terça-feira, 23 de julho de 2019

Lafões a mexer, a força da sociedade civil

A força da sociedade civil Há semanas que têm tudo para jamais se esquecerem, por este ou aquele motivo. Culturalmente, os últimos dias, e primeiros deste mês de Julho, tiveram um forte impacto a esse propósito. Em Viseu, viveram-se com emoção os momentos em que se pretendeu valorizar e divulgar a doçaria lafonense com dois emblemáticos produtos em concurso: o fortíssimo e velhinho Pastel de Vouzela e o recém-criado Pão de Ló de Milho com sumo de limão, de Sul. Um e outro foram objecto da votação de quem assistiu a esse programa, nesse dia e mesmo noutras alturas. Dizem-nos que ambos ficaram pelo caminho, um deles, o rei dos reis da nossa doçaria, por uma pretensa unha negra. Sem pensarmos no resultado final, falou-se de Lafões e isso tem um forte sentido positivo, ao mostrar que existimos, que mantemos as tradições seculares e somos, ao mesmo tempo, capazes, de inovar. Num outro patamar, sem honras de televisão nacional, a escolha dos eventos em que participar tornou-se um difícil exercício de agenda: olhando para um lado e para outro, em qualquer sítio, a animação cultural, por força dos agentes locais da nossa sociedade civil, impunha a nossa presença. Cambra, cheia de experiência nessas lides, não quis perder pitada dessa fama, oferecendo uma Feira Medieval que já tem um lugar marcado em tudo quanto seja programação associativo das nossas terras, e que deliciou quantos participaram neste evento ou assistiram aos muitos espectáculos ali realizados. Num ambiente de sonho e fantasia, com a secular Torre, a Praia e o Parque Fluvial de Cambra de Baixo, e as muitas pessoas que tudo deram de si para mostrar tradição e recriação histórica, ali se viveram dias e momentos de alto interesse patrimonial e cultural. Na vila de Oliveira de Frades, essa notável instituição que se chama ASSOL, que estende a sua acção por um vasto território, pôs no terreno, por ocasião das comemorações dos seus trinta nos de vida, o arrojado ASSOLFEST e viu coroado de êxito todo esse seu esforço. Durante um fim de semana em cheio, trouxe a alta e boa música, as artes diversas, numa extensa mobilização que passou pelas gentes da Sede, de S. Pedro do Sul, Vouzela, Castro Daire, Vila Nova de Paiva, Viseu, Tondela e Mortágua, localidades onde desenvolve, em termos de delegações activas, a sua vasta actividade em prol das pessoas com deficiência, na ordem de um milhar de gente apoiada. Nesta mesma localidade, a sede do concelho, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, aos noventa anos, comemorou o seu padroeiro, S. Marçal, em festejos religiosos e oficiais, sendo esta parte vivida, em almoço convívio e sessão solene, em Chão de Vintém – Arcozelo das Maias. Vivendo agora já na sua casa recuperada, a (re)inaugurar dentro de algum tempo, estes soldados da paz tiveram, assim, mais uma de suas datas importantes. Na Sobreira, Ponte e Feira, pela mão da UMJA, a sua filarmónica, houve o desfile e concerto em termos de um encontro de Bandas com a anfitriã e a de Lobelhe de Mato, Mangualde, isto no sábado, para, no domingo, se desenrolar o programa das suas Festas Populares. Pela mão da Liga dos Amigos de Vilharigues, realizou-se ali a Caminhada dos Moinhos, a culminar num almoço convívio, que juntou três dezenas de participantes na Torre, tendo-se percorrido terras de Paços de Vilharigues, S. Vicente de Lafões e Vouzela. Andou-se, essencialmente, em redor do Rio Mezio e suas azenhas, muitas delas concentradas, em grande escala, entre a Sernadinha e Ameixas, infelizmente, com alguns destes imóveis em degradante estado de abandono. Esta foi uma semana de altos voos. Ainda bem que assim acontece. Carlos Rodrigues, NV, Jul2019

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Canta, canta, Lafões...

