quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Carvalhal de Vermilhas uma terra pequena mas com grande corpo histórico

Carvalhal de Vermilhas com lugar na história Terra pequenina, mas dela rezam os livros e com boas razões CR De vez em quando, gostamos de dar uma volta pelas lombadas dos livros que temos espalhados um pouco pelos diversos cantos da casa. Para não esquecer essas riquezas, nada melhor que essa operação de miradela sobre tais obras, umas que nos falam mais ao coração, outras à razão. De repente, lá nos apareceram os “ Apontamentos históricos sobre Carvalhal de Vermilhas, de Artur Pereira Martins, em edição do Município de Vouzela e da então Junta de Freguesia, 2007”. Com este trabalho, foi logo a emoção que veio ao de cima, a fazer lembrar tarefas ali desempenhadas nos anos oitenta do século passado. Juntou-se, depois, a vontade de redescobrir, pela investigação, esse território serrano, que no Caramulo tem parte da sua carga genética. Costuma dizer-se que dos pequeninos não reza a história, mas esta localidade desmente, de uma penada, esse provérbio popular. Talvez assim fosse antes do nosso Fernão Lopes ou do francês Marc Bloch, que, separados por séculos, vieram dizer-nos que o povo também é agente e sujeito do presente e do futuro que todos ajudamos a construir. Quanto a Carvalhal de Vermilhas, há todas as razões e mais algumas para que assim seja, desde que por ali andaram os povos pré-históricos, que nos legaram a monumental anta da Lapa da Meruje e também a da Malhada do Tojal Grande, já desfeita, aos romanos que povoaram os montes de inscrições diversas. Mais padastros foram os homens que vieram depois, porque se esqueceram de fazer estradas, pelas quais tanto lutou, na sua diáspora, o Artur Pereira Martins e tantos outros seus conterrâneos. Metida esta freguesia no meio da Serra, antes de ser autónoma, pertenceu a Cambra, onde voltou há tempos pela Lei n.11-A/2013, a célebre e bem contestada legislação das uniões de freguesias. Aos poucos, já no século XX, não teve uma, mas três escolas, uma no Carvalhal, que já tivera uma outra, uma em Vermilhas e, por fim, uma terceira a meio destes dois emblemáticos lugares, política também seguida para a construção da sua sede da Junta de Freguesia. Porém, antes, em 1884, fora instituída a cadeira da instrução primária Com referências em variados documentos nacionais, viram-se neles inscritos estes lugares do Carvalhal e de Vermilhas, nas Inquirições de 1258, no Cadastro de 1527, nas Memórias Paroquiais de 1758, entre outras páginas. Com picos populacionais nos anos de 1864 (569 habitantes), 1878 (641), 1890 (619), 1900 (631), 1911 (648), 1920 (604), 1930 (615), 1940 (624), inicia-se, desde esta data, uma curva descendente em matéria de residentes, para, em 2011, atingir o nível mínimo de 215 habitantes, havendo em 1950 (574), 1960 (522), 1970 (406), 1981 (309), 1991 (277), 2001 (229) e, como vimos, 2011 (215), número este inferior às 255 pessoas de 1758 em 65 vizinhos. Com a Igreja, dedicada a S. Simão, a ser construída em 1770 e o Cemitério em 1868/1869, conseguiu-se aqui pôr de pé uma residência paroquial em 1911, o que prova, com estes equipamentos, um desejo de afirmação e uma vontade de erguer uma identidade, forjada no querer e na vontade de seus habitantes. Pela triste marcha decadente dos diversos censos populacionais que se vem observando de dez em dez anos, a chaga do despovoamento é o maior dos problemas que aqui, tal como em tantos outros locais, se verifica. Mas, em Carvalhal de Vermilhas, as falhas foram uma constante durante séculos. Tanto assim é que, a propósito da fundação da Associação dos Amigos de Carvalhal de Vermilhas, datada do ano de 1964, onde não havia nem escola, nem electicidade, nem estrada, assim escreveu Artur Pereira Martins: “... A criação desta colectividade foi um grito de revolta, p. 76”, porque era grande o descontentamento perante tantas carências. Mas, entretanto, a freguesia de Carvalhal de Vermilhas, ainda que agora em união com Cambra, foi dando bons saltos, sobretudo a nível cultural. Com o seu nome a correr mundo, desde os anos 60 do século passado, pela dança e pelas vozes do seu Rancho Folclórico, parte do caminho feito fica a dever-se a essa instituição e ao saudoso “Zé do Terreiro”, de tão boa e gratificante memória. Outras páginas, um novo futuro Pegando nestas boas raízes, que em terra de carvalhos outra coisa não poderia ser, apareceu o Ecomuseu de Vermilhas, a Binaural-Nodar soube aqui construir projectos de alta qualidade, tais como o “Lugar sentido: Carvalhal”, de Cátia Rebelo e Luís Costa, e o CD/Livro “ Entre o campo e o céu”, tudo isto em franca cooperação com a nova Associação e com o Grupo de Cantares. Paralelamente, em acção do Município de Vouzela, aprofundou-se o estudo da anta da Lapa da Meruje, modernizou-se o espaço em volta, ligando-o à Barragem ali construída, dando-lhe uma feição turística, recreativa e cultural que fazem daquele local um novo pólo de atracção e de fruição das suas múltiplas valências. Anos antes, a nova estrada de ligação a Alcofra abrira novos horizontes, fazendo destas terras não apenas lugares de chegada e partida, mas também pontos de passagem para outras margens, nomeadamente no domínio dos transportes públicos. Com estas novas pedaladas, deseja-se e espera-se que Carvalhal de Vermilhas se atire para o futuro que passado tem-no e de bom quilate. Com a força que lhe pode trazer a sua integração no Parque Natural Vouga-Caramulo, com a dinâmica que se vem sentindo, há aqui matéria-prima e capacidade para se ir mais longe e mais alto, mesmo para cima dos 850 metros de altitude que estas terras ostentam na sua localização geográfica. Vamos a isso. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Dez 2020

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