domingo, 5 de dezembro de 2010

Relembrar quem assim falou

Com a morte do Professor Ernâni Lopes, já o disse, todos ficámos muito mais pobres, porque, se a crise nos depena de todo, a falta de quem fale com rigor e saber é a maior das perdas. Era assim que eu via este cidadão empenhado. Para recordar o seu inestimável contributo dado à causa das ideias e propostas, recordo umas notas que tirei de um de seus debates, não muito distante, em que interveio com os seus colegas João Duque e Medina Carreira. Falou claro, disse e mostrou em gráfico o que lhe ia na alma ( está bem dito, na alma ) e eu registei em papel rabiscado, aqui expondo, a esmo, o resultado dessa profícua recolha:
- Via útil para o futuro: onde está facilitismo, pôr exigência; vulgaridade - excelência; moleza - dureza; golpada - seriedade; videirismo - honra; ignorância - conhecimento; mandriice - trabalho; aldrabice - honestidade.
Em resumo e desta forma simples, aqui assim retratada sem busca de mais pormenores, estas foram palavras e máximas que me ficaram na memória e que partilho publicamente nesta mensagem número duzentos, que hoje vai para o ar.
Não sei se teremos coragem política para assim agir. Não sei, na medida em que nem todos temos o dom de acreditar na força do que deve ser pensado e dito. Não sei e tenho pena de o não saber, porque cada minuto que passa, em termos de tomada de decisões correctas e palpáveis, é um século de conquistas que se evapora.
Num país assim, em que tudo se atira cá para fora e seja o que Deus quiser, temos de encontrar, obrigatoriamente, a bissectriz que nos conduza ao melhor dos caminhos, a sua " via útil para o futuro ", que o passado tem muito a ensinar-nos e o presente, convenhamos, não abona muito em nosso favor. Mas desta nossa grande doença não teve culpa o Professor Ernâni Lopes, que tudo fez para vivermos de uma outra forma bem mais apetecível... Só que nós, também eu, todos temos culpa no cartório das asneiras e maluquices que quase nos vêm afundando até ao pescoço.
Em sua memória, sigamos os seus conselhos.
Viveremos um outro futuro, disso terei a certeza.
Mas só se bebermos na fonte fresca e cristalina que nos legou.
Neste postal nº 200, é assim que me vou calar. Para sentir o eco das mensagens que até nós fez chegar.

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