Lafões a cantar desde sempre Giacometti e José Fernando Oliveira em bons registos Com o Verão, vêm para a rua as energias populares em termos festivos, que se espalham pelos arraiais das diversas romarias, pelos templos e adros, pelas ruas onde passam as muitas procissões, pelos campos quando se sacham os milhos, se regam as propriedades e, lá para o Outono, se fazem as colheitas. Se, nos tempos chuvosos e frios do Inverno, a lareira e os serões são o palco privilegiado para esta manifestações ancestrais da cultura do nosso povo, nestes tempos de sol e longos dias, com as noites a serem um convite para se gozar, em entretenimento, a sua razoável e agradável frescura, é nos largos de nossas aldeias que se soltam todas as alegrias. Para as provar, a música é uma das grandes vias e um dos poderosos meios para mostrar ao mundo tudo aquilo que nos vai na alma. Em Lafões, sempre se cantou, cruzando influências, como em Manhouce, localidade que tem vindo a potenciar, ao máximo, este notável espólio, sobretudo para nos mostrar a passagem dos almocreves e suas paragens, em noitadas animadas, nas eiras daquela terra serrana, dançando-se e cantando-se em conjunto, povos do mar e da serra. Nasceu desta simbiose a pátria da música regional que temos como bom legado e que se espalhou por toda a parte, batendo também, muito em especial, à porta de Cambra (Vouzela), S. Félix (S. Pedro do Sul) e Santa Cruz (Arcozelo das Maias/Oliveira de Frades) Numa vertente diferente, as nossas Bandas Filarmónicas, algumas a passarem por três séculos de existência, desde os anos de 1800 até aos dias de hoje e com muito futuro pela frente, são a outra componente musical e cultural que nos caracteriza, assim como, em medida bem mais reduzida, os Grupos Folclóricos. Em prateleiras diferentes, encontramos ainda as canções religiosas, como as Janeiras, o amentar as almas, etc. Descobrindo as nossas riquezas, por aqui andou, de gravador e câmara em punho, Michel Giacometti (1929 – 1990), o corso, que se enamorou e apaixonou pela música tradicional portuguesa. Assinalando-se, este ano, os noventa anos do seu nascimento e os sessenta da sua chegada a Portugal, o nosso país e a região de Lafões têm para com ele uma dívida de gratidão Vindo para estas terras lusas em busca de cura para a sua tuberculose (1959), desde logo impôs o seu talento, a ponto de, na então Emissora Nacional e na RTP, os seus serviços e arte jamais serem desperdiçados. Entre as várias pessoas que com ele se cruzaram, uma delas, Fernando Lopes Graça, é inquestionável. Com este vulto da nossa música, surgiu a “ Antologia da Música Regional Portuguesa”, depois de Michel Giacometti ter fundado os Arquivos Sonoros. Duas de nossas terras, Manhouce e Cambra, receberam a sua preferência, quer, na RTP, 1972, com o “Povo que canta”, filmado precisamente em Cambra, quer noutros programas e ocasiões. Também Manhouce integrou o seu Cancioneiro Popular Português. A uma escala mais local, mas plena de importância e pertinência, trazemos ainda aqui o “Cancioneiro Regional de Lafões”, com recolha e coordenação de José Fernando Monteiro de Oliveira, 2000, com CD, uma notável e diversificada obra que muito engrandece e prestigia a nossa cultura e bibliotecas. Numa diversificada e muito abrangente pesquisa e registo, as 616 páginas de texto, letras e partituras fazem perdurar no tempo quem somos e o que cantamos, como memória de um rico passado e a ponte cultural segura para nos continuarmos a afirmar no mundo pelos tempos fora. Com os seus “cantares de carácter religioso e profano”, ali temos matéria de sobra para nos conhecermos melhor. E ir desfrutando vezes sem conta. Seria um erro grave e uma omissão imperdoável se, ao falarmos de música em Lafões, nos esquecêssemos de Isabel Silvestre e de tudo quanto ela faz e tem feito em favor da nossa cultura e região. Só o seu nome daria para encher as páginas de muitos jornais. De qualquer modo, esta singela nota apenas quer fazer registar o apreço e consideração que por ela temos. E que merecidas são estas curtíssimas referências. Aí temos o Verão. Vamos à música, a nossa, porque vale sempre a pena e a nossa alma não é pequena. Muito pelo contrário. Carlos Rodrigues, Notícias de Lafões, Jul 2019

