sexta-feira, 5 de março de 2010

O "Público" e eu próprio

Estou velho. O cabelo, parte dele, já me tinha caído em barda. O bigode tinha flores de neve, menos que as actuais. O gosto por jornais, com tanta idade quase como a que hoje tenho, talvez fruto do saudoso "Século" que tantas vezes li na loja do Ti' Manel da Ponte, era já um soboroso vício, uma incorrigível mania. Lê-los tem muito de imperioso, de repentino e não há lugar que resista a um dessas boas leituras.
Algo exigente na sua escolha, passeio-me gostosamente pelo "Expresso", sinto-me em casa com o meu "Notícias de Vouzela", recordo o "Notícias de Viseu", o "Diário" da mesma terra, na sua fase inicial, versão Fernando Abreu, não esqueço ainda o "JN", do Porto, todos estes porque bastante de mim mesmo lhe dei ou continuo, com imenso prazer, a fazê-lo, ora como corespondente, ora como colaborador, ou, muito especialmente, como elemento de equipas que lhes deram ou dão vida...
O "Público" apareceu-me, no meu dia a dia, logo na sua primeira edição. Anos a fio, devorei-o, diariamente, sobretudo de 1994 a 2005, altura em que a Papelaria Albuquerque, desde a sua sede-mãe até à nova, aquela que escondia o "Avante" para o entregar aos seus sabidos leitores e, por entre dois dedos de conversa e uma sandes de bolos de bacalhau, algum tempo antes, o amigo Zé desfiava tudo quanto sabia em termos de novidades da terra - Oliveira de Frades. Com funções profissionais ali por perto, repito, obrigatório era levar sempre, debaixo do braço, o amigo "Público".
Hoje, comemora os seus vinte anos. Parece que foi ontem que o comecei a ler. Pela ajuda que me deu, bem haja. Pelo aniversário, parabéns!
É perfeito? Nunca. Também essa qualidade não é possivel, porque esse estado de vida nunca se consegue em qualquer obra humana - por isso mesmo. Mas tem sido um jornal do seu tempo, que agora povoa menos a minha sede de páginas com tinta que suja quase os dedos, porque o "I" veio, em parte, tirar-lhe essa primazia.
Mas, por ter vivido com ele intramuros, anos e anos, tenho pelo "Público" uma estima especial.
Longa vida lhe desejo. Muito longa, aliás.

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