quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um dia parado para se andar

Estive aqui eu preso na minha indolência de alguém que já não se inscreve nas estatísticas das pessoas activas e, de repente, dei por mim a pensar que uma vida assim tem pouco sentido: ela só é vida se estiver ligada a quem vive momentos de dificuldade extrema e por essa gente faz alguma coisa. Por isso mesmo, passei o meu tempo a ver se havia algo de verdade nos números da greve geral. Este foi um exercício de cidadania, mas que de pouco valeu. O governo aponta para uns míseros vinte por cento, mais coisa menos coisa; as Centrais Sindicais falam na maior greve de sempre e sobem a fasquia até ao céu, aí na ordem dos oitenta/noventa por cento...
Quis ser útil e, uma vez mais, falhei. Se todos têm a sua verdade, esta tem de estar algures, talvez no meio, na esfera do bom senso, na bissectriz das boas atitudes e decisões.
É este, então, o meu contributo à causa da greve, onde gostaria de ter estado e não pude fazê-lo, porque há estatutos que a idade ou as circunstâncias tudo anulam: dizer que é preciso encarar esta contestação como um valente puxão de orelhas a um governo mouco e cego e deixar para os sindicatos a ideia que não se foi assim tão longe quanto fizesse cair S. Bento, o Carmo e a Trindade...
O meio caminho parece-me a melhor solução. Mas há um dado adquirido, de certeza: depois deste dia 24 de Novembro, mais quentes estão as orelhas do governo e, sobretudo, as do primeiro-ministro. Esconder esta verdade, hoje reafirmada, é ser desprovido de uma qualidade que se exige a quem nos governa - ser perspicaz.
Amanhã é o dia 25 de Novembro, uma outra data histórica. Esta e o 25 de Abril são um duo inseparável, por se associarem, em grande escala, à virtude maior do nosso sistema que, mesmo com todas as suas vicissitudes, se chama LIBERDADE. E esta não regateamos, nunca.
A greve de hoje e o dia de amanhã são, em suma, peças da mesma engrenagem: uma vida em democracia, que todos devemos estimar.
Assim, que se lixem os números da greve, porque uns e outros não falam verdade!
Mas a greve falou alto e isso é o que importa.

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