1941, arborização da Serra do Ladário

Um projecto de arborização de 1941 para a Serra do Ladário Na Direcção-Geral dos Serviços Florestais, no ano de 2006, acedemos a um importante documento relacionado com o previsto aproveitamento da Serra do Ladário, em estudo que remontava a 1941, em termos da sua florestação. De notar que se estava, por essa altura, em plena época de ocupação de baldios e outros terrenos públicos com a vista à sua integração nos novos serviços então criados e que tanta celeuma vieram a originar. Numa área a ocupar que se estendia por 2150 hectares, eram nela incluídas as freguesias de Arcozelo das Maias, Ribeiradio, Reigoso, Destriz, Cedrim, Talhadas e Campia, em pleno contrafortes da Serra do Caramulo, com uma exposição francamente marítima e com abundante precipitação pluviométrica, como se pode ler no projecto em causa. Com uma vegetação natural à base de tojo arnal, carqueja, queiró e fetos ordinários, destavam-se, nessa altura, como espécies florestais o pinheiro bravo, o sobreiro e o carvalho. Apontavam-se os seguintes usos domésticos e vicinais: apascentação de gado, apanha de mato para lenha e estrume. Falava-se em 9330 cabeças de gado ovino e caprino, assim distribuídas: Arcozelo das Maias – 1401 ovinos e 377 caprinos; Destriz – 943/448; Reigoso – 844/172; Ribeiradio – 966/570; Cedrim – 676/171; Talhadas – 1512/1251. Entre diversos dados, incluindo as referências a vencimentos de trabalhadores para roça e sementeiras de penisco (25 quilos) e de acácias (9kg), indicam-se ainda as distâncias entre espécies e covas, o que mostra os cuidados que se tinham na organização de todo este processo. Numa clara diferenciação de ordenados entre homens e mulheres (8 e 5$00, respectivamente), aludia-se também à jorna dos rapazes (4) e dos capatazes (10$00). No capítulo das obras, enfatizava-se a construção das Casas dos Guardas Florestais de Lameiras, Souto Maior e Santa Maria, assim como as propostas de novos caminhos e beneficiação de outros. Entretanto, no livro “ A floresta, práticas e perspectivas – Raízes para o desenvolvimento da floresta – Henrique Machado e Nuno Amaral, Viseu, 2000” diz-se que, no que concerne à area florestal do Ladário, apenas no concelho de Oliveira de Frades, em 1620 hectares estavam arborizados 1560. Com as devastações havidas quanto a incêndios de grandes dimensões, sobretudo em 2006, 2013 e 2017, com mais episódios a registar, aquém e além, hoje o panorama, quanto a florestação é desolador. O Estado tem, nesse campo, imensas culpas no cartório e não é possível que fuja (mas escapa-se, e de que maneira, às suas responsabilidades até mais não...) às tarefas que deveria executar ou ter em mãos vir a fazê-lo e não é isso que está a acontecer, infelizmente. Carlos Rodrigues, NV, Julho 2019

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Dois anos depois das tristezas de 2017....

