operavam os vinhos lafonenses, desde os grémios da lavoura à citada ACL. No início dos anos 40, nasceram os Grémios da Lavoura de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul, terra esta que chegou a ser sede da Delegação da Junta Nacional do Vinho, sendo que, por escritura de 23 de Outubro de 1949 e com alvará de Novembro desse mesmo ano, acabaria por ali ser criada a ACL. No entanto, nem tudo foram rosas no campo da nossa viticultura, apesar de esta infraestrutura associativa ter logrado subir bem alto, para terminar as suas funções e carreira já em pleno século XXI. Um dos grandes entraves que viriam minar o entusiasmo por esta actividade foi a criação, em 1965, de uma taxa por litro de vinho de $40, ou de $20, conforme as situações. Colocados perante este peso, houve manifestações de agricultores, sobretudo em Vouzela e Oliveira de Frades, em forte e frontal oposição às legislações vigentes. Em Paços de Vilharigues, em 1971, foi posta a circular uma exposição em que era manifesto o descontentamento vivido. Com grande relevância económica, também o era em termos paisagísticos, como se pode ler no “Guia – Dicionários Regionais, da Companhia dos Caminhos de Ferro do Vale do Vouga, 1933”, em que se evidenciam as suas características ímpares, desta forma: “ No fundo do vale, são os milharais viçosos e a vinha abraçada às árvores...”. Reportando-se a Oliveira de Frades, acrescentava-se : “... Toda a sua paisagem se assemelha muito à do Minho – pelos relvedos e pelas videiras de enforcado, que nos produzem o apreciadíssimo vinho amaral, típico da região... “. Com o definhamento da agricultura e com o abandono dos campos em massa, também a vinha ficou a perder. Despontam agora, em boa e criativa modernidade, alguns (poucos) produtores que começam a afirmar o seu nome e a conquistar mercados. Que o êxito os acompanhe e a perseverança nunca desapareça, em favor de um bom vinho, claro está. Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, 1ago19

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