sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Campanha de vacinação e alguns dados históricos

Prestes a começar uma monumental campanha de vacinação Na vida humana, dois séculos foram determinantes em várias doenças Há cerca de um ano, o mundo acordou com um perigo universal para a sua saúde. Vindo da China, o coronavírus, a Covid 19, para mais fácil entendimento, accionou todas as campainhas de alarme, em vagas sucessivas e palmo a palmo pelo mundo fora. De repente, veio ter com a Europa, caiu em nossas casas, saltou o Atlântico e o Pacífico, espalhou-se por toda a América, pela África, pela Oceania, sem deixar qualquer espaço sem a sua força destruidora. A saúde de milhões de pessoas foi afectada, a morte ceifou imensas vidas, de uma forma assustadora e cruel, sem a possibilidade, sequer, de se fazer qualquer luto. As relações humanas e sociais ficaram e estão altamente abaladas, as famílias separadas e o desânimo anda por aí à solta. Descontrolada está também a economia. Enfim, esta pandemia deixou-nos de rastos e continua a avançar por aí, em mutações sucessivas como esta que agora apareceu no Reino Unido, talvez, dizem, ainda mais perigosa. Sem medicamentos de cura, com os serviços de saúde a fazerem sacrifícios incríveis para salvarem vidas, a esperança, desde logo, veio a apontar no sentido da descoberta de uma vacina milagrosa, eficiente, credível, segura e sem efeitos secundários. A ciência mobilizou-se por todo o planeta. A comunidade sentiu, ela toda, que era por aí o caminho. Muita gente se atirou de corpo e alma para as experiências, para os laboratórios e a sua voz começou a ser ouvida, estimada e desejada, regra geral, salvo algumas excepções que nos horrorizaram a todos. Sem menosprezar ninguém, deixem que aqui se registe o nome de Henrique da Veiga Fernandes, um nosso conterrâneo de Viseu, que muito se tem destacado neste sector na Fundação Champalimaud. Finalmente, em tempo recorde, eis que, ao fundo do túnel, já vemos agora uma luz retemperadora, cremos nós. Com a BioNTech Pfizer, por um lado, a Moderna, também, e algumas outras hipóteses, as vacinas por todos ansiadas parecem estar no rasto da nossa salvação. Pelo meio, nada deste processo está isento de dúvidas, medos, incertezas e medos. Convém que se diga que todas as vacinações anteriores sofreram do mesmo mal. Se até ao século XIX, sobretudo com Pasteur e Koch, apenas as mezinhas populares e uns tantos assomos de medicamentos mais científicos eram os remédios encontrados, em campanhas de vacinas nem sequer se falava, propriamente dito. Diremos então que os séculos XIX e XX foram essenciais e determinantes em descobertas e suas aplicações, estas, muitas vezes, debaixo de críticas e mil intrigas. Para nos apercebermos de quão demorada foi a entrada em cena, com generalizada atenção e crédito, das primeiras campanhas de vacinação à escala mundial, é o ano de 1956 que faz toda a diferença, quando se tentou combater a varíola, que, na Europa, por exemplo, tinha um índice de mortalidade entre 8 a 20%. Aliás, logo nos princípios do século XIX esta doença motivara as primeiras tentativas a este propósito. Uma personalidade destacada, ainda no século XVIII, em 1768, Catarina, a Grande, na Rússia optou por ser vacinada, ela que vira o sofrimento do marido, entretanto assassinado. Retomando as referências a Pasteur, foi contra esta maleita que iniciou os seus estudos e testes em animaiais domésticos, as suas galinhas e ovelhas, mas é a anti-rábica, em 1885, que se torna a sua maior coroa de glória. Por sua vez, Koch, em 1882, isola e identifica a bactéria causador da tuberculose, um outro passo de grande importância para o mundo e mesmo assim ela continuou pelos tempos fora, como se viu no nosso Caramulo, até cerca de meados dos anos 1900. Com várias frentes nestes combates, a polimielite, de que sofria o Presidente dos EUA, F. D. Roosevelt, e mais tarde a Hepatite B (1981), o sarampo, a papeira e a rubéola, estas três doenças combatidas com uma só vacina (1987), foram outras degraus da escada que tem vindo a ser subida muito devagarinho e com todos os cuidados possíveis. O que se vem fazendo em Portugal Data do ano de 1965, o PNV – Plano Nacional de Vacinação – em Portugal, destinado a travar uma ampla frente em que se englobava a polimielite, a tosse convulsa, a difteria, o tétano e a varíola, estando, hoje, a lutar-se contra 12 agentes. Quanto ao sarampo que aparecia em surtos de dois em dois anos, lança-se a rotina da vacinação aos 15 meses de idade, a partir de 1974. Em 2006, face a um novo flagelo, passa a vacinar-se a doença do HPV, o cancro do colo do útero. Se o imperador chinês já fizera uma inoculação por volta de 1600, naquilo que ficou conhecido como a variolação, vamos agora entrar na fase da renhida batalha contra a Covid 19, dizem que a partir do próximo dia 27 deste mês, em acção coordenada em toda a União Europeia, passando, depois, no primeiro semestre de 2021, o nosso país a ter a batata quente da sua distribuição em massa, na altura em que preside ao Conselho Europeu. Como sempre tem acontecido, já se ouvem as vozes cépticas de muitos e variados movimentos anti-vacinação. Em contraposição, anuncia-se que estão a ser reforçados os mecanismos de segurança e controle, como muito bem têm vindo a alertar o novo Coordenador Nacional desse Plano, a Direcção-Geral de Saúde e todas as diversas entidades científicas e políticas que estão ligadas a estas questões. Diz-se que a resposta para a erradicação da Covid 19 está nas vacinas, mais do que nos remédios que ainda se não conhecem, sequer. Importa é que tudo aconteça com normalidade e com altos e bem definidos critérios a aplicar em cada tempo e em cada sector da sociedade, sabendo nós que há prioridades a seguir, como é lógico e humanamente aceitável. Que a sucesso nos acompanhe, que dele bem precisamos. Carlos Rodrigues, in “Noticias de Vouzela”, Dez 2020

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