Dois anos depois das tragédias de 2017 Em meados de Junho de 2017, Portugal foi vítima de uma das maiores catástrofes em incêndios que a nossa história regista. Os fogos que devastaram a zona de Pedrógão e arredores, numa extensa área, deixaram, acima de tudo, um rasto de dor, que ainda hoje perdura, e o pesado luto por dezenas de pessoas mortas, na estrada, em casa, ou num qualquer refúgio traiçoeiro. Quatro meses após essa tragédia, uma outra se abateu sobre nós, a de Outubro desse mesmo ano, que varreu toda a nossa zona, matando também outras dezenas de compatriotas, alguns deles vizinhos de cada um de nós. Juntaram-se aos mortos e feridos prejuízos sem fim a muitos níveis, desde o sector empresarial e comercial aos populares em si, que ficaram sem grande parte de seus haveres e meios de subsistência. Volvidos estes tempos, notaram-se algumas boas e louváveis recuperações, mas a natureza ainda grita e chora a destruição que sofreu. Demorará muito a recompôr-se e podem mesmo perder-se uma boa parte de alguns ecossistemas. Ou seja: há danos irreparáveis. Além das vidas que desapareceram, além dos feridos que têm no corpo as marcas desses duríssimos acontecimentos, essas parcelas da vida vegetal e animal são também de lamentar. Mas o que nos dói, a sério e com alguma revolta (felizmente não nestas bandas), são as suspeitas que recaem sobre responsáveis pessoais e instituições, que hoje motivam processos judiciais e uma carrada de notícias de falhas enormes, como se está a ver para os lados de Pedrógão. Se houve maus aproveitamentos, se as falsidades fizeram um triste caminho, essa é uma desgraça a cair em cima de outra. E é uma tristeza presumir-se que houve quem, não tendo escrúpulos, se serviu de tudo quanto os incêndios provocaram para seu proveito próprio, na fase da recuperação, em prejuízo da verdade e dos verdadeiros necessitados. Olhando ao nosso redor, felizmente que, por Lafões, não sabemos de casos desta índole, bem pelo contrário. Registamos, até com agrado e visível satisfação, que das tragédias se reconstruiram novas vidas, empresas mais fortes e robustas, mais modernas e mais capazes de enfrentarem os desafios do futuro. Oliveira de Frades, muito em especial, e Vouzela, a uma outra escala, são bons exemplos de práticas dignas e de grande coragem empreendedora. Não podemos, porém, esquecer aqueles nossos conterrâneos, humildes agricultores e pequenos silvicultores, que ficaram para trás, trucidados por uma implacável teia de burocracia, desistindo de apresentar os seus prejuízos, bastante por essas descabidas exigências. Outros “contentaram-se” com umas migalhas, bem longe daquilo que perderam, só para evitarem esses pesados trabalhos de andarem de cá para lá, papéis na mão e o coração aos saltos, porque faltava sempre qualquer “coisita” na hora da entrega final dos processos. Também é duro verificar que as matas continuam cheias de árvores a apodrecer, uma vez que falha o escoamento e os preços propostos são uma vergonha e uma ofensa a quem vive das pequenas matas, ou nelas pensava ter uma certa ajuda para uma qualquer eventual hora de aflição. No que à prevenção diz respeito, muito está por fazer. Sítios há em que estamos até bem pior, sobretudo nos locais onde os eucaliptos crescem em doses assustadoras e em qualquer lado. Dois anos depois, não fizemos tudo aquilo que era necessário para evitar (ou minimizar) uma qualquer outra catástrofe que nos bata à porta. Talvez estejamos, nalguns casos e em certa medida, bem pior. E uma conclusão é óbvia: o ano de 2017 acelerou o fim de muitas de nossas aldeias e ainda não conseguimos travar essas mortais hemorragias. Digamos: para baixo, todos empurram; para cima, são poucos os santos que nos ajudam. Que Deus nos não desampare!....~ Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Jun19

As verbas da então CEE para Lafões....

