quarta-feira, 17 de março de 2010

Não sei se PECo...

Isto está a ferver: anda tudo em polvorosa por causa dum tal PEC, que ameaça dar cabo de todos nós. Todos? Talvez não. Há sempre uns felizardos que escapam a tudo aquilo que é mau, mas isso é mel que só chega a poucas mesas. Na grande maioria, mais que absoluta, quase total, o tal PEC começa por enganar: dizem que não aumentam impostos, mas cortam nas deduções, apesar de, muito prosaicamente, chegarem até a criar um simbólico escalão acima dos 150 mil euros de rendimento; não querem mais gente na Função Pública, mas retardam a idade da reforma; pretendem acabar com a fome e com a miséria, mas cortam nos apoios sociais; desejam mais emprego, mas levam os incentivos a dar às PME, PPPME e outras que tais; enfim, são um nosso colega Frei Tomás de corpo inteiro: olha para o que eu digo, não vejas o que eu faço...
Eu sei, cá no meu burgo de Oliveira de Frades, onde o investimento tem sido uma constante, que um qualquer PEC é necessário. Mas não é aquele que nos estão a impingir: este não é crescimento, não é estabilidade, não é futuro, não é árvore que preste - por mais que agora a defendamos -, não é flor que se cheire. Retirando tudo a quem já pouco tem de seu e de esperança, este PEC merece ser totalmente reformulado, adiado, repensado, reequacionado, triturado, queimado e só um novo pode ter pés para andar.
É preciso arregaçar mangas, vamos a isso. Mas todos e mais equitativamente. Temos de endireitar as finanças públicas, assim seja. Mas não fiquemos só pelo corte nas despesas, reanimemos as receitas. Não caiamos sobre a sacrificada classe média, ajudemo-la para que se estimule o consumo, a produção, o emprego, os fluxos financeiros, o movimento, o sangue vivo da economia, sendo que é um leigo que está a falar de tudo isto.
Com este documento, não sei mesmo se com ele PECo de todo e isso fere o meu sistema de valores, onde o PECado ainda conta alguma coisa, mesmo sem confissão formal.
Quero reerguer o meu país, mas isso tem de ser obra de todos e um outro projecto de engenharia e de arquitectura é absolutamente necessário. Mesmo que se tenham de aguardar mais alguns dias.
No meio de tudo isto, até o autismo governamental me incomoda e me revolta.
Tanto ou mais que o tal PEC.
Assim não quero PECar mesmo.

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