sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Breve história do dinheiro em Lafões

O dinheiro e moedas em Lafões De Roma aos nossos dias Andam noventa por cento das pessoas altamente preocupadas com a falta de moeda, isto é, de meios ou dinheiro para saldar seus compromissos. As restantes, talvez, vivam na ansiedade de saber como guardar ou valorizarem a riqueza que têm. Tudo se prende com ser ou não possuidor de uma qualquer fonte de rendimentos. Sempre assim tem sido ao longo das vidas humanas, só que com graduações ou valorizações diferentes. Ter muito ou pouco, afinal, até pode ser relativo. Vamos hoje tentar perceber que dinheiro foi havendo no bolso dos nossos antepassados e nos nossos, na actualidade. Felizmente que a arqueologia nos tem dado respostas quanto a esse importante tema, por aqui, sobretudo desde o império romano. Mas a moeda, enquanto tal, já carrega muitos mais anos no seu historial e isso pode comprovar-se em várias partes do mundo, desde há milénios. Antes, porém, de existir o metal e a sua transformação em moeda propriamente dita, as trocas directas, o escambo, eram a regra geral. Dava-se isto em troca daquilo. Como se compreenderá, com a evolução dos tempos e a complexidade das transacções, esses métodos começaram a revelar-se impossíveis de pôr em prática. Enquanto se precisava de um pouco de farinha ou um naco da carne, tudo fácil. O pior foi quando se teve de adquirir um touro e na outra parte só se poderia avançar com galinhas e ovos. Quem diz isto, facilmente imaginará outros negócios.... Sendo fascinante a história do dinheiro e do seu valor, não precisamos de recuar muito tempo, talvez apenas umas décadas para ficarmos a saber, como acontecia nas nossas terras, que tudo se resumia a um bom par de notas e não eram sequer de mil escudos, mas de 100. Por um vitelo (e tinha de ser bom), 7 desses pequenos papéis já faziam uma grande festa. Por uma courela, igualmente. Hoje, aos preços actuais, com 3.5 euros, ou seja o equivalente aos tais 700$00, pouco mais se adquire que um mero jornal. Convém nunca se tirarem ilações directas. Nessa altura, os ordenados andavam na ordem dos poucos escudos por dia e, em 2020, é o que é. Só se compreende o valor do dinheiro, mais ou menos, se virmos o que com ele se pode adquirir e mesmo assim nunca se podem tirar lições muito certas ou até adequadas. Esta longa introdução tem a ver com o facto, por exemplo, de, numa obra de Jorge Adolfo M. Marques, “ Lafões – História e património, Edições Esgotadas, Viseu, 2014”, termos encontrado uma serie de moedas que se podem observar, nomeadamente, nos museus municipais de Oliveira de Frades e Vouzela. Antes de prosseguirmos com mais considerações, que as vamos fazer a propósito da evolução do dinheiro ao longo dos tempos, vamos ver as “riquezas” que então por aí se vêem: um denário de T. Carisius, 46 aC, oriunda do Castro da Coroa, Museu Municipal de Oliveira de Frades (MMOFR); um outro de Tibério (14-37), idem; um de Augusto (2aC-4aC), MMOFR; outro de Cláudio (41-45), Idem; um asse de Augusto (27-14aC), Museu Municipal de Vouzela (MMVZL); um de Tibério (14-37), Idem; um Antoniniano Galeno (266), Castro da Cárcoda; um follis de Constantino (320-324), MMVZL; um outro, série urbana (330-331), idem: dois follis do Constâncio (355-361), Castro da Coroa, MMOFR; uma moeda do Imperador Arcádio (388-392), idem. Refere-se, neste mesmo livro, que em Viseu foram cunhadas duas moedas visigóticas. Já agora, para não sairmos destas mesmas eloquentes páginas, abordemos uma curiosidade relacionada com o Foral de Lafões e com o pagamento das portagens: para uma carga maior, transportada no dorso de um cavalo ou mula era um preço, para uma menor, em burro, um valor inferior e ainda menor se fosse carga costal. Vinagre, sal, carneiros e outros animais, toucinho ou marrão, pescado ou marisco, castanhas, laranjas e outras frutas, azeite, escravos, panos, cera, mel, couros, peles, aço e metais, telhas, louças, moinhos e mós, etc, tudo era taxado. Entretanto, ficavam isentos os seguintes produtos: pão cozido, queijadas, biscoitos, farelos, ovos, leites, farinha para moer, canas, vides, carqueja, tojo, palha, vassouras, pedra, barro, lenha, erva, carne e certos panos. Importa dizer-se que tudo se pesava em quintais, arrobas e arráteis e suas respectivas porções e tudo se media em almudes (líquidos) e alqueires (cereais) com as suas divisões. Uma breve viagem pela marcha das trocas e do dinheiro Aqui chegados, vamos ter de recuar cerca de 10000 anos para nos depararmos com o gado como moeda de troca. Houve, entretanto, as conchas, os grãos, o sal (que já se usava para esses fins no império romano e os portugueses seguiram tal exemplo muito depois), a servirem também como meio credível de pagamento. Na vanguarda das inovações, a China apareceu com as suas primeiras moedas em bronze 1000 anos antes de Cristo, enquanto que, na zona da actual Turquia, surgiram em 610aC as de prata e ouro. O papel em cédulas nasceu também na citada China (618) e o primeiro banco europeu na Suécia em 1657-1661. Com a moeda a só ter interesse se tiver aceitação generalizada, ela é vista como meio de troca, de unidade de conta e reserva de valor. Nos nossos dias, já tivemos o escudo e agora o euro. Antes da república, o real e, antes deste, os morabitinos... Ontem foi de metal. Deu o salto para o papel, agora para os cartões e já se caminha para o seu desaparecimento físico, palpável, sabendo-se que há valor mas apenas quase na nossa imaginação. Pouco falta para o dinheiro ter de passar, praticamente, para um acto de fé. Ou se acredita que o há, ou não... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Dez 2020

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