Lafões viu chegar muito e bom dinheiro Investimentos europeus nos primeiros quadros de apoio comunitário No ano de 1976, surgiram as primeiras autarquias legitimamente eleitas por sufrágio directo e universal. A tarefa que tinham em mãos era gigantesca: muitas necessidades básicas, desde a água às vias de comunicação, dos equipamentos aos serviços sociais, estavam por concretizar. Durante dez anos, até 1986, com imaginação e esforço, lá se foram dando alguns bons passos no sentido do progresso, mas sempre a contarem-se os tostões. Com a Leis das Finanças Locais e da Autonomia, várias verbas apareceram e os projectos começaram de despontar. A entrada na então Comunidade Económica Europeia (CEE, hoje, UE), em 1986, haveria de fazer mudar tudo. Nâo tardaram a chover os chamados fundos europeus. Para que os municípios os pudessem receber, foi preciso um esforço gigantesco e monumental no sentido de apresentar projectos à altura e com pés para andar. Houve mesmo uma espécie de lufa-lufa para se ir a tempo de aceder aos vários programas que eram propostos. A certa altura, a partir dos anos noventa, uma nova exigência apareceu: as Câmaras Municipais só tinham a possibilidade de concorrerem se tivessem Planos Directores Municipais (PDM), pelo que houve uma corrida, até algo desenfreada, a esses documentos. De 1986 a 1993, em regime FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional – foram investidos as seguintes verbas, quanto aos três concelhos de Lafões: - Saneamento básico – Oliveira de Frades (OFR): dimensão média(dm) dos projectos – 69432 contos; investimento por habitante (ih) – 20; percentagem(%) – 21.6%; S. Pedro do Sul(SPS) – 32843/5/8.4%; Vouzela(VZL) – 21452/9/23.8%. - Acessibiilidades e transportes – OFR – 36645/48/53.3%; SPS – 25275/16/27.9%; VZL – 34497/8/22.9%. - Animação e turismo – OFR – 13000/1/1.3%; SPS – 158599/32/53.8%; VZL – 99026/16/43.9%. - Apoio à actividade produtiva – OFR – 228958/22/23.8%; SPS – 117819/6/10%; VZL – 42610/3/9.4%. Numa leitura, ainda que aligeirada destes números, é quase possível traçar uma linha de tendência em cada um destes municípios no decorrer destes anos. Assim, Oliveira de Frades destaca-se nas áreas do saneamento básico, acessibilidades e transportes e mesmo no apoio à actividade produtiva, isto a avaliar pelo nível de investimento por habitante; já S. Pedro do Sul e Vouzela ganham, em muito, no domínio da animação e turismo. Quanto a este último destaque, podemos pensar, por exemplo, na importância das Termas e seu novo balneário D. Afonso Henriques e Vouzela com o Parque de Campismo. Indo agora para mais pormenores, vamo-nos debruçar sobre os investimentos realizados no 1º QCA – Quadro Comunitário de Apoio – 1990/1993 e assim distribuído: - Programas Operacionais Regionais (POR) – OFR – 281036/6.4%; SPS – 477780/10.6%; VZL – 264129/9.6% - PO Sectoriais – OFR – 310479/7.1%; SPS – 379957/8.4%; VZL – 4859/0.2% - Iniciativas Comunitárias – OFR – 643169/14.6%; SPS – 2589130/57.5%; VZL – 958117/34.7% - Sistemas Comunitários – OFR – 3157476/71.9%; SPS – 1079521/23.8%; VZL – 1534347/55.6% Nestes itens, em que apenas temos valores globais e não médias por habitante, não é tão fácil descortinar as respectivas hierarquizações. Por esta razão, estes números devem ler-se em termos absolutos e apenas isso. Por último, foquemos o investimento privado em modo de sistemas de incentivos, de 1987 a 1993 e em %: - SIBR – OFR – 99%; SPS – 52.6%; VZL – 93.3% - SINPEDIP – OFR – 0.2%; SPS – Zero; VZL – 6.1% - SIFIT – OFR e VZL– Zero; SPS – 43.2% - SIMC – OFR – 0.8%; SPS – 4.1%; VZL – 0.7% Havendo muito a dizer sobre fundos comunitários, voltaremos a estes temas em próximas oportunidades. Estas são apenas algumas ideias e ordens de grandeza, que bem mostram a importância destas verbas nos nossos territórios. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, jun19

Lafões com testemunhos de uma intensa religiosidade...

