quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Adeus, João

Era um homem simples, mas simpático. Atencioso, delicado, acenou-nos, vezes sem conta, ora no Restelo, ora no Saldanha, sempre que por aí passámos. Ao dizer adeus, implicitamente estava a pedir-nos, pela sua atitude, que ali voltássemos, até porque, neste Portugal sisudo, cada sorriso, cada gesto destes tem muito mais encanto.
Tanto deu que se esgotou, partindo para sempre naquele adeus definitivo que ninguém controla. Mas as horas que nos ofereceu, sem greves, nem reivindicações, sem cartazes, nem tarjetas, sem um berro, nem um esgar de desagrado, reservaram-lhe, de certeza, o melhor dos lugares, lá em cima, onde pode acenar-nos, sempre, cá para baixo. Obrigado, João.
Vi-o um montão de vezes. Nunca lhe retribuí aquilo que, sem nada pedir em troca, me deu cada dia que com ele cruzei de carro, mais no Restelo, a caminho de Alcântara, que no Saldanha.
Falhei.
Peço-lhe, João, que me perdoe a falta de sensibilidade que então revelei.
Descanse em paz.
Este João, simples, fez da amizade e do sorriso, do aceno e da saudação um pouco da sua vida.
Deu-se.
Agora, na altura em que deixou de realizar o seu "ofício", resta-nos dizer-lhe adeus, num gesto de gratidão do tamanho da sua alma, que era muito grande...

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