sábado, 2 de maio de 2009

Um dia depois de 1 de Maio

Aqui estou eu na minha varanda. O sol já se pôs, há minutos, escondendo-se, numa caminhada que o leva para o Ocidente, lá onde eu não sei onde fica, para voltar amanhã. Ontem foi dia 1 de Maio e o calendário, coordenado com a história da luta por uma vida mais digna, vem dizer-nos que é preciso parar, recordar velhos sofrimentos e partir para outros paradigmas, bem mais condizentes com a dignidade que temos o dever de abraçar e divulgar.
Olhei para esse dia com o respeito que ele me merece. Lembrei-me de quem trabalha e daqueles que perderam esse direito, ou ainda o não alcançaram. Entristeci-me com todos eles. Num caso, por saber que nada do que foi conseguido é seguro, noutro, porque a ânsia de encontrar um porto de abrigo fala mais alto que qualquer outro objectivo. Numa altura em que a liberdade de escolha está ameaçada, saber que se tem um ancoradouro dá ânimo e fortalece quem quer que seja. Mas isto não é tudo: nesta dúvida, nesta asfixiante incerteza, nada pode avançar com a pedalada que se deseja e isso não augura um mundo por aí além...
Celebrar o dia 1 de Maio serve de alento para quem sabe que pode contar com o pão salvador, mas não contenta quem o não tem. Cantar por uns e verter lágrimas por outros é o caminho que, por mais que nos doa, temos de seguir.
Ontem pensei nisso mesmo. Estranhei, condenando-o com todas as minhas forças, aquele sururu que aconteceu na manifestação da Intersindical, mas não lhe dou todo o significado da data em apreço. É lamentável que se entre pelo campo das agressões, mas temos de ver que estes tempos não vão de maré para quem sofre, para quem nada tem e pouco espera. Sem poder ser justificado, pedidas as devidas desculpas, é hora de ver que é necessário encontrar formas de resolver estas e outras situações bem complicadas e o 1º de Maio nasceu para isso mesmo.
Dele retiro a essência e sacudo a espuma. Que a crise não suporte todos os atropelos, eis um desejo e uma aspiração, sincera, serena e, sobretudo, muito pensada...
Ontem foi dia 1, amanhã será dia 3. É do futuro que quero que se fale e não de um passado que já mostrou as suas debilidades e pontos fracos. Partamos, então, em frente, que se faz tarde!

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