segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Conterrâneo de S. Pedro do Sul com longo sofrimento na 2 GG

Sampedrense em duro sofrimento na Segunda Grande Guerra No conflito que agitou praticamente todo o mundo entre 1939 e 1945, a II Grande Guerra, não teve oficialmente Portugal presente nos teatros das operações, pelo menos em território europeu, que no então Ultramar há a registar vários confrontos, como aqueles que aconteceram em Timor, por exemplo. Com uma aparente e confessada neutralidade, a política do Estado Novo foi a de ficar de fora, mas a dar sinais às partes em confronto, aliados, por um lado, e as forças do eixo, por outro, que ora estava num ponto do campo, ora noutro, ainda que se tenha notado uma maior aproximação aos exércitos alemães, como se pode ver com a exploração mineira, sobretudo, do volfrâmio, pelo menos até 1943, ano em que acabámos por ceder a Base das Lajes aos americanos e ingleses. Uma outra área em que veio a intervir directamente foi a da permissão da estadia de espiões que se passeavam por Lisboa e Cascais às mil maravilhas. No entanto, em termos militares, o nosso país pôs-se ao lado, aliás, um pouco até como consequência do Pacto Ibérico (1939) para uma não agressão entre Portugal e a Espanha. Mas houve momentos em que a tal neutralidade esteve por um fio. Não é, porém, da história geral deste período negro que queremos hoje falar, muito embora os números e os horrores vividos sejam de, ainda hoje, nos parecerem uma coisa de outro mundo, tal a selvajaria que os caracteriza. Com base na revista “Visão História”, nº44, de Novembro 2017, onde colhemos as informações que aqui estamos a tratar, contam-se, tragicamente, 80 millhões de mortos, cerca de 20 milhões de vítimas do holocausto, milhões de prisioneiros em mais de 40 mil campos de concentração, 1 milhão e 600 mil em trabalhos forçados, dos quais 450 mil mortos. É neste último capítulo, o dos trabalhos forçados, que vamos buscar um sampedrense que viveu esses trágicos tempos. Foi essa referência, muito pessoal, que nos captou a atenção. Nessas ondas de atroz sofrimento eram rostos de pessoas que ali estavam, ainda que, à mão dos alemães, assim não fossem considerados. Num excelente trabalho de pesquisa, ainda em curso, a Universidade Nova de Lisboa já encontrou alguma dessa nossa gente que teve essa triste sorte. Entre os casos já tratados, aparece Paulo da Silva, de Valadares, S. Pedro do Sul, cortador de pedra de lava em Volvic (França), país onde trabalhava. Assim, em Março de 1944, foi preso e levado, depois, em Abril, pela GESTAPO para a Alemanha. Antes, tinha sido sido ferido numa perna. Crê-se que pertencia ao grupo dos resistentes, porque, no momento da sua prisão, vivia num Hotel da família Martinon, onde se acolhiam aqueles que lutavam pela liberdade francesa. Embarcou num comboio que tinha como destino o campo de concentração de Neuengamme, onde ficou, no bloco 11, até 25 de Maio de 1944. Passou depois por Wobellin, de onde foi libertado pelas tropas inglesas em 2 de Maio de 1945. Regressou, de novo, a Volvic. Narra-se, no destaque que a Visão dá a Paulo da Silva, que, aquando da sua prisão, o vice- Cônsul de em Vichy fizera diligências no sentido de denunciar esta situação, mas não evitou que tivesse seguido tão duro caminho na sua vida. Vivendo como que enterrados vivos, muitos foram aqueles que não resistiram à exigência dos trabalhos que tinham de executar em condições miseráveis, de fome, e de extrema agressividade, para além dos efeitos de um clima altamente adverso. Felizmente, Paulo da Silva logrou regressar ao seu ponto de partida, a França, mas não sabemos se alguma vez voltou à sua terra, Valadares. “Condenado” aos duríssimos trabalhos forçados, ou teve muita sorte, ou a sua resistência fez com que não tivesse perecido, o ponto final tantos de seus companheiros de desgraça. Se alguns desses trabalhadores estrangeiros na Alemanha aí chegavam por força de alguns engajadores, vimos já que com o nosso conterrâneo assim não aconteceu. Apanhado nas malhas da luta pela resistência, sinal da sua já notória consciência política e inserção na sociedade francesa e na comunidade onde vivia, estava naquele local na hora errada. E daí partiu para o terror dos campos alemães. Comprova-se, com este exemplo e muitos mais, que alguns portugueses, de certa forma e nalguma medida, não ficaram imunes a esta tragédia mundial, de 1939 a 1945. Com os testemunhos recolhidos nesta investigação, vê-se bem o que de trágico eles viveram. Paulo da Silva foi um desses heróis, ido de Valadares para tão negro destino. Recordar esta passagem da sua vida é relembrar um dos períodos mais dolorosos e dramáticos de toda a história (des) humana. Para memória futura, aqui deixamos esta curta descrição e a nossa humilde homenagem. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”

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