sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Cuidados sociais em grandes mudanças Há uma boa realidade que a nossa actual sociedade está a viver: o aumento da esperança de vida é um sinal de que a evolução não é só tecnológica, mas estende-se também ao ser humano no seu todo. Com mais vida, sucedem-se aspectos positivos e de excelência a oporem-se a outros menos desejáveis, mas que não deixam de surgir. Com mais anos pela frente, à alegria de viver juntam-se, em muitos casos, as necessidades de cuidados de saúde e sociais, quando as forças humanas entram em colapso, ou em vias disso. Institucionalmente, as instâncias governativas e legislativas, ao longo dos anos, têm tentado criar condições que possam dar respostas aos problemas que vão surgindo. Em geral, caminhou-se, em apoios sociais, pela via dos lares e centros de dia e de lazer, a maioria como IPSS ou Misericórdias, sem esquecer outras alternativas, como a entrada em acção da iniciativa privada, às vezes, de uma forma demasiado pura e dura, com todos os inconvenientes daí decorrentes. Numa outra área de actuação, as famílias assumiram, em boa medida, as responsabilidades que lhes incumbem na linha e na onda da solidariedade geracional que devia ser sempre, até aos limites da possibilidade inerente aos apoios e cuidados a ter, da sua alçada. Só que as sociedades modernas, com a sua organização social e laboral, não permitem que, a esse nível, se possa estar à altura desse ideal de vida. Na sombra, mas com uma notável dedicação e abnegação pessoal, os cuidadores informais jamais deixaram de estar à altura destes objectivos de apoio a seus familiares. Muitos são os exemplos, felizmente, que se encontram um pouco por todo o lado. De vez em quando, foram aparecendo alguns esforços no sentido de dar corpo legislativo e pecuniário a estes heróis de todos os dias e horas que, sem descanso, se doam de corpo e alma a tão nobres funções. Colocando-se ao lado dos filhos, dos pais, dos avós, dos tios e outras pessoas com laços sanguíneos, ou, a outra escala, afectivos, que deles necessitam e dependem para tudo, abdicaram mesmo de viver as suas vidas. Numa alta mudança de paradigma, fala-se agora em considerar esse trabalho como um enorme contributo dado à causa do apoio a quem o Estado não pode (nunca) abandonar. Assim sendo, sempre que este tema possa ser encarado como uma matéria a ter em linha de conta no campo das verbas a gastar com quem carece de ser apoiado a fundo, temos de ver nessas intenções de passar a incluir a rede de cuidadores informais nessas verbas um enorme passo em frente. Num outro campo, que se liga ao Ministério da Justiça, o novo Regime do Maior Acompanhado, para quem for declarado incapaz de gerir a sua vida, é outro ponto bem positivo. A terminar, a Estratégia Nacional para a Hospitalização Domiciliária (atitude a que o nosso Hospital de Viseu/Tondela pretende aderir, o que se saúda), dando atenção individualizada a cada doente no seu contexto familiar, é outro bom modelo de humanização dos serviços públicos. Pondo-se a pessoa no centro de tudo, estas novas formas de actuação, em termos de um novo olhar para os cuidadores informais e os outros modelos citados, não podem deixar de merecer o nosso aplauso e consideração. Agora, é preciso passar das intenções para a realidade. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Fev19

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