domingo, 3 de fevereiro de 2019

Lafões perdeu um homem da música nacional

Com a morte de José Lopes da Silva Lafões perdeu um vulto da sua cultura Nascido em 1937, na desaparecida Quinta do Calvel, ali entre Antelas e Santa Cruz, concelho de Oliveira de Frades, José Lopes e Silva cedo compreendeu, como dizia, pelo som da água a correr pelas serranias, pelo chilrear da passarada, que a música seria o seu destino. Deixou-nos neste mês de Janeiro de 2019 e com ele Lafões e o país perderam um grande artista, que espalhou a sua criatividade e obra por esse mundo fora. Nesta casa, neste “Notícias de Vouzela”, esteve inúmeras vezes para falar dos projectos e das realizações que ia conseguindo. Dessas suas vivências, aqui fomos dando eco. Sendo um nosso bom amigo, recordamo-lo para sempre com uma grande saudade. Tendo crescido até à idade escolar na citada Quinta, dela apenas saía para ir à escola ou à missa. Um dia, decidiu dar um passo em frente e lá foi para Lisboa, onde encontrou abrigo e trabalho, como marçano, em casa de seus familiares. Mas o seu sonho da música falou sempre mais alto. De início, ainda conciliou essas tarefas com os estudos musicais. Porém, quis dedicar-se de corpo inteiro à arte que lhe invadia toda a sua vontade. Meio dito, meio feito. Sem preocupações cronológicas, fez os estudos de guitarra clássica, no Conservatório Nacional de Lisboa, com Emílio Pujol. Com bolsas do Instituto Cultural de Madrid e da Fundação Calouste Gulbenkian, fez mais cursos em Santiago de Compostela. Em 1962, dá aulas no Conservatório de S. Paulo, Brasil. A partir de 1970, dedica-se ao estudo de música contemporânea, sendo um dos fundadores do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa e do Grupo Quadrifonia. No ano de 1972, exerce funções docentes no Conservatório Nacional de Lisboa, onde permanece durante um largo período. Participou, entretanto, em festivais internacionais diversos, tais como em Israel, Brasil, Espanha, França, Alemanha, Polónia, Finlândia e tantas outras paragens, sem esquecer, como é óbvio, o seu Portugal. Em 2012, assinala 50 anos de carreira e lança mais uma das suas inúmeras iniciativas: as Guitarríades XXI, levando-as a Lisboa, Cascais, Estoril, Santarém e outras localidades, em parcerias que foi estabelecendo com os amigos de sempre. Personalidade relevante na música portuguesa, nunca esqueceu as suas origens. Se estas foram o seu ponto de partida, a elas regressou, nos seus últimos anos de vida, para continuar a sua obra de criação de uma dimensão e nível incomparáveis. Mesmo na vazia Quinta do Calvel quis perpetuá-la para sempre em gravações que deixou para a eternidade. Com uma obra enorme, José Lopes da Silva, despedindo-se de nós, não nos deixou órfãos, que o seu legado é eterno. Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, Jan19

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