As marcas da religiosidade em Lafões S. Pedro do Sul com um vasto património religioso Nas nossas terras, qualquer passo que dermos logo se pode associar, em regra, ao universo religioso dos nossos antepassados. Pelos caminhos, as alminhas convidam-nos a um olhar e a uma reflexão profunda. No alto das serras, no meio das aldeias, por aqui e por ali, são muitas as capelas, as igrejas e outras manifestações arquitectónicas que atestam esses mesmos sentimentos. Não nos passsam despercebidas, pela sua imponência ou significado, as construções de maior vulto, algumas a rondarem os mil anos e mais de existência. Quanto ao que diz respeito ao município de S. Pedro do Sul, começamos pelos altos montes e logo temos, lá no cimo, a Capela de S. Macário e, uns metros abaixo, o S. Macairinho. Descemos aos vales e o Convento de S. Cristóvão de Lafões lá se encontra, imponente, a falar-nos de séculos e séculos de história, contemplação e desenvolvimento. Com o mapa na mão, o universo destas manifestações religiosas não deixa de nos surpreender: em cada canto, em locais a pedir-nos que paremos e volvamos o nosso olhar e o nosso pensamento para tantas dessas evocações. Com grandes viagens pela frente, aventuramo-nos a partir à descoberta desses mundos para aqui os registar. Sem grande planeamento ou organização metódica, vamos um tanto ao acaso e seja o que Deus quiser. É grande este espaço territorial, o maior das região de Lafões. Por isso, não é de estranhar-se que por aqui andemos uns tempos demorados antes de irmos para outros lados. Pesquisando em fontes que muito nos dizem a este respeito, vamos iniciar o nosso percurso de hoje pela cidade de S. Pedro do Sul e pelas mãos de António Nazaré de Oliveira, Manuel Barros Mouro e outros estudiosos destas matérias. Passando um pouco ao lado da Igreja Matriz e da de Santo António, as nossas atenções viram-se mais para o Convento Franciscano de S. José, por ser aquele que mais marcou esta terra, apesar dos vestígios barrocos (Santo António) e de outros pormenores em outros monumentos. Não obstante ter apenas desempenhado funções conventuais e religiosas durante pouco mais de oitenta anos, o seu aproveitamento veio a associar-se, em definitivo, à vida autárquica local, sendo, aliás, parte do edifício onde ainda funcionam hoje os Paços do Concelho e outras instituições públicas, a partir da autorização concedida em 22 de Outubro de 1842. Dele se começou a falar em 1725, quando, no dia 16 de Novembro, se pediu para que as Caldas de S. Pedro do Sul tivessem um hospício, tendo os Franciscanos, como alega Aantónio Nazaré de Oliveira (Património Histórico-Cultural da Região de Lafões), sido autorizados a erguê-lo. Dado que era grande a sua aceitação na vila de então, tendo mesmo a sua sede na Igreja de S. Sebastião, perto das novas instalações a construir, não lhes foi difícil arrancar com este projecto. Os trabalhos tiveram o seu início apenas em 1751, sendo que, em 28 de Maio de 1834, com a extinção das Ordens Religiosas como que cessou essas funções iniciais. Acrescenta Manuel Barros Mouro ( A região de Lafões – Subsídios para a sua história, Coimbra, 1996) que, em princípio, se intitulou como Convento de Santo António, se se seguirem as indicações a Crónica de Frei Pedro de Jesus Maria José que cita (p. 73). Tendo nós a ideia de que esta designação não vingou, tendo sido sol de pouca dura, foi a S. José que este monumento foi dedicado e como tal é conhecido. Com um claustro seiscentista, com uma talha rococó joanina, foi esta jóia objecto de várias obras de conservação e restauro nas últimas décadas pelo que se continua a afirmar a sua importância e valor patrimonial. Entretanto, em 1778, viria a beneficiar do melhoramento da escadaria com um custo de 25000 réis. Se dum lado é o Município que o aproveita e dele se assenhoreou, do outro, a Igreja mantém as suas funções religiosas, oferecendo assim um uso duplo ao serviço das gentes desta terra. Na área urbana da cidade, encontramos ainda, como atrás aflorámos, a Igreja Matriz, a Capela de S. Sebastião, que recebeu obras profundas no ano de 1694, a citada Igreja de Santo António, que pertence à Santa Casa da Misericórdia de S. Pedro do Sul e lhe dá o seu próprio nome, também com trabalhos de fundo em 1717, douramento pelo valor de 190000 réis e 1798. Convém que citemos ainda as capelas de Santa Eufêmia (Arcozelo), S. Bartolomeu (Ponte), Nossa Senhora do Livramento (Negrelos), Santa Apolónia (Pouves) e Comenda de Ansemil. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Os meninos e as meninas da Roda em Lafões....

