terça-feira, 9 de março de 2010

Adeus, Leandro

Escrevo-te esta carta, Leandro, talvez já um pouco atrasada, porque muito tenho sentido a tua falta, mas tive dificuldades em me dirigir a ti, assim na primeira pessoa, até por desconhecer a tua morada terrena, pois andas perdido nas águas do frio Tua. Sei apenas que estás em Bom sítio, que os miúdos, como tu, que tanto sofreram até chegar a este triste destino, bem merecem ir para o melhor dos lugares. É Aí que estás, de certeza.
Olha, fala-te quem vive no meio do sector do ensino. E, nesta hora, sinto-me muito mal, profundamento abatido: o meu sistema de educação falhou, porque morreu um de seus alunos, vítima duma crueldade pegada, que muito custa aceitar que ninguém tenha travado tais comportamentos absolutamente condenáveis.
Há responsáveis, de carne e osso. Nenhum deles pode descansar enquanto lhe pesar a dor de terem contribuído para que tu, caro Leandro, te tenhas atirado ao Rio.
Partiste. Deixaste-nos. Fizeste-lo, por estares abafado pela dor surda que te matou aos poucos.
A Escola toda, enquanto sistema, não pode estar também quieta e calada, como se nada tivesse acontecido. Ninguém pode atirar para canto. Ninguém, de Lisboa ao Porto, sem esquecer Mirandela.
Leandro, desculpa esta nossa falha colectiva. O teu e nosso país tem carradas de falhas e esta é uma das maiores: permitir que perdesses a alegria de viver aos doze anos é um horror que nos deve envergonhar a todos.
Perdoa-nos! Um abraço para a tua família e amigos.

1 comentário:

Ana (Ballet de Palavras) disse...

O seu blog do qual tive conhecimento pela leitura do “Público” de hoje, é pautado por uma sensibilidade que nos desnuda a alma e, traja de dor.

Desolada, desassossegada e, envergonhada é o meu estado de alma, similarmente.

Chegou o momento de determos o tempo… Fazer da sua pausa uma intensa introspecção e, avaliarmos a monstruosidade da maleficência e, inadequada acção de prevenção, auxílio a todos os “Leandros” da nossa sociedade. Pelo Leandro, tristemente, e, por todos os “Leandros” apreensivamente é nosso dever e, obrigação destituir o mal que padecem.

Independentemente de sermos pais, educandos e, ou auxiliares é nosso dever zelar pelos interesses, elucidar incertezas e, cessar os temores das nossas crianças. Crianças de pequenez tamanho mas magnificentes de alma. Não podemos pactuar permitindo o silêncio num sistema corrupto que adultera e, arruína esses direitos.

No caso do “Leandro” é urgente a sapiência e, penitencia das responsabilidades de quem não se rege pelo respeito ao seu semelhante. Sabemos que a sociedade que habitamos é permeável a falhas humanas, mas, não podemos subjugar essas falhas do mal desumano por um erro de índole maior baseado na incredibilidade do desconhecimento das acções, pessoas, insensatez e, irresponsabilidade que provocaram o acto atroz praticado pelo desespero do Leandro.

Analogamente torna-se imprescindível olhar nos olhos de todos os nossos “Leandros” e, conseguir transpor para eles a confiança inabalável que estamos presentes no auxilio e, fenecimento pela integridade física, tornando-nos assim um forte aliado no término do flagelo presente.

Ana