A roda e as crianças não abandonadas à sua sorte Na toponímia de Lafões, mais concretamente na vila de Oliveira de Frades, temos destacada uma “Rua da Roda”, o que nos remete, em tempos históricos, para uma forma e uma prática de as pessoas se desfazerem das crianças, dos filhos não bem aceites, pelas mais diversas razões, desde a miséria à vergonha social. Com o coração talvez apertado, quem se abeirava das “rodas” para, pela calada da noite, depositar os meninos e as meninas num local que sabiam vir a ter um tratamento muito mais feliz e adequado do que as deixar numa qualquer esquina, ao deus-dará, tinha, quem sabe, a percepção de que estava a fazer uma dolorosa despedida, mas, talvez, sentisse que do mal o menos... Instituições necessárias no contexto social que se vivia, inseriam-se numa política de assistência social que assentava muito na sociedade civil e religiosa, pelo que estas Casas das Rodas dos Expostos cumpriam uma função, sendo que “No princípio da Época Moderna (....), a potecção das crianças indesejadas é feita, por motivos morais e religiosos... “ nestes serviço de apoio às comunidades, como se lê em “ As casas da Câmara dos Concelhos Portugueses e a monumentalização do poder local, séculos XIV a XVIII, Volume I, Carlos Manuel Ferreira Caetano, UN Lisboa, 2011” Depois de a Igreja assumir a parte de leão em matéria de assistência social, o que se verificou mais intensamente na Idade Média com as albergarias-hospitais e outros sistemas, a partir de certa altura as Ordenações do Reino, seguindo esta mesma fonte, faziam incidir nos concelhos estas e outras responsabilidades, a que se sucederam as Misericórdias em partilha de funções ou mesmo em passagem de testemunho. No que diz respeito ao meio local lafonense, a Santa Casa de Vouzela, em termos de actividade caritativa em tempos idos, inscrevia nos seus propósitos a “assistência aos pobres e aos mais necessitados, aos órfãos e aos meninos depositados na «Roda»”, assim como “cuidava dos enfermos e enterramento dos mortos”. Aliás, com Pina Manique estas matérias eram mesmo impostas oficialmente em todos os municípios, ou na Casa Pia de Lisboa. Por sua vez, no Arquivo Municipal de Oliveira de Frades são frequentes as referências a gastos com estas e outras funções de cariz assistencial, sobretudo no século XIX. Uma das actividades obrigatórias era a do “registo de entrada dos expostos” Em regime de 24 em 24 horas, as “rodeiras” tinham como missão a prestação de cuidados às crianças durante um período que poderia ir até três dias. Depois deste período, passavam para a alçada de amas “recrutadas e pagas pelos concelhos, até à idade de sete anos” (Ver livro atrás citado). Quanto à sua localização, em muitas situações optava-se por locais recônditos e periféricos, a fim de se manter mais o segredo ou o encobrir mesmo esses actos. Na referência à Rua da Roda, em Oliveira de Frades, pode-se, de certa forma, verificar algo relacionado com estas últimas condições, na medida em que a sua localização ficava um tanto em sítio menos visível a partir do centro urbano. Com o Estado, enquanto poder central de fora destes esquemas assistenciais, a mobilização, como estamos a ver, veio de outros lados e os concelhos foram essenciais nessas épocas. Hoje, tudo é diferente, para muito melhor, acentuamos nós. Mas temos também de confessar que as carências são ainda muitas e difíceis de debelar. